Tomás Correia sai da presidência da associação Montepio a 15 de Dezembro

Pedido de escusa foi apresentado e aceite esta tarde, durante a reunião do conselho geral da associação mutualista, dona do Banco Montepio. Virgílio Lima pode ser o senhor que se segue

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Miguel Manso

O presidente da Associação Mutualista Montepio Geral (AMMG), Tomás Correia, pediu hoje escusa da presidência durante a reunião do conselho geral da instituição, tendo a solicitação sido aceite, disse à Lusa fonte oficial da associação.

“[Tomás Correia] pediu a escusa”, tendo-se seguido a deliberação pelos conselheiros, na reunião do conselho geral que decorreu esta tarde, em Lisboa.

“Terminou a reunião. Foi aceite o pedido de escusa”, afirmou a mesma fonte, assinalando que os membros do conselho geral não se opuseram ao pedido de Tomás Correia no sentido de abandonar a presidência da AMMG, feito hoje durante a reunião daquele órgão da instituição, em Lisboa.

A mesma fonte confirmou também que Tomás Correia, 73 anos, abandonará o cargo em 15 de Dezembro, “depois da festa de Natal” da associação.

Segundo a mesma fonte, Tomás Correia fez um discurso de 10 minutos em que criticou o “ataque” de “instituições” à Associação Mutualista Montepio Geral. A AMMG é dona do Banco Montepio (BM), nova designação da Caixa Económica Montepio Geral (CEMG), actualmente presidida por Carlos Tavares. 

O Expresso avança que Virgílio Lima, vogal do conselho de administração que faz parte da equipa do presidente, será o senhor que se segue à frente da associação mutualista. 

De acordo com o site da AMMG, Tomás Correia preside à associação mutualista desde 2008. Vergílio Lima é actualmente vogal do conselho de administração e membro do conselho geral e de supervisão e de supervisão da CEMG (Banco Montepio) e preside à N Seguros. 

As notícias da saída de Tomás Correia intensificam-se nas últimas semanas, apesar do próprio gestor ter afirmado que não seria na reunião desta quinta-feira que iria pedir para sair da liderança da associação que liderou durante 11 anos.

“Não estou a ser afastado. E não me condicionam com essa conversa. Dia 24 não saio de certeza absoluta. Podem ficar tranquilos”, disse o líder da mutualista Montepio aos jornalistas há uma semana.  

“Eu não sou condicionável por coisa nenhuma. Os senhores podem escrever, dizer, falar o que quiserem. Eu nunca fui condicionável na minha vida. Eu sou autónomo desde os meus 10 anos de idade, vivo com a minha própria capacidade e com o meu próprio discernimento”, afirmou Tomás Correia aos jornalistas a 17 de Outubro, citado pela Lusa.

Nesse dia, o PÚBLICO avançava que, concluídas as eleições legislativas, a Autoridade de Supervisão de Seguros e Fundos de Pensões (ASF), com a tutela da AMMG, terá dado praticamente por fechada a análise à idoneidade de Tomás Correia.

Segundo o que o PÚBLICO apurou, a ASF terá entretanto concluído internamente que o actual presidente do Montepio não reúne todas as condições para fazer parte de órgãos executivos de uma instituição que gere poupanças e reformas futuras de parte substancial dos mais de 620 mil associados da mutualista, os que subscreveram, por exemplo, produtos financeiros aos balcões da CEMG, agora Banco Montepio.

Tomás Correia, recorde-se, é visado em vários processos judiciais e contra-ordenações do Banco de Portugal (BdP), relativas ao período em que foi presidente da Caixa Económica Montepio Geral (CEMG), agora Banco Montepio. O BdP já condenou Tomás Correia ao pagamento de uma coima de 1,25 milhões, que o Tribunal da Concorrência de Santarém veio a anular em Setembro, por considerar que o supervisor violou o direito à defesa do arguido na fase administrativa (o BdP já recorreu). 

A ASF teria então já dado, por vias informais, um sinal sobre a sua deliberação, dando tempo para Tomás Correia preparar a sua sucessão, deixando a porta aberta a uma saída do gestor da administração pelo seu próprio pé - processo cujo primeiro passo acabou por acontecer esta quinta-feira -, antecipando o fim do mandato, mas eventualmente permanecendo em funções não executivas.

Recorde-se que o actual mandato de Tomás Correia à frente da AMMG resulta das disputadas eleições internas realizadas há quase um ano. A 7 de Dezembro de 2018, Tomás Correia voltou, pela quarta vez, a ganhar a eleição para presidir à AMMG no triénio, de 2019 a 2021, com 43,2% dos cerca de 43.200 votos declarados elegíveis para efeitos de contagem (o que exclui 3.585 boletins considerados inválidos). 

Nas eleições vistas como as mais disputadas de sempre da associação, o gestor conquistou 18.051 votos, garantindo os outros dois candidatos mais 56,8% dos votos: António Godinho (lista C), ficou em segundo lugar com 15.133 votos, 36,3%, e Fernando Ribeiro Mendes (lista B) ficou com o terceiro posto, com 8.557 votos, cerca de 20,5%.

A mudança da liderança da AMMG ocorre então ao mesmo tempo que o titular da pasta da tutela governativa também muda. Para a próxima legislatura António Costa confiou a tutela do sector da economia social a Ana Mendes Godinho, próxima ministra do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social.

A ainda secretária de Estado do Turismo passará a partir de sábado – momento em que o Governo tomará posse - a ter a responsabilidade de tutelar o Montepio e, por inerência, a responsabilidade política de qualquer decisão sobre a continuidade de Tomás Correia na administração da instituição.

Outra questão, já avançada pelo PÚBLICO, é que Vicente Mendes Godinho, director do departamento de Autorizações e Registos da ASF é casado com a sucessora de Vieira da Silva na pasta do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social.               

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