Sánchez aproveita debate para atrair eleitorado à sua direita

O único momento de debate antes das eleições legislativas de domingo concentrou-se na Catalunha. Líder do PSOE propôs compromisso para que partido mais votado fosse empossado, mas foi ignorado.

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A menos de uma semana das eleições, líderes partidários reforçaram as suas posições Reuters/SUSANA VERA

O líder do Partido Socialista espanhol (PSOE), Pedro Sánchez, aproveitou o único debate antes das eleições de domingo para se aproximar do eleitorado à sua direita, sobretudo na questão catalã. É com esta estratégia que o provável vencedor das legislativas em Espanha espera superar um novo impasse parlamentar apontado pelas sondagens.

Logo no início, Sánchez começou por propor um entendimento prévio aos seus adversários para que se comprometam a permitir que o partido mais votado possa formar Governo, insistindo na obsessão em governar a solo, como já aconteceu das eleições de Abril. Mas a proposta foi ignorada pelos restantes líderes partidários, cada vez mais embrenhados nas suas lutas particulares.

À procura de expandir o seu eleitorado à direita, Sánchez endureceu a posição face ao independentismo catalão, prometendo, por exemplo, “acabar com o uso sectário da TV3 [o canal público da Catalunha] pelo independentismo”. O socialista disse ainda ser favorável a uma revisão do Código Penal para que seja incluída uma proibição a referendos ilegais.

Ao mesmo tempo, Sánchez atacou o Partido Popular (PP) acusando o Governo de Mariano Rajoy de ter “deixado escapar” o ex-líder da Generalitat, Carles Puigdemont, que está fora de Espanha desde a declaração de independência no parlamento catalão, no final de Outubro de 2017.

Porém, rapidamente o líder do Executivo percebeu que o terreno catalão pode parecer atraente para adoptar uma retórica forte, mas é também escorregadio. Não esclareceu se o PSOE exclui entendimentos com os partidos independentistas no Congresso de Madrid e ficou mudo perante a insistente pergunta do líder do PP, Pablo Casado: “Quantas nações há em Espanha?”

Notando a aproximação de Sánchez à direita, o líder do Unidas Podemos, Pablo Iglesias, pediu-lhe para não ir ao encontro das posições “ignorantes e agressivas” para a questão da independência da Catalunha. “Vocês competem para ver quem tem a medida mais dura”, disse Iglesias, embora sem apontar soluções mais concretas do que “dialogar” e “actuar com inteligência”.

O partido de esquerda radical está ameaçado pelo recém-criado Mais País, fundado por Iñigo Errejón, antigo aliado de Iglesias, e renovou o desafio para governar em coligação com os socialistas. “A direita discute muito entre si, mas não tem dúvidas em governar em coligação, a ver se aprendemos”, disse Iglesias dirigindo-se directamente a Sánchez.

Cidadãos em queda

À direita trava-se uma luta pelos despojos do capital eleitoral do Cidadãos que continua a sua queda livre rumo à irrelevância política. O debate de segunda-feira era a derradeira hipótese para Albert Rivera manter alguma esperança em conter a esperada sangria de votos para o PP e para o Vox. O momento mais destacado pela imprensa espanhola ocorreu quando Rivera mostrou uma pedra de calçada que usou para simbolizar a violência dos manifestantes independentistas contra a polícia.

Já o líder do PP, Pablo Casado, concentrou-se em ataques dirigidos a Sánchez, mas também não deixou de visar Rivera, esperando continuar a retirar-lhe votos. O PP é, de acordo com as sondagens, um dos partidos que mais deverá subir nas eleições de domingo, embora sem conseguir beliscar a liderança do PSOE.

O Vox, de extrema-direita, é outra das formações que espera ampliar os ganhos no domingo. Santiago Abascal pareceu o líder menos tenso durante o debate, diz o El País. Prometeu ilegalizar os partidos independentistas catalães ou o Partido Nacional do País Basco (PNV) e voltou a pedir a prisão do presidente do governo catalão, Quim Torra.

Os sinais dados pelos líderes à direita reforçou a hipótese de um entendimento pós-eleitoral, que poderá passar por uma coligação entre PP e Cidadãos com apoio parlamentar da extrema-direita, à semelhança do que acontece em algumas comunidades autónomas. 

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