A insustentável leveza do Limiano

Não quero acreditar que Teresa Leal Coelho tome uma posição contrária à manifestada pelo PSD e que o poderá condicionar nas próximas eleições autárquicas.

Quando, em 2017, o PSD se apresentou a eleições autárquicas, via na política urbanística da cidade um dos seus maiores problemas. A gestão urbanística era desenvolvida, desde 2007, por Manuel Salgado e na sua gestão víamos uma das principais fontes de discórdia. E esta discórdia não foi novidade em 2017, já era clara desde as autárquicas de 2009.

Teresa Leal Coelho foi a cabeça de lista pelo PSD em 2017 e (aparentemente) abraçou de forma clara essa divergência, muito mais do que uma mera divergência política, tratava-se de uma divergência sobre a visão para a cidade. A própria, em campanha eleitoral, disso mesmo deu várias vezes nota, tanto quanto anunciou: “Vou intervir no Marquês de Pombal, vou intervir na Avenida da Liberdade. Vou colocar outra vez a Avenida da Liberdade para descer e para subir na íntegra. Porque é isso que serve a cidade de Lisboa.” Mas também quando lançou duras críticas ao ajuste direto que foi feito “na colina de São Pedro de Alcântara”.

Aqui vislumbraram-se duas divergências profundas, não sanáveis, que traduzem dois conceitos muito diferentes e muito importantes. Com o Marquês de Pombal e Avenida da Liberdade, Teresa Leal Coelho demonstrava uma divergência profunda com Manuel Salgado em termos de visão para a cidade. Já na divergência relativa à colina de São Pedro de Alcântara, Teresa Leal Coelho mostrava que também tinha uma visão diametralmente oposta à de Salgado, desta feita no modelo de contratação pública. Assim, Teresa Leal Coelho parecia ter percebido e abraçado as duas divergências insanáveis que o PSD tem com Manuel Salgado: visão de cidade e forma de gerir processos.

E porque é que isto é importante? Porque o que está em causa na nomeação de Manuel Salgado para a SRU não é nem um mero ato de gestão, nem uma ação caridosa para quem está cansado e, alegadamente, em (pré)reforma. A nomeação de Manuel Salgado para a direção da SRU é continuar a dar oportunidade a alguém, com quem se tem uma divergência profunda na visão urbanística, de continuar a exercer o poder que só acumulou prejuízos para Lisboa.

É verdade que, desde que assumiu a vereação, Teresa Leal Coelho tem tido uma postura diferente da que tinha defendido antes das eleições, nomeadamente apoiando projetos controversos (e que tiveram a oposição do PSD) como a “Operação Integrada de Entrecampos” ou o projeto publicamente denominado “Portugália Plaza”.

Por isso não quero acreditar que, perante uma posição do PSD, que seguiu os preceitos fundamentais relacionados com a imposição de disciplina de voto, sobretudo por se tratar não de uma matéria de gestão corrente, não de uma matéria de reserva de consciência, mas sim por se tratar de uma matéria de índole estratégico, determinante para o próximo mandato, Teresa Leal Coelho tome uma posição contrária à manifestada pelo PSD e que o poderá condicionar nas próximas eleições autárquicas.

Não quero acreditar que Teresa Leal Coelho justifique essa ação tendo por base uma declaração pública feita por outro vereador do PSD que, apesar de a ter feito, compreendeu a importância que o partido atribui a esta matéria e decidiu rever a sua própria posição em conformidade. Isto apesar de o vereador do PSD, a 1 de agosto, em declaração ao jornal PÚBLICO, ter expressado uma opinião pessoal que em nada vincula o partido.

Por isso não quero acreditar, nem consigo perceber, em que momento o PSD se comprometeu a viabilizar a manutenção de Manuel Salgado à frente dos destinos da SRU, como agora afirma Teresa Leal Coelho. Por fim, não quero acreditar, porque não posso conceber, que uma vereadora do PSD na Câmara de Lisboa, quando está em causa a transparência da gestão da cidade, se preste ao inqualificável papel de queijo Limiano.

O autor escreve segundo o novo Acordo Ortográfico 

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