Sporting oficializa corte com claques junto de autoridade desportiva

Autoridade para a Prevenção e o Combate à Violência no Desporto confirmou que o clube solicitou a suspensão institucional de registo da “Juve Leo” e Directivo. Presidente do IPDJ considera que acto de Frederico Varandas se traduz “numa reprovação de comportamentos negativos”.

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Claques usaram fumos e tochas para criticar decisão tomada pela direcção de Frederico Varandas LUSA/MIGUEL A. LOPES

O afastamento institucional do Sporting relativamente a dois grupos organizados de adeptos (Juventude Leonina e Directivo Ultras XXI) já foi comunicado junto das entidades desportivas competentes. Em resposta às perguntas do PÚBLICO, a Autoridade para a Prevenção e o Combate à Violência no Desporto (APCVD) confirmou que, no dia 29 de Outubro, o Sporting “solicitou a suspensão do registo” destes dois grupos, no cumprimento das formalidades legais.

O Sporting deixará, assim, de ser responsável pelo envio do “registo sistematizado e actualizado dos filiados” destes dois Grupos de Adeptos Organizados (GOA), sendo que, nas palavras da APCVD, estas duas claques passam a “constituir-se, simplesmente, como um grupo organizado de adeptos sem quaisquer privilégios” no que diz respeito a apoios do clube.

Nas duas últimas partidas em Alvalade, tanto Juventude Leonina como Directivo Ultras XXI não puderam levar tarjas e bandeiras para a Curva Sul, sector reservado para os quatro GOA do clube. Esta mesma bancada, de resto, deixa de estar reservada aos dois grupos, que estão obrigados a adquirir os bilhetes na condição de sócio, sem os descontos a nível de preço de que usufruíam com o acordo. Esta proibição na entrada de material poderá estender-se a outros estádios, visto que a utilização destes objectos requer a aprovação conjunta do promotor do espectáculo, forças de segurança e serviços de emergência.

O anúncio da criação da APCVD foi feito pelo primeiro-ministro António Costa, dias após o ataque à Academia de Alcochete. Antes da entrada em cena desta autoridade, era o IPDJ o responsável pelo controlo do registo dos membros pertencentes a grupos organizados de adeptos. Em declarações ao PÚBLICO, Vitor Pataco, presidente deste instituto, mostra-se compreensivo com a decisão tomada pelo presidente do Sporting, Frederico Varandas.

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Claques já tinham criticado corte dos apoios na partida frente ao Rosenborg LUSA

“Como presidente do IPDJ defendo que estes grupos constituam um factor positivo e galvanizador do espectáculo positivo. As claques comprometem a experiência dos espectadores se não souberem criar um ambiente agradável. Nesse contexto, a decisão do presidente do Sporting traduz-se numa reprovação de comportamentos negativos”, afirma Vítor Pataco, presidente do IPDJ desde Setembro de 2018. Defendendo o direito dos membros da claque a contestar as más exibições da equipa, o dirigente enfatiza os “limites razoáveis” a que se devem cingir estes protestos. De acordo com dados do IPDJ, em Fevereiro estavam registados 28 GOA em Portugal, num total de 4701 membros. 

"Juve Leo” disponível a negociar com direcção

No dia 20 de Outubro, na sequência dos incidentes no Pavilhão João Rocha durante uma partida de futsal, a direcção do Sporting anunciou um corte total de apoios a dois dos quatro grupos registados pelo clube, alegando que as claques em questão faltaram com o apoio aos atletas e possuíam dívidas consideráveis relativas a bilheteira. Brigada Ultras Sporting e Torcida Verde, por outro lado, continuam a beneficiar das vantagens celebradas no protocolo assinado em Julho de 2018.

Após a decisão da direcção “leonina”, fonte do clube descreveu ao PÚBLICO os privilégios que os adeptos das claques perderiam: ajudas de custo nas deslocações, lugares anuais com 50% de desconto, bilhetes com preço reduzido, apoios financeiros na realização de coreografias e os espaços cedidos pelo Sporting para o armazenamento de materiais.

Em resposta, as claques afectadas pela decisão garantiram que o apoio aos atletas “leoninos” nunca foi colocado em causa, afirmando que as razões invocadas pela direcção não eram válidas para a rescisão do acordo. Também a decisão de lhes retirarem as “casinhas” mereceu contestação, com os grupos a defenderem que o prazo de cinco dias para abandonarem o espaço deveria ser, de acordo com o estipulado no protocolo, de 30 dias. 

Nas bancadas de Alvalade, o ambiente não tem sido de cordialidade. Proibidos de entrarem com faixas, membros da Juventude Leonina estamparam o nome da claque em t-shirts, exibindo-as nos jogos com o Rosenborg, para a Liga Europa, e com o V. Guimarães, para o campeonato. Nesta última partida, para além dos cânticos dirigidos a Varandas, foram utilizados alguns artefactos pirotécnicos nas bancadas, entre os quais uma tocha verde que foi posteriormente arremessada para o terreno de jogo.

Porém, apesar do clima de crispação entre claques e clube, foi a própria “Juve Leo” a tentar abrir uma porta de comunicação para apaziguar os ânimos. No comunicado publicado na terça-feira, a claque mostrou-se disponível para se sentar à mesa com a direcção dos “leões”, de modo a facilitar um novo acordo. “A JL, apesar de todos os actos precedentes, encontra-se na disponibilidade para reunir e encontrar um entendimento comum que possa favorecer o Sporting e, em particular, os seus profissionais, nunca lhes faltando o apoio que merecem”.

De acordo com este grupo, o diálogo “é a única via possível e aquela que respeita a instituição centenária que é o Sporting, os seus adeptos e os seus sócios, o grande activo das instituições”. Por último, afirmam que esta desavença não deve ser "o objecto do foco de uma direcção a contas com problemas, de certo, mais importantes a resolver”.

O Sporting ainda não reagiu oficialmente a esta posição da claque.

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