A moda é a expressão da individualidade de Tânia Dioespirro

Ser manequim nunca foi o sonho, mas trouxe-lhe a paixão pelo styling. Apaixonada pelo mundo da moda, aos 33 anos, Tânia Dioespirro acredita que tem ainda muito a dar à sua profissão e, claro, à vida.

Foto
Preparativos nos bastidores do Portugal Fashion, na Alfândega do Porto, este fim-de-semana Paulo Pimenta

Ir às lojas de roupa infantil com a avó é das memórias mais antigas da produtora de moda Tânia Dioespirro. Não é por acaso. A stylist diz que foi a avó que lhe incutiu o gosto pela moda, logo à nascença e explica porquê: “A minha avó conta-me sempre a história que, quando eu nasci, me foi visitar ao hospital e levou um vestido azul-bebé com uns collants transparentes só com umas pintinhas também azul-bebé.”. Aos 33 anos, a vida trocou-lhe as voltas. Em Abrilfoi diagnosticada com cancro da mama

Foto
Aos 33 anos, Tânia Dioespirro foi diagnosticada com cancro da mama DR

​​Foi num dia de tratamentos de quimioterapia que recebeu uma mensagem do amigo Luís Carvalho. O designer desafiou-a a ser o rosto de uma T-shirt solidária, que pretende alertar para a importância do auto-exame no cancro da mama. “Ele disse-me que achava importante a maneira como eu estava a encarar o problema e a mostrar a segurança da imagem de quem passa por isso”, explica a ex-modelo. As T-shirts, à venda por 35 euros, esgotaram rapidamente, 85% dos lucros revertem para a Liga Portuguesa contra o Cancro. Em breve, será reposto o stock

A nível profissional, a jovem garante que o cancro é, acima de tudo, “assustador”. “É frustrante estar a trabalhar no duro para conseguir construir o meu nome no mercado e, de um momento para o outro, perceber que por causa da quimioterapia, da cirurgia, da frequências das consultas e do sistema imunitário debilitado, não podia trabalhar”. Mas, a direcção criativa continua a manter a cabeça de Tânia ocupada, mesmo à distância.

Foto
A t-shirt solidária, à venda por 35 euros, pretende consciencializar para a importância do autoexame no diagnóstico precoce do cancro da mama. DR

Ainda que o gosto pela moda tenha nascido cedo, Tânia Dioespirro nunca teve a ambição de fazer disso uma carreira. “Sempre gostei muito da moda como expressão da individualidade de cada um. No [ensino] secundário era um pouco excêntrica e vestia-me de uma forma um pouco peculiar, mas nunca pensei vir a trabalhar directamente com a moda”, explica.

No entanto, o bichinho estava lá. Nas fotografias de criança, Tânia Dioespirro revê “uma miúda com umas roupas muito peculiares”. Hoje, adoptou parte do guarda-roupa da avó, que conhece os seus gostos “como ninguém”, e tornou-o seu. “Ela mandava fazer roupa por medida e tinha os sapatos forrados, por exemplo, com mesmos tecidos que os sobretudos” conta Tânia Dioespirro ao PÚBLICO, garantindo que 20% do seu guarda-roupa era da avó.

A oportunidade de trabalhar como manequim surgiu cedo, aos 15 anos, mas a jovem foi recusando os convites. Só aos 18 anos, aquando da entrada para a licenciatura de Design Industrial e de Produto, aceitou a proposta da agência Best Models, à procura de alguma independência financeira. “Quando entrei para a faculdade, queria ter o meu carro, carregar o meu telemóvel, ter dinheiro para ir jantar com os meus amigos, para comprar um computador, etc.”, recorda.

Da passerelle aos bastidores

A estreia de Tânia Dioespirro na passerelle aconteceu no Portugal Fashion, no Porto, a sua cidade natal. “Lembro-me de ter 17 ou 18 anos, chegar lá e o Luís Pereira (coordenador de bastidores) dizer-me que tinha de procurar o meu charriot [cabide com rodinhas], porque estava lá o meu composite [conjunto de fotografias da modelo com os coordenados com que vão desfilar] e a aderecista para fazer as provas de roupa. Eu fiquei a olhar para ele a pensar: o que é um composite , o que é um charriot e o que é uma aderecista?”, recorda a manequim.

Foto
Nos bastidores do Portugal Fashion, no Porto, no passado sábado Paulo Pimenta

Os primeiros tempos não foram fáceis e, aos 18 anos, Tânia admite que se sentia “fora do contexto” e “completamente perdida”. Depois tudo melhorou graças à adrenalina sentida ao percorrer a passerelle.

O trabalho de manequim permitiu à jovem descobrir o outro lado das câmaras, a que hoje se dedica: a produção de moda e direcção criativa. “Todo o processo criativo, a construção que existia para um resultado final, era uma coisa que me fascinava”, explica. O trabalho no departamento de marketing da Fashion Clinic em Lisboa, após a conclusão do mestrado em Design de Comunicação, foi a primeira oportunidade para experimentar o mundo do styling, através das produções internas.

A vida pessoal acabou por levar a jovem de regresso ao Porto, quando a casa que havia comprado ficou pronta. Foi na Farfetch que teve o seu primeiro cargo de stylist, mas menos de um ano volvido, decidiu tornar-se freelancer. “É uma área muito boa, temos sempre histórias, como ir fotografar para o exterior em sítios em que as pessoas estão a fazer uma vida completamente normal e, de repente, está a acontecer uma sessão fotográfica”, explica.

Tânia Dioespirro voltou aos trabalhos como manequim, aos 30 anos, em Madrid. A modelo brinca ao dizer que fez tudo “mais tarde do que o normal”. Começou aos 18, quando se inicia a carreira mais cedo, e só aos 30 é que saiu do país. Num testemunho escrito para o PÚBLICO, neste mês que se marca a consciencialização para o cancro da mama, a produtora de moda afirma estar ansiosa para um 2020 mais tranquilo. À sua espera, está a carreira que tanto a apaixona.

Texto editado por Bárbara Wong

Sugerir correcção
Comentar