Cartas ao director

Carta de eleitor

Como justificar uma percentagem de abstenção nas eleições legislativas 2019 a rondar a ordem dos 50%? Descrédito da classe política em geral, crise ideológica associada ao desgaste esquerda-direita, proliferação de forças partidárias com mensagens insuficientes para mobilizar um eleitorado desinteressado pela participação política? Independentemente das causas, o exercício do dever de voto não pode deixar de ser um desígnio nacional, sob pena de comprometermos a qualidade da democracia. Em vez de alternativas punitivas que gerariam sempre elevada contestação, seria um desafio interessante colocar-se em discussão pública a concessão de incentivos ao voto.

Por exemplo, “carta por pontos”. Ao título de condução de cada condutor são atribuídos 12 (doze) pontos desde o dia 1 de Junho de 2016. Por cada contraordenação grave ou muito grave, ou crime rodoviário, serão subtraídos pontos. Se não praticar contraordenações graves, muito graves ou crimes rodoviários, podem ser atribuídos pontos. Se praticar uma contraordenação grave ou muito grave, para além da coima e eventual inibição temporária de conduzir, também perderá pontos.

Quando provada a sucessão de votações em todos os actos eleitorais, a carta de eleitor podia ser algo análogo, atribuindo, por exemplo, benefícios fiscais em sede de IRS a contribuintes activos, descontos nas escolas de condução a jovens com idades entre os 18 e os 25 anos, crédito de um ponto na classificação final de conclusão de licenciatura de estudantes universitários, e tantos outros exemplos que podia aqui citar, com repercussão na vida dos cidadãos.

Ana Sirage, Coimbra

Reitores

O reitor da Universidade de Coimbra, na altura em que no top das notícias estava a problemática da crise climática e ambiental, entrou no jogo e anunciou que nas cantinas da universidade vai deixar de se comer carne de vaca. O reitor da Universidade do Porto, em artigo de opinião, manifestou-se contrário a qualquer planificação na formação e cursos do ensino superior, que considera uma visão sovietizante, por sobrepor o interesse colectivo ao individual.

No âmbito da carne de vaca, talvez a atenção do reitor de Coimbra se devesse centralizar em ajudar a contrariar os modelos de produção intensiva de carne e a muita que importamos, defendendo a nossa produção local e as raças autóctones para abastecer as cantinas e não privar os estudantes que gostem, de comer um bife.

É discutível que o reitor do Porto defenda que na organização do superior não exista qualquer preocupação com áreas e actividades onde exista carência técnica especializada; e, também, na criação de condições para que licenciados e doutorados exerçam e concretizem os ensinamentos recebidos. 

Ausente das intervenções dos reitores esteve a limitação de acesso ao ensino superior e as dificuldades que impedem tal, como as de ordem económica, onde se incluem os baixos salários das famílias, as propinas, as deslocalizações e alojamento de estudantes. Também a precariedade e outros os problemas que afectam a classe docente foram ignorados.

Ernesto Silva, Vila Nova de Gaia 

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