Uma lesão lucrativa e o novo mundo dos Warriors na NBA

E se a lesão do melhor jogador da equipa puder vir a ser, afinal, a médio prazo, uma boa notícia? Os Golden State Warriors podem ter conseguido um “jackpot” e a hipótese de darem a volta a um duro revés, imitando os San Antonio Spurs de 1997.

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Curry lesionou-se e estará afastado da competição durante, pelo menos, três meses Reuters/Kyle Terada

É difícil convencer alguém de que uma lesão prolongada no melhor jogador pode ser benéfica para uma equipa. Mas os Golden State Warriors, da NBA, podem, perfeitamente, ser um exemplo desta premissa estranha, mas, em tese, bem real.

Há cinco dias, no terceiro período do jogo frente aos Phoenix Suns, Stephen Curry chocou com Aron Baynes e, na queda, o gigante australiano, de 118 quilos, “aterrou” em cima da mão esquerda do base dos Warriors. Lesão grave na mão, cirurgia e, no melhor cenário, três meses fora de competição. Triste para o jogador? Sem dúvida. Desolador para os adeptos? Certamente. Terrível para a equipa? Talvez não. Pelo menos, a médio prazo. Por mais triste que seja verem a lesão de Curry — e assistirem a uma temporada pouco entusiasmante —, os Warriors podem, inadvertidamente, ter recebido um “jackpot”.

Para esta temporada, o clube já tinha feito uma mudança na estratégia, já que, depois de perder a estrela Kevin Durant, optou por “caçar” um jovem talentoso, D’Angelo Russell, para emparelhar com Stephen Curry, Klay Thompson e Draymond Green. Mas Thompson, já se sabia, dificilmente seria útil nesta temporada, devido a lesão. 

Os Warriors delinearam, portanto, um plano a médio prazo: ver como se enquadrava Russell e, no Verão, tomar uma decisão, que passaria por manter o base de 23 anos ou trocá-lo por uma “truta”, mantendo, para 2021, uma equipa com quatro jogadores All-Star. Até porque poucos acreditariam que, sem Klay Thompson, apenas Curry, Russell e Green conseguissem levar a equipa à sexta final consecutiva na NBA.

A ideia era desenvolver, no presente, para voltar a ganhar, no futuro. Com a lesão de Curry, pouco mudou. E, a ter mudado, foi para melhor. Primeiro, porque retira pressão a uma equipa da qual já não se espera nada, o que permitirá fazer crescer os jovens, sob a batuta de Draymond Green, o “adulto na sala”. Depois, e mais importante, porque, sem Curry, a equipa pouco mais é do que sofrível. Com um recorde de vitórias que se prevê fraco, entra em cena o factor sorte: é que as equipas menos bem classificadas têm maiores probabilidades de, em sorteio, conseguirem uma lottery pick alta, ou seja, de terem direito a, no próximo draft, “atacarem” os três principais talentos recém-chegados à NBA.

Num ápice, fruto de uma lesão da sua estrela, os Warriors passaram de uma equipa para tentar chegar aos playoffs — não mais do que isso — para uma organização capaz de, no próximo Verão, ter Thompson, Curry, Green, Russell e, potencialmente, um dos três jovens mais talentosos a chegarem à Liga. Mas há outra boa possibilidade: caso Russell não convença e a fornada do draft não impressione os Warriors, a equipa poderá ter boas moedas de troca — Russell, uma potencial lottery pick alta ou até as duas coisas. E isto, em teoria, é suficiente para captar um jogador de topo e ter equipa para atacar o título.

Ainda é cedo para dizer se esta lesão irá ser, claramente, um ganho. Mas o cenário cinzento que a lesão traçou pode, no limite, gerar uma das mudanças de rumo mais rápidas e mais espectaculares na história da NBA, já por si pródiga neste tipo de “sobe e desce” entre as equipas.

E, para os mais cépticos, convém lembrar que, em 1997, os San Antonio Spurs fizeram tanking — forçar maus resultados — para terem a primeira escolha do draft seguinte. Foram buscar Tim Duncan e, aí, começou uma era na NBA.

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