Discussão na NATO sobre a Síria mostrou “isolamento” da Turquia

Os Aliados tentaram fazer ver à Turquia que a intervenção no Norte da Síria “não está a contribuir para a estabilidade do país ou para o combate ao terrorismo”, disse o ministro da Defesa português, João Gomes Cravinho.

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O secretário-geral da NATO, Jens Stoltenberg, com o secretário da Defesa americano, Mark Esper JOHANNA GERON/Reuters

Os ministros da Defesa da NATO discutiram nesta sexta-feira em Bruxelas a ofensiva militar turca na Síria, num debate em que a Turquia ficou isolada e os Estados Unidos foram particularmente críticos, revelou o ministro da Defesa português, João Gomes Cravinho.

“Em relação à Síria, como seria de esperar, houve uma grande convergência, com excepção da posição da Turquia, que enfrentou aqui algum isolamento, e que procurou explicar o seu ponto de vista sobre a Síria. Mas houve reiterados apelos à Turquia para que cessasse as hostilidades e retirasse as suas forças da Síria”, apontou o ministro, em declarações aos jornalistas.

João Gomes Cravinho disse que os Aliados tentaram fazer ver à Turquia que, com esta intervenção no Norte da Síria, contra os curdos, “não está a contribuir para a estabilidade do país e não está a contribuir para o combate ao terrorismo e ao Daesh em particular, que hoje em dia é uma ameaça reforçada”.

“O ministro turco disse que achava que as nossas opiniões estavam muito influenciadas pelo que ele chamava de fake news, notícias falsas, vindas do que ele classifica com fontes terroristas curdas. Essa não foi a posição assumida obviamente pela generalidade dos países”, afirmou.

Gomes Cravinho acrescentou que o ministro turco também sublinhou que a Turquia, devido à sua situação geográfica, tem “particularidades únicas”.

“Nós, enquanto aliado da Turquia na NATO, compreendemos essas particularidades únicas. A Turquia está, de facto, muito exposta ao terrorismo vindo da Síria, e está muito exposta a fluxos de refugiados vindos da Síria, fruto da guerra civil e instabilidade no país. Estamos obviamente muitíssimo empenhados em apoiar a Turquia a lidar com essas ameaças, simplesmente não estamos de acordo que a actual intervenção da Turquia, violando a integridade territorial da Síria, seja a maneira adequada de responder a esses problemas”, afirmou o ministro português.

Admitindo que, do seu ponto de vista, “foi precipitada a retirada de tropas norte-americanas” da região, o que “criou um vazio que levou a esta situação”, Gomes Cravinho sublinhou que, “ao mesmo tempo, não é possível dizer que a acção turca foi determinada pelos Estados Unidos”, pois “a Turquia é responsável por aquilo que faz, e fê-lo por vontade própria”.

“Eu ouvi uma intervenção muito crítica por parte do secretário da Defesa dos Estados Unidos em relação à ofensiva turca. Foi talvez dos mais severos em condenar a ofensiva e exigir o fim das hostilidades”.

O ministro deu conta de “referências” várias entre os Aliados à necessidade de se olhar para o Afeganistão e aprender com as lições para a Síria. “Qualquer retirada mais precipitada do Afeganistão poderia originar uma situação caótica, que obviamente é contrária aos interesses de todos nós”.

Comentando a hipótese de haver uma missão da União Europeia na Síria, o ministro salientou que se trata de uma ideia da Alemanha, ainda numa fase muito embrionária. Apesar da abertura de alguns países a que se estude essa possibilidade – e Portugal está entre eles –, disse, não se pode ainda afirmar sequer que a UE “está a cogitar essa possibilidade”. Até porque “vai depender muito” da futura acção da Turquia. O assunto vai “possivelmente” ser abordado na reunião de ministros da Defesa da UE a 12 de Novembro.

“Vai depender muito daquilo que forem as intenções da Turquia. O resultado desta incursão da Turquia no Norte da Síria reforçou as posições da Rússia. Obviamente, temos de pensar sobre como queremos posicionar-nos face a este reforço da posição russa na Síria”, disse.

Lembrando que “a UE não tem missões militares executivas próprias”, com excepção de uma no oceano Índico, Gomes Cravinho ressalvou que uma hipotética missão europeia “teria de ter um respaldo muito grande nas Nações Unidas e com entendimento com a própria NATO”. “Estamos ainda a confrontar ideias, e não há ainda condições para um consenso”, concluiu.

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