O cohousing pode combater a solidão? Especialistas discutem no Porto

“Pensar o Comum: cohousing como solução habitacional” é o desafio lançado pelo Mira Fórum, em Campanhã, a arquitectos especialistas neste conceito de partilha de habitação.

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Brandon Griggs/Unsplash

O cohousing — conceito que se assemelha a uma cooperativa de habitação para combater a solidão e a falta de terrenos nas cidades, reduzindo custos de construção — é o tema do evento Retomar a Cidade, que decorre esta terça-feira, 22 de Outubro, no Porto. O convívio de crianças num jardim, a partilha de uma cozinha e lavandaria, o combate à solidão, a redução dos custos da construção imobiliária ou o tornear a escassez de terrenos nas cidades são algumas das vantagens elencadas por especialistas que participam no evento, que arranca no Mira Fórum, em Campanhã (Porto), pelas 18h30, e cujo tema é “Pensar o Comum: cohousing como solução habitacional”.

Em declarações à Lusa, Inca Drohn, arquitecta alemã a trabalhar no atelier arch.id, observa que em Berlim (Alemanha), cidade conhecida como “capital dos solteiros”, o conceito de cohousing (ou coabitação) é um fenómeno que vem combater a solidão, especialmente quando os solteiros começam a envelhecer e a tornar-se “mais solitários”.

A escassez de terrenos citadinos para construção de habitação é outro problema que o cohousing pode vir suavizar. “Hoje estamos a enfrentar novos desafios, uma vez que a disponibilidade de terreno acessível é escasso”, defende Inca Drohn, que vive num complexo de cohousing. Segundo a especialista, a crescente densidade da cidade “requer novas soluções de design urbano e arquitectónico” e, por isso, defende que é preciso encontrar uma solução onde todos ganhem, por exemplo combinando o cohousing com o “aspecto recreativo da natureza, com árvores, jardins em terraços ou jardins verticais”.

Os projectos de cohousing em Berlim tiveram o seu pico entre 1996 e 2013 e há mais de 200 registados naquela capital nos últimos 15 anos, sendo que para os próximos 30 estão idealizados cerca de 500 para a Alemanha, acrescentou Inca Drohn. Na Alemanha, há complexos onde se partilha o luxo de ter uma biblioteca, um ginásio, uma piscina, “spa” ou oficinas com ferramentas para consertar bicicletas, que, de outra forma, os seus habitantes não poderiam pagar individualmente, explica a especialista.

Na vizinha Espanha, há cerca de uma centena de propostas de cohousing com dois modelos principais — multigeracionais e para seniores—, embora também haja projectos para LGBTQ (Lésbicas, Gays, Bissexuais e Transgénero), avança à Lusa Josep Maria Montaner, professor na Escola Técnica Superior de Arquitectura de Barcelona, que também participa no Retomar a Cidade.

Segundo aquele especialista, a maioria dos projectos de cohousing espanhóis estão localizados na Catalunha (10 das quais em Barcelona), em Madrid, no País Basco, Valência, Ilhas Baleares e Andaluzia. “Cada região com as suas próprias regras”, observa Josep Maria Montaner, indicando que nas Ilhas Baleares é dado aos futuros residentes a terra e o projecto de arquitectura.

Já em Barcelona, as pessoas recebem o direito ao uso da terra para construção por um período de tempo de 75 anos, com a contrapartida de colaborar na vida comunitária e deco projecto de arquitectura permitir a igualdade de género e a acessibilidade para pessoas deficientes. Um dos ícones de cohousing em Barcelona é o La Borda, no bairro La Bordeta, e cuja construção é essencialmente em madeira. O La Borda é um “projecto piloto intergeracional”, co-promovido pelos futuros residentes, que previu zonas comuns como jardins-terraço, espaços ao ar livre para crianças, lavandaria, pátio para estacionar bicicletas, dois quartos para hóspedes e uma cozinha-sala comum, descreveu Josep Maria Montaner.

Em Portugal, o conceito de cohousing, que nasceu nos anos 1960-1970 na Dinamarca, ainda é embrionário, mas no Porto estão previstos dois projectos-piloto destinados a seniores activos, criados através de um “protocolo de cooperação” que a Misericórdia do Porto assinou com a associação Hac.Ora.

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