Brasil acusa petroleiro grego de ter feito derrame de petróleo, armador nega

Acusação baseia-se em observações feitas por uma empresa de tecnologias geoespaciais. Poluição está a chegar ao Parque Nacional de Abrolhos, que é um dos principais nichos de biodiversidade marinha no Atlântico Sul.

Fotogaleria
Limpeza do litoral da Bahia Lucas Landau/REUTERS
Brasil
Fotogaleria
Praia do Suape, Cabo de Santo Agostinho, Pernambuco Diego Nigro/REUTERS

A Marinha brasileira responsabilizou o petroleiro Bouboulina, que navega com bandeira grega, pelo derrame de petróleo a cerca de 700 km da costa do Nordeste, com crude originário da Venezuela. Mas a companhia que explora o navio diz “não ter encontrado provas” de que a embarcação tenha feito alguma acção que possa ter levado a uma fuga de petróleo.

Numa declaração à Reuters, a Delta Tankers disse que fez uma busca nas câmaras e sensores e que não foi descoberta nenhuma prova de que o petroleiro “parou, fez alguma operação, derramou, abrandou ou saiu da rota no seu percurso da Venezuela até Malaca, na Malásia”.

A Polícia Federal brasileira acusa o petroleiro de ter derramado o petróleo entre os dias 28 e 29 de Julho, depois de ter saído de um porto venezuelano, carregado e pronto a seguir viagem. Baseia a sua acusação num relatório da empresa HEX Tecnologias Geoespaciais. “Interessámo-nos pelo tema e começámos a investigar. Usámos diversos tipos de imagens provenientes de satélites ópticos e de radar. Fomos montando um exercício dia a dia para o passado, até que nos deparámos com a mancha, o ponto zero”, disse à revista Veja Leonardo Barros, director-executivo da empresa.

Foram usados dados das agências espaciais europeia (ESA) e norte-americana (NASA), disse ainda, o que permitiu estimar que o derrame ocorreu entre 28 de Julho e 1 de Agosto. As primeiras manchas de petróleo começaram a aparecer em praias da Paraíba a 30 de Agosto – e hoje estendem-se ao longo de 2500 km da costa brasileira.

Na sexta-feira, a Polícia Federal do Brasil fez buscas em escritórios no Rio de Janeiro ligados à Delta Tankers, no âmbito da Operação Mácula, que investiga os motivos e a origem do desastre ambiental que levou ao derrame de 2,5 toneladas de crude no oceano. É uma quantidade equivalente a 18 mil barris de petróleo, que caberiam numa área igual a um prédio de dez andares, diz o G1.

O capitão do navio pode ser punido, como responsável pela embarcação, mas todas as empresas e países envolvidos na operação, como a empresa que receberia a mercadoria e o país que vendeu o produto, podem vir a ser processados e obrigados a pagar indemnizações pelos danos económicos e ambientais provocados, disse à BBC Brasil a professora de Direito Marítimo Ingrid Zanella, da Universidade Federal de Pernambuco.

Este fim-de-semana, o petróleo começou a chegar ao Parque Nacional de Abrolhos, no sul do litoral do estado da Bahia, que é um dos principais nichos de biodiversidade marinha no Atlântico Sul. Foi o primeiro parque nacional criado no Brasil, em 1983, e tem alguns dos principais bancos de corais do país. “É uma tragédia”, disse ao jornal Folha de São Paulo o biólogo Gustavo Duarte, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, que estuda a zona.

Sugerir correcção
Ler 4 comentários