Alberto Fernández eleito Presidente da Argentina. Macri reconhece a derrota

O kirchnerismo volta ao poder na Argentina, mas a derrota de Macri ficou longe da derrocada apontada pelas sondagens.

Foto
Reuters/AGUSTIN MARCARIAN

Alberto Fernández foi eleito Presidente da Argentina, confirmando o seu favoritismo nas sondagens. Fernández, que tem como vice a ex-Presidente Cristina Kirchner, venceu as eleições com mais de 48% dos votos, e Mauricio Macri, que se recandidatava, ficou com 40,4%. Uma derrota clara, mas não tão grande como as sondagens previam - davam-lhe menos 20% de vantagem do que ao candidato peronista.

Falando para uma multidão que se reuniu em frente à sede da coligação Frente de Todos, em Buenos Aires, Fernández admitiu que “vêm aí tempos difíceis”, criticou a herança de Macri — que atirou o país para uma grave crise económica, com a economia em recessão há mais de um ano —, mas prometeu que vai colaborar “em todo” para que os argentinos “deixem de sofrer”, reconstruindo “o país, das cinzas”. 

Prosseguindo com as críticas, o Presidente eleito disse que no dia 10 de Dezembro de 2015 chegaram ao poder “pessoas que acreditam que há um momento em que os ricos ganham tanto que começam a derramar riqueza sobre os pobres, mas não percebem que na verdade a única coisa que acontece é que poucos ricos enriquecem e milhões de argentinos saem magoados”. “Essa página começa a mudar hoje”, disse, citado pelo jornal Clarín. Por fim, afirmou que vai governar “para toda a gente”.

“De agora em diante, tudo o que temos de fazer é cumprir as nossas promessas. Que os argentinos saibam que cada palavra que proferimos e cada compromisso que assumimos foi um compromisso moral e ético com o país que devemos cumprir”, sublinhou.

Fernandéz lembrou o antigo Presidente Nestor Kirchner (2003-2007), no mesmo dia em que se assinalaram os nove anos da morte do marido de Cristina Kirchner. “Não seria justo para mim não o reconhecer hoje pelo que fez por nós e pela enorme possibilidade que me deu”. Fernandéz foi chefe de gabinete (equivalente a primeiro-ministro) durante todo o mandato de Néstor Kirchner.​

“Há quatro anos que nos diziam ‘não voltam’, mas esta noite voltámos e vamos ser melhores”, afirmou o novo inquilino da Casa Rosada.

O Presidente eleito da Argentina felicitou o Presidente da Bolívia, Evo Morales pelo seu quarto mandato e pediu a libertação de Lula da Silva, ex-Presidente brasileiro.

Macri, sem perder tempo, convidou o seu sucessor para um pequeno-almoço nesta segunda-feira, com o fim de organizar as seis semanas de transição, escreve o El País. O novo Presidente toma posse a 10 de Dezembro.

“Precisamos de uma transição pacífica que traga paz a todos os argentinos, porque o mais importante é o bem-estar de todos os argentinos”, declarou Macri, perante os seus apoiantes em Buenos Aires.

Maurício Macri manteve o optimismo até ao último momento, depois de ter protagonizado uma campanha “electrizante”, como descreve o El País. O seu objectivo era reduzir ao máximo a diferença face ao adversário que, nas primárias de Agosto, tinha conseguido 49,4% dos votos. Para isso, era necessário que os argentinos votassem em massa e que votassem em Macri. Apesar de não ter sido eleito, a percentagem de votos que arrecadou torna Macri uma figura forte da oposição.

“Todos percebemos que é uma eleição histórica, entre dois modelos de país”, disse Macri. “Agora há que manter a tranquilidade.”

Economia em situação crítica

Em 2015, Macri trazia uma mensagem de esperança e mudança, que atraiu muitos argentinos agastados com uma economia asfixiada e com a corrupção depois de 12 anos de mandato da Presidente Cristina Fernández Kirchner e do seu marido.

No entanto, a economia argentina derrapou e ficou numa situação crítica. Com o país em crise, Macri foi obrigado a adoptar medidas de austeridade e a pedir um dos maiores empréstimos da história recente do país ao Fundo Monetário Internacional (cerca de 50 mil milhões de euros). O peso argentino perdeu 70% do seu valor e a inflação acumulada de 2019 chegou em Setembro a 37,7%. Há cada vez mais argentinos na pobreza.

Fernández fez das medidas contra a austeridade uma das suas bandeiras: prometeu “refazer” o acordo com o FMI, medicamentos gratuitos para reformados e melhores salários para trabalhadores.

Em Agosto, investigadores de duas universidades argentinas calculavam que 35% da população vive abaixo do limiar da pobreza, um valor acima da estimativa oficial do Governo que falava em 27,3% na primeira metade do ano.

Fernández identifica-se com o kirchnerismo e com a ala mais à esquerda do peronismo, que desde os anos 1950 faz parte da história do país.

Sugerir correcção
Comentar