Mascarados contra o estigma, os engraxadores bolivianos impõem respeito

©Federico Estol
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Quando saem de casa, nos arredores de La Paz e El Alto, na Bolívia, nem as famílias sabem aonde se dirigem. É segredo. Assim que chegam à baixa das grandes metrópoles, as máscaras de esqui que colocam sobre o rosto são as suas melhores amigas. Pela indumentária, muitos poderiam pensar que o seu ofício estaria relacionado com o mundo do crime. Mas a realidade é outra. Em busca de clientes, os cerca de três mil homens e mulheres percorrem as ruas na esperança de poder engraxar os sapatos de alguém. Literalmente. Eles são engraxadores de sapatos, uma profissão que é olhada pela sociedade boliviana como pouco digna. Chamam-lhes, depreciativamente, os lustrabotas.

Shine Heroes, do fotógrafo Federico Estol,  descreve um "fenómeno social" tipicamente boliviano. "Eles são vítimas de discriminação", pode ler-se na sinopse do projecto de Estol, dirigida ao P3 pelo Festival Internacional de Fotografia Encontros da Imagem, que distinguiu a série na actual edição do concurso Emergentes. "A máscara transformou-se na sua identidade", continua, "o que os torna invisíveis e, ao mesmo tempo, os une". O "anonimato colectivo" torna-os capazes de realizar a tarefa diante do olhar sobranceiro da sociedade boliviana.

Durante três anos, o fotógrafo uruguaio Federico Estol colaborou com cerca de 60 engraxadores de sapatos associados a um jornal que criaram, El Hormigón Armado, que significa "betão armado", em tradução livre – mas que contém em si um jogo de palavras com a palavra formiga, conferindo um segundo sentido de "formigas armadas". Foi com esse grupo de engraxadores que, durante workshops de "narrativa gráfica", "desenhou" todas as cenas que fotografou. Shine Heroes resulta num "ensaio fotográfico de cariz participativo", cujo principal objectivo é lutar contra o estigma.

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