Quando dermos por ela, passaram os dois primeiros anos da legislatura

O ano de 2020 vai ser muito marcado pela política interna e partidária. Em 2021, a marca será outra: a presidência do conselho da União Europeia.

Os quatro anos da “geringonça” foram amenos. A temperatura subiu algumas vezes (sobretudo durante o caso da crise dos professores que levou a ameaças de demissão do primeiro-ministro) e gelou outras (como aconteceu durante a discussão em torno da Taxa Social Única), mas no essencial o clima político esteve longe de ser crispado.
Começa agora uma legislatura em que se prevêem temperaturas muito mais extremas e fenómenos climatéricos atípicos. Há, desde logo, umas nuvens negras que vão ameaçar o bom tempo. Mas dessas todos estamos à espera. A contracção da economia europeia, o desfecho do “brexit”, a guerra comercial entre os EUA e a China e o arrefecimento da economia alemã são algumas das variáveis externas que podem contribuir para uma frente fria em Portugal. 

Cá dentro, há outras. A futura liderança do PSD, o desgaste do CDS, o crescimento de pequenos partidos à direita da direita tradicional, os sucessores no PS e a erosão do PCP são exemplos de nuvens — só não sabemos se serão negras ou passageiras. 

É o CDS, em pleno Inverno, que primeiro vai tentar a sua sorte no congresso electivo marcado para 25 e 26 de Janeiro, em Aveiro. O líder que vier a ser eleito — está difícil alguém influente avançar com uma candidatura — sabe que vai ter de fazer uma espécie de travessia no deserto, não no sentido de se afastar da política, mas no sentido de poder vir a fazer um mandato de dois anos sem se perspectivarem eleições. 

Ainda no final do Inverno, quase a fazer a transição para a Primavera, também o PSD vai a votos. Neste partido, a luta pelo poder é mais visível e as temperaturas vão aquecer. Rui Rio, Luís Montenegro e Miguel Pinto Luz já se posicionaram para as eleições internas, cuja data está por marcar. Entre os oponentes que ainda podem surgir está também Miguel Morgado. Destes quatro, só Rio terá assento na Assembleia da República enquanto durar a legislatura — durante a qual haverá pelo menos outro congresso do PSD, em 2022, que pode ser bastante mais decisivo.

Mantendo o ritmo das estações do ano, algures no final da Primavera, também o PS terá uma reunião magna. A discussão sobre a sucessão de António Costa pode ser prematura, mas não é mais do que era em 2018, quando o secretário-geral do PS congelou as candidaturas embrionárias de Pedro Nuno Santos e Fernando Medina. O 23º Congresso pode ser mais morno, mas terá certamente momentos de alta pressão.

Chegados ao Outono, a grande dúvida será sobre se os ventos de mudança atingirão o PCP (que se reúne em congresso de quatro em quatro anos) ou o Bloco de Esquerda (que deverá realizar a sua convenção em Novembro). Se no caso do PCP a sucessão de Jerónimo de Sousa (há 15 anos na liderança) parece ser um assunto em cima da mesa, no Bloco não há, ainda, sinais de turbulência. Nos seus sete anos à frente do partido, Catarina Martins teve alguns dos melhores resultados de sempre.

Por força destas reuniões, o ano de 2020 vai ser muito marcado pela política interna e partidária. Em 2021, a marca será outra: a presidência do conselho da União Europeia, que Portugal assumirá no primeiro semestre.

Quando dermos por ela, passaram os dois primeiros anos da legislatura.

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