Franco saiu do Vale dos Caídos — “O meu avô não está sozinho”, diz neto

Ditador espanhol deixou o mausoléu no monumento que ergueu ao seu regime. É “o fim de uma afronta moral”, diz Pedro Sánchez.

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Francis Franco e Jaime Martinez Bordiu, netos de Francisco Franco, com o caixão depois da exumação Reuters
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Cinquenta pessoas juntaram-se à porta do cemitério onde Franco foi sepultado DAVID FERNANDEZ/EPA
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Vinte e dois descendentes do ditador assistiram à operação REUTERS
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Familiares levam o caixão de Franco Reuters/POOL
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Apoiantes à entrada do cemitério de Mingorrubio EPA/DAVID FERNANDEZ
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Familiares levam o caixão de Franco Reuters
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Familiares levam o caixão de Franco Reuters/REUTERS TV
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Uma bengala com a cabeça de Franco esculpida junto à entrada do cemitério de Mingorrubio EPA/DAVID FERNANDEZ
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O padre Ramón Tejero, filho do ex-militar golpista Antonio Tejero, a quem a família de Franco pediu para celebrar uma missa no cemitério de Mingorrubio SUSANA VERA
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O carro funerário Reuters
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O helicóptero que transportará os restos mortais de Francisco Franco chega ao Vale dos Caídos EPA/JUAN CARLOS HIDALGO
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Familiares de Franco carregam o caixão Reuters/POOL
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Familiares de Franco chegam ao memorial do Vale dos Caídos EPA/EMILIO NARANJO
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Netos e bisnetos entram na basílica no Vale dos Caídos EPA/J.J.GUILLEN
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Apoiantes de Franco concentrados junto ao cemitério de Mingorrubio-El Pardo Reuters/SUSANA VERA
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Apointes de Franco no exterior do Vale dos Caídos Reuters/JAVIER BARBANCHO
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O helicóptero que transportará os restos mortais de Francisco Franco chega ao Vale dos Caídos EPA/EMILIO NARANJO/ POOL
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Francis Franco (à direita), o neto mais velho de Francisco Franco à chegada ao memorial do Vale dos Caídos EPA/MARISCAL
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Jaime Martinez Bordiu (à direita), neto de Francisco Franco, entram na basílica dos Vale dos Caídos EPA/MARISCAL
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Apoiantes de Franco rezam junto ao Vale dos Caídos Reuters/JAVIER BARBANCHO
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Em protesto, Belen Perez empunha uma bandeira republicana junto ao Vale dos Caídos Reuters/JON NAZCA
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Familiares de Franco chegam ao Vale dos Caídos Reuters/Emilio Naranjo
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O Vale dos Caídos esta quinta-feira Reuters

Houve bandeiras e cânticos franquistas a receber o corpo do ditador Francisco Franco em Mingorrubio, depois de ter sido exumado do Vale dos Caídos e de ter sido transportado até este cemitério nos arredores de Madrid de helicóptero.

Os nostálgicos do regime, perto de 250, vaiaram os membros do Governo de Pedro Sánchez que acompanharam a operação. O chefe do Governo fez uma declaração sobre o que estava a acontecer. “O mausoléu Vale dos Caídos era uma infâmia a que era preciso pôr cobro, antes que já não houvesse remédio”, disse, lembrando as vítimas da ditadura franquista e os corpos, milhares, que foram levados para o Vale sem a permissão das famílias. “Hoje, pôs-se fim a uma infâmia moral”.

“Quando voltar a abrir as suas portas, o Vale dos Caídos terá um significado muito diferente: vai lembrar uma dor que não deve repetir-se nunca mais e ser uma homenagem a todas as vítimas do ódio”. 

A Fundação Franco, organização que preserva e enaltece a memória do franquismo, publicou a homilia que o prior do Vale dos Caídos, Santiago Cantera (que foi porta-voz oficioso da família Franco na batalha contra a mudança do corpo), proferiu durante a exumação: “Contente por ter sido perseguido por [defender a] causa da justiça, durante toda a sua vida e agora na sua morte. Vossa Excelência (...) sabe seguramente que a única justiça verdadeira é a divina”.

Durante a operação, houve momentos tensos. Os familiares, 22, entre neto, bisnetos e cônjuges, e todos os que assistiram, tiveram que passar por um detector para provar que não tinham qualquer aparelho de gravação, áudio ou de imagem. E um dos netos de Franco, Francis Franco, foi obrigado a deixar a bandeira que levava para cobrir o caixão - com a águia de São João Evangelista, que foi usada pelos reis católicos e que o ditador recuperou no seu regime.

O Governo não autorizou honras de Estado ou bandeiras no caixão durante a operação, no funeral privado em Mingorrubio os Franco puderam usar a bandeira que quiseram. A família  optou por usar o mesmo caixão retirado da cripta onde o ditador espanhol esteve 44 anos, desde a sua morte em 1975, e não um novo que estava disponível.

“Viva Franco, viva Espanha”, disseram os familiares ao enterrarem o seu antepassado em Mingorrubio.

Frases idênticas foram ouvidas à porta do cemitério, onde aguardava o corpo o franquista que por duas vezes (a primeira em 1979) tentou derrubar o regime democrático instaurado depois da morte do ditador: Antonio Tejero Molina, o oficial da Guarda Civil que em Fevereiro de 1981 entrou armado no Congresso de Deputados para restaurar a ditadura. Foi condenado a 30 anos de prisão, saiu em liberdade condicional em 1996 e ainda na cadeia criou um partido de extrema-direita, que desapareceu por nos anos de 1980 não ter tido grandes resultados eleitorais.

“Que faz aqui”, perguntaram-lhe os jornalistas. “Estou onde Espanha precisa, como sempre”, respondeu, citado pelo El País. Ramón Molina, filho de Tejero e pároco em Málaga, foi quem oficiou a missa do segundo enterro de Francisco Franco. 

Na frente política, a exumação recebeu o apoio da esquerda e críticas moderadas à direita. O Partido Popular acusa Sánchez de abrir feridas para fins eleitoralistas - o país vai a votos a 10 de Novembro. O líder, Pablo Casado, disse tratar-se de “um acto de propaganda” e que o seu partido não vai perder “nem um minuto a falar do que se passou há 50 anos”, uma história “felizmente superada”.

O dirigente do Vox (extrema-direita), Santiago Abascal, disse à Rádio Nacional Espanhola que o Governo quis “desafiar os espanhóis” com o objectivo de “retirar legitimidade à Transição e à coroa, e derrubar Felipe VI e a cruz do Vale dos Caídos”. “O abutre da Moncloa começou uma campanha de ódio. Os mortos respeitam-se, seja Franco seja a Pasionaria”, escreveu no Twitter.

"Hoje é um dia muito triste”, disse Francis Franco. “Querem passar a imagem de que o meu avô está sozinho, mas não está”.

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