A era do ódio

O ódio, sob as suas várias vestes, vai tomando conta do mundo, entre fanatismos, populismos e extremismos.

Nesta espuma dos dias, de coisas menores, como o inenarrável folclore da tomada de posse dos deputados e discursos vazios, quase passou despercebida a deliberação da União Europeia que equiparou os regimes comunistas, fascistas e nazis. Eis que o Parlamento Europeu deu, finalmente, sinal de vida. Demorou muito tempo.

Quem, em boa consciência, ignorava a existência de campos de concentração, chamem-se eles gulags, de reeducação ou de “trabalho”, para mim não existem grandes diferenças. Ao regime nazi não escapavam os judeus, ciganos e deficientes, mesmo que crianças, inclusive alemãs, para não esquecer tantos e tantos intelectuais. Não havia a possibilidade de expiação, não existia. Não se podia escapar. Não estou com isto a menorizar barbáries. 

Não se pode medir a barbárie em números, mas na sua crueldade, sejam ditadores nazis, fascistas ou comunistas. Dá sempre em desgraça. Segundo um grupo de historiadores, sob a coordenação de Stéphane Courtois (O Livro Negro do Comunismo), foram exterminados quase 20 milhões na União Soviética, 65 milhões na China, dois milhões no Camboja, só para citar alguns exemplos referidos.

Regimes e ideologias totalitárias são por natureza profundamente lesivos da Humanidade, chamem-se eles Hitler, Lenine, Estaline, Mao, Pol Pot. Haveria muitos outros a citar. Ideologicamente eles também estão entre nós.

Mas não aprendemos nada: os extremismos regressam em força, quer sob vestes políticas, quer religiosas, perante um alheamento quase generalizado. Mas há que acordar.

Extrema-esquerda e extrema-direita adquirem mais de metade dos votos do Estado da Turíngia (Alemanha), sendo que os partidos de centro obtiveram menos de um terço dos votos.

Em Itália, a intolerância abunda. Em França, multiplicam-se as manifestações de ódio na rua. Em Espanha são os independentistas moderados que travam a brutalidade dos extremistas.

No Paquistão, milhares de fundamentalistas dirigem-se para Islamabad, para protestar contra o que alegam ser um governo ilegítimo. A América Latina vive dias de ferro e fogo e os Estados Unidos não são, seguramente, um exemplo de democracia.

O tráfico de seres humanos atinge graus de crueldade que não pensaríamos admissíveis nos nossos dias, de que é exemplo recente o horror dos 39 mortos encontrados dentro de um camião, tendo morrido em grande sofrimento.

Os curdos, que têm vindo a fazer uma luta heróica contra o Estado Islâmico, são alvo de repressão, expulsão e abandono permanentes. É um povo hoje de cerca de 40 milhões de pessoas, que há séculos luta por uma terra, por um país unido e reconhecido. A esta data muitos fogem do exército turco, outro paladino da antidemocracia.

O ódio, sob as suas várias vestes, vai tomando conta do mundo, entre fanatismos, populismos e extremismos.

Ficará a nossa era lembrada como a era do ódio?

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