Arquitectura
O brutalismo jugoslavo pode renascer com o turismo
Quem viaja pela auto-estrada que liga o aeroporto de Belgrado ao centro da capital sérvia repara, invariavelmente, nas duas torres de betão armado que rasgam o horizonte. As duas Torres Genex, como são conhecidas, estão interligadas por uma ponte aérea que dá acesso ao restaurante giratório, de aspecto alienígena, que está no topo de uma delas. A aparência invulgar do edifício de 1977 torna-o um dos pontos turísticos de maior atracção da cidade. "Existem dezenas de pessoas interessadas em fazer a nossa tour dedicada aos edifícios de Belgrado dos anos 50 a 80", explica Vojin Muncin, o gerente da agência de viagens sérvia, de nome Yugotur, à Reuters. "E a Genex é um dos exemplares mais interessantes", garante. Apesar de ser um dos mais proeminentes exemplares do estilo arquitectónico brutalista, anos de negligência ditaram o abandono e a desocupação de uma das duas torres. O restaurante já está encerrado desde meados dos anos 90. Este foi, até ao presente, o destino de muitos destes blocos de betão armado.
Mas o ressurgimento do interesse pelo brutalismo pode vir a alterar o curso desta realidade. Edifícios que foram, durante décadas, deixados ao abandono e até, em muitos casos, demolidos podem encontrar nova vida se o turismo assim o determinar. Tal é a procura e o interesse que, em Belgrado, as autoridades consideram abrir ao público, permanentemente, outra obra do brutalismo jugoslavo: o edifício governamental Palata Srbija, que abre, actualmente, apenas uma vez por ano. A Reuters considera que o renovado interesse por este tipo de edifícios poderá ter tido origem na exposição do Museu de Arte Moderna Concrete Utopia: Architecture in Yugoslavia, 1948-1980. Foi a partir desse momento que começaram a surgir, em blogues de viagens, jornais, no Instagram, um grande número de publicações relativas a este tema.
Após a Segunda Guerra Mundial, a Jugoslávia, liderada por Tito, teve necessidade de se reconstruir. Blocos residenciais, hotéis, centros cívicos e monumentos feitos de betão armado começaram a multiplicar-se por todo o território socialista. O professor da Universidade de Arquitectura de Zagreb crê que "já passou tempo suficiente [desde o desmembramento da Jugoslávia] para que as pessoas comecem a apreciar a arquitectura jugoslava". De acordo com o académico, esta reflecte a posição política particular do antigo país no cenário europeu, à época.