Cartas ao director
Leonardo da Vinci
Li com muito interesse o trabalho sobre Leonardo da Vinci [na edição de ontem do PÚBLICO]. É natural que o sr. Mona Lisa defenda a sua dama. Na realidade o sentido da vida de Leonardo foram as descobertas científicas. A pintura foi o seu sustento. Como perfeccionista, nunca as deixaria inacabadas se a pintura fosse o seu foco principal. Como curioso insaciável dispersava-se na descoberta das causas de tudo o que o rodeava.
Em cada 4000 escritos que deixou estão muitos dias de observação e experimentação. Não se dedicou aos frescos porque esta técnica exigia ser feita sem interrupções, o que era incompatível com o seu frenesim. Tentou fazer a Batalha de Anghiari no Palazzo Vecchio de Florença sem sucesso e fez a Última Ceia em Milão que se degradou rapidamente. Não concordo quando se diz que Leonardo tenha sido totalmente livre. Dependia dos patronos que lhe encomendavam as obras. Ofereceu os seus conhecimentos de engenharia militar a Sforza e foi contratado como músico e animador de festas.
Aceitou o convite de Francisco I para se mudar para França, no fim da sua vida, porque o seu patrono em Roma, Juliano II de Medici, irmão do Papa Leão X, já não lhe reconhecia o seu devido valor, não só pela suas limitações físicas mas porque Miguel Ângelo e Rafael ofuscavam o seu brilho. Que se diria hoje nas redes sociais de uma pessoa que apresentava conceitos incompreensíveis para as pessoas do seu tempo, que era canhoto, disléxico, vegetariano, gay e acusado de abuso sexual de dois rapazes? Certamente não se dizia o que Leonardo da Vinci na realidade foi. Um dos maiores génios da História da Humanidade.
Mário Martins, Ponte de Sor
O apogeu do Simplex
Quando em devido tempo elogiei a ministra Maria Leitão pelo incremento dado ao Simplex, estava muito longe de imaginar que tal medida iria tão longe. Se bem que ainda haja situações que levam uma secretária de Estado a dar de conselho para se aproveitar a ida de férias para o Algarve para tratar da renovação do cartão do cidadão, por outro lado ficamos a saber que os benefícios do tal Simplex são infinitos. E para ser muito breve, apenas dois exemplos de casos ultra-rápidos. O primeiro, o daquela firma fornecedora das famosas golas inflamáveis com sede num parque de campismo que num instante, e sem concursos a complicar, facturou boas maquias e a preços superiores aos do mercado. No segundo caso, este com perspectivas de vir a facturar algumas centenas de milhões de euros com a exploração de lítio, foi criada uma empresa num ápice de apenas três dias utilizando as instalações da junta de freguesia lá do sítio como sede. Como isto parece que é apenas a ponta do icebergue, tudo me leva a crer que é por modéstia que não se conhecem mais exemplos destes. Posto isto, quando vejo pessoas queixando-se das burocracias, perdas de tempo, papeladas para isto e para aquilo para criarem o seu negociozinho ou tratarem de algo com o Estado ou autarquia, desculpem lá mas sou obrigado a dizer-lhes que o defeito é deles pois não nasceram para aquilo. O Simplex está aí ao vosso dispor.
Jorge Morais, Porto