Regresso do campeonato e dos casos

Depois de uma paragem de um mês da nossa principal competição de futebol, eis que regressou o campeonato com um domingo em grande. Mas não se habituem muito a este regresso porque no próximo mês vamos ter, de novo, 20 dias sem I Liga, numa forma estranha de organização e de modelo competitivo, completamente ímpar na Europa. E não culpem a Federação Portuguesa de Futebol ou a Liga por este calendário, pois a responsabilidade é única e exclusiva dos clubes que aprovaram este modelo competitivo. Por isso, os discursos dos nossos treinadores oscilam entre “ou estamos muito tempo sem competir” ou “jogamos de três em três dias e não temos tempo para treinar”.

No que toca a arbitragem, o caso do jogo Tondela Benfica ocorreu ao minuto 26, aquando de uma entrada muito dura de Florentino sobre Murillo. O árbitro mostrou o cartão amarelo, pois não obstante a falta tenha tido todo um desenho de cartão vermelho, o facto de não ter acertado com ambos os pés e de sola foi a atenuante para a leitura do lance. Contudo, e numa observação mais atenta e com as diversas repetições, percebe-se que o jogador “encarnado” acerta com a sola do seu pé esquerdo no calcanhar do pé direito do seu adversário e de acordo com o enquadramento da lei 12 (faltas e incorrecções) na página 111, podemos ler, que qualquer jogador que ataque um adversário na disputa de bola de lado ou por trás utilizando uma ou ambas as pernas com força excessiva pondo em perigo a integridade física do adversário é culpado de uma falta grosseira. Entende-se que o jogador faz um uso excessivo de força quando coloca em perigo a segurança de um adversário. Portanto, esta entrada era passível de cartão vermelho.

O videoárbitro (VAR) podia ter intervido, pois a expulsão directa faz parte do protocolo, mas por não ter achado que o contacto de sola no calcanhar tenho sido claro e evidente, tendo sido mais de raspão, acabou por validar a decisão inicial do árbitro.

No FC Porto-Famalicão quase que não houve casos de jogo e os que existiram foram bem resolvidos. Destaque para a boa decisão em não assinalar possível penálti de Lion sobre Soares, ao minuto 17, pois na realidade o jogador famalicense apenas tocou com o seu pé direito na bola, sendo normal o contacto posterior, fruto da movimentação de ambos os jogadores.

Já em Alvalade, no jogo Sporting-V. Guimarães tivemos duas situações extremamente interessantes de análise; ao minuto 49, Acuña desarma Eduards e na sequência do lance Bruno Fernandes cai na área e fica a reclamar penálti por eventual infracção cometida pelo guarda-redes Miguel Silva. Por partes e começando pelo fim. Para mim, não há motivo para pontapé de penálti, pois é Bruno Fernandes que antes do contacto com o guarda-redes se projecta para o chão, provocando ele próprio o posterior contacto. Contudo, Miguel Silva arriscou um pouco, quando, ao fazer o seu movimento de rotação, acaba por tocar com o seu cotovelo na cara do jogador “leonino”. Mas, mesmo que o árbitro tivesse considerado penálti, este teria de ser anulado por, no início da jogada, Acuña ter desarmado o jogador Vitoriano em falta.

A minha preocupação é que o VAR ao rever o lance e fazer com que o árbitro fosse ver o monitor apenas disponibilizasse as repetições da acção na área, omitindo o momento de transição ofensiva dos “leões”, que foi através de uma falta. Se Artur Soares Dias, por acaso, tivesse concordado que tinha havido penálti, tínhamos um verdadeiro caso de jogo, pois ele nunca seria alertado pelo VAR para a infracção inicial.

Em resumo, o árbitro recomeçou o jogo com pontapé de canto, e bem, por não ter considerado que houve penálti, mas o VAR para além da penalidade deveria ter-se focado no início da acção e da falta que anularia o possível penálti.

Ao minuto 74 outro lance interessante, que originou o terceiro golo do Sporting. De destacar que Coates, que acabou por fazer o golo, não cometeu qualquer infracção sobre o guarda-redes, e que também não estava em fora de jogo quando o livre foi batido. A questão principal deste lance está em Eduardo, jogador do Sporting, não no primeiro momento em que a bola é cruzada para a área (está em fora de jogo posicional, mas não tem qualquer interferência no lance), mas num segundo momento, após o cabeceamento de Coates. Eduardo está à frente da linha da bola e em posição de fora de jogo e, não obstante não toque nunca nem na bola, nem no seu adversário após defesa de Miguel Silva, o facto é que partiu de fora de jogo e foi disputar a bola, deixando à equipa de arbitragem o ónus de saber se esta acção teve impacto ou não no guarda-redes. Para mim não teve impacto, nem interferência, daí considerar o golo legal, mas esta interpretação é passível de discussão dada a proximidade de Eduardo em relação a Miguel Silva e à forma clara como tentou disputar o lance e jogar o esférico.

Pedro Henriques é ex-árbitro.

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