Um brinquinho

Para mim não há a menor dúvida, é desta que o nosso território vai mesmo ficar um brinquinho.

Se bem entendo, temos um secretário de Estado adjunto e da Administração Interna e uma secretária de Estado da Administração Interna, mas não devem ser confundidos com o secretário de Estado da Descentralização e da Administração Local, e muito menos com o secretário de Estado do Ordenamento do Território que, naturalmente, não se confunde com o secretário de Estado do Planeamento nem com o secretário de Estado das Infra-estruturas, sendo os dois diferentes do secretário de Estado da Mobilidade, mas também do secretário de Estado do Desenvolvimento Regional, totalmente distinto da secretária de Estado da Valorização do Interior que, em qualquer caso, em momento nenhum pode ser associada ao secretário de Estado do Desenvolvimento Rural.

Quando escrevi isto a primeira vez estava só a sistematizar informação sobre a gestão do território e confesso que primeiro não percebi bem o alcance das opções tomadas.

Depois tudo se tornou claro, quando percebi que ter um secretário de Estado adjunto e da Administração Interna e uma secretária de Estado da Administração Interna não era uma gralha dos jornalistas, mas uma opção de fundo.

A ideia central é fantástica: permitir que cada governante se centre no que tem mesmo de fazer, sem se distrair com as relações laterais com outros assuntos.

Por exemplo, a secretária de Estado para a Valorização do Interior vai mesmo concentrar-se em valorizar o interior, não tem que se preocupar com as questões de planeamento, que estão com outro colega, nem com as questões de financiamento do mundo rural, que estão com outro colega, nem com o desenvolvimento regional, que é ainda com outro colega, nem com as infra-estruturas, entregues a alguém, não precisa de pensar na mobilidade das regiões de baixa densidade, que isso estará com o colega da mobilidade, nem com o ordenamento do território, a floresta e a conservação da natureza, que com certeza só atrapalham a valorização do interior.

Só alguém com manifesta falta de visão não compreende as vantagens do foco na resolução de problemas, se o que é preciso é valorizar o interior, o melhor mesmo é diminuir as probabilidades de dispersão no trabalho que é preciso fazer.

E o mesmo se passa com cada um dos outros governantes, cada um concentrado no seu problema, como o secretário de Estado adjunto e da Administração Interna, que evitará dispersar-se com a Administração Interna que está, e muito bem, entregue à secretária de Estado da Administração Interna, da mesma forma que seria um enorme problema confundir o desenvolvimento rural com o desenvolvimento regional e, pior ainda, misturar o ordenamento, as florestas, a gestão do fogo, o pagamento de serviços de ecossistema e todos esses assuntos confusos que têm impedido os governos de gerir o território como deve ser.

Confesso que estou em pulgas para ver finalmente a paisagem do país a ser gerida como deve ser, cada assunto tratado de forma profunda e completa, sem distracções nem desvios, cada problema entregue a um responsável concreto cuja cara se conhece, sem esta mania tão portuguesa da secretária de Estado da Valorização do Interior poder dizer que não faz mais porque os recursos de que dispõem são definidos pelo colega. Até porque seria difícil perceber a que colega se referiria, se ao do planeamento, se ao da administração local, se ao da administração interna, se ao do planeamento, se ao do desenvolvimento regional, se ao do desenvolvimento rural, se ao do ordenamento, florestas e conservação, se ao das infra-estrutura, se ao da mobilidade, enfim, não há possibilidade de fugir a responsabilidades, é mesmo da responsabilidade da secretária de Estado da Valorização do Interior tudo o que disser respeito à valorização do interior e assim é que está bem.

Para mim não há a menor dúvida, é desta que o nosso território vai mesmo ficar um brinquinho.

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