Morales declarado vencedor na Bolívia, mas Mesa exige segunda volta

UE e OEA pedem que se “restabeleça confiança” na eleição e candidato derrotado apela à mobilização popular contra o resultado oficial.

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Evo Morales vai estar no poder 19 anos JORGE ABREGO/EPA
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Carlos Mesa não reconhece os resultados Luis Angel Reglero/EPA
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Manifestação de estudantes contra a contagem dos votos Martin Alipaz/Reuters
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Houve confrontos em La Paz após o anúncio dos resultados UESLEI MARCELINO/Reuters

Evo Morales foi dado como ganhador na primeira volta das presidenciais na Bolívia, no domingo passado, apesar das suspeitas de fraude eleitoral lançadas pela Organização de Estados Americanos (OEA), corroboradas pela União Europeia e outros países. Não páram os protestos nas ruas, e o segundo colocado, Carlos Mesa, apela a que continuem, exigindo uma segunda volta.

“O que aconteceu era esperado”, disse Mesa na noite de quinta-feira. “Sabemos como o Presidente é teimoso”. Enquanto em várias cidades bolivianas, milhares de cidadãos revoltados se manifestavam gritando “fraude”, o candidato de centro-esquerda incentivava a que lutassem por fazer ouvir a sua voz. “Não fiquem desmoralizados. A nossa luta é democrática”, disse Mesa aos apoiantes. Ao mesmo tempo, a polícia disparava gás lacrimogéneo contra os manifestantes que protestavam em La Paz, a capital da Bolívia.

Com 99,9% dos votos contados, o socialista Morales tem 47,07% dos votos, face a 36,51% de Mesa, confirmou o Tribunal Superior Eleitoral na quinta-feira. O Presidente tem assim uma vantagem de 10,56 pontos sobre Mesa – e de acordo com as regras eleitorais bolivianas, para que não seja necessária uma segunda volta, um candidato tem de ultrapassar 50% dos votos ou ter uma vantagem de 10% sobre o segundo classificado. 

Morales teve, por isso, uma vitória tangencial. O suficiente para Mesa exigir uma segunda volta, juntando-se às críticas pela interrupção da contagem dos votos durante um dia, feitas num relatório preliminar pela OEA e corroboradas pela UE, Washington e outros países da América Latina.

“A UE partilha plenamente a avaliação da OEA no sentido de que as autoridades bolivianas deveriam concluir o processo de contagem em curso, e que a melhor opção seria realizar uma segunda volta para restabelecer a confiança e assegurar o pleno respeito do povo boliviano na eleição democrática”, declarou a porta-voz do Serviço Europeu de Acção Externa, Maja Kocijancic.

Perante as acusações, Evo Morales, do Movimento para o Socialismo, denunciou um “golpe de Estado interno e externo” para o afastar, movido pela direita e com apoio internacional, e apelou à mobilização popular “em defesa da democracia”. Mas declarou vitória: “Ganhámos à primeira volta”, disse.

Morales levou a referendo a possibilidade de se candidatar ao quarto mandato, e depois de a população lha ter negado recorreu para os tribunais superiores que lhe deram parecer favorável e recandidatou-se. Já é o Presidente há mais tempo no poder no país mais pobre da América Latina e vai governar até 2025, num total de 19 anos. 

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