O futuro da Europa tem robôs que ensinam ginástica e impressoras de comida saudável

Este ano, a exposição de projectos do Instituto Europeu de Inovação e Tecnologia incluia impressoras de comida, robôs que fazem companhia a idosos e aparelhos para ajudar crianças com diabetes.

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O robô SARA em acção SARA ROBOTICS

A SARA, uma robô de palmo e meio com olhos feitos de píxeis, foi das visitantes que mais atenção recebeu esta semana durante a exposição do Instituto Europeu de Inovação e Tecnologia (EIT) em Budapeste, na Hungria.

O ecrã que levava ao peito alternava entre projectar adivinhas para entreter os convidados, perguntas e até vídeos de ginástica. E quando a instrutora no ecrã levantava o braço direito, ou esquerdo, no ecrã, a SARA também o fazia. O nome é a sigla inglesa para Social Autonomous Robotic Assistant (Assistente Robótica Autónoma Social).

Este ano, a robô não estava nomeada aos prémios EIT, mas visitou a feira como um dos exemplos dos projectos desenvolvidos pelo instituto que foi criado em 2008 para fomentar a inovação a nível europeu ao juntar estudantes com investigadores e parceiros de negócio.

O PÚBLICO foi descobrir um pouco mais sobre a tecnologia europeia que está a ser desenvolvida para facilitar a vida de todos.

Uma pulseira para ajudar crianças com diabetes?

Diabeloop D4Kids é um dispensador de insulina automático para crianças com diabetes tipo 1 – uma doença auto-imune em que o próprio corpo ataca certas células do pâncreas responsáveis pela produção de insulina. O sistema desenvolvido por uma empresa francesa foi um dos cinco premiados deste ano da EIT.

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“As pessoas com diabetes tipo 1 têm de fazer dezenas de decisões médicas durante o dia. Queremos ajudá-las a controlar melhor os níveis de glicémia reduzindo ao mínimo o impacto da doença especialmente nos mais novos”, diz o criador da Diabeloop, Marc Julien, ao PÚBLICO. Com a vitória, Julien espera que os reguladores franceses sejam mais céleres a autorizar a versão da Diabeloop para crianças no mercado.

Tal como na versão para adultos, as crianças têm acesso a uma aplicação móvel onde podem ler os níveis de glucose. Porém, não podem modificar os parâmetros do dispensador de insulina. Essa função apenas está disponível para os encarregados de educação que recebem um alerta quando os mais novos estão em risco de hipoglicémia (falta inesperada e repentina de glicose no sangue que pode levar à morte) ou hiperglicemia (excesso de glicose no sangue). Em casos de hipoglicémia – que é a condição mais grave – as crianças também recebem um alerta vermelho para “ingerirem açúcar” rapidamente.

“O sistema é uma forma de ajudar os pais a terem mais controlo e deixar que os mais novos não estejam sempre a pensar na próxima dose de insulina”, explica Julien.

Imprimir comida mais saudável?

A equipa da Natural Machines, com escritórios em Espanha e nos EUA, esteve em Budapeste para mostrar como a impressora Foodini pode melhorar a alimentação dos europeus. No futuro, deve permitir que qualquer pessoa recrie os produtos de que tanto gosta (raviólis, pão fatiado, bolachas integrais), em casa, com alimentos frescos como matéria-prima.

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“Imprimir comida não é uma ideia assim tão doida. Qualquer fabricante de produtos alimentares já cria alimentos ao empurrar ingredientes através de tubos”, diz ao PÚBLICO a fundadora Lynette Kuczma.

O projecto nasceu há sete anos para assegurar a qualidade dos produtos de restaurantes que abrem filiais à distância. “Rapidamente percebemos que podia ir mais longe. A Foodini pode ser uma forma de produzir alimentos que normalmente compramos processados e cheios de aditivos, ou uma forma de criar refeições com calorias ou vitaminas específicas”.

Hoje, uma impressora Foodini custa cerca de 36 mil euros, mas apenas são usadas a nível industrial em restaurantes, hospitais, lares de idosos, ou escolas. Cada impressora pode ter até oito cápsulas (a imprimir partes diferentes de um prato) em simultâneo. 

“Um dos casos interessantes são os lares de idosos onde há muitas pessoas que precisam de comida mole”, avança Kuczma. “Há uma maior ingestão com alimentos impressos porque se pode recriar uma perna de frango com uma aparência ‘normal’, mas com uma textura mole. Isto ajuda o idoso a sentir-se mais integrado à refeição.” A Foodini também facilita o reaproveitamento de alguns alimentos (por exemplo, restos na espinha de peixes) ao torná-los visualmente apelativos.

Uma robô que ensina ginástica?

O maior objectivo do programa informático SARA é garantir que idosos em hospitais e lares passem menos tempo sozinhos. Está a ser desenvolvido por uma equipa na Holanda que quer dar resposta à falta de profissionais nestas instituições que obriga enfermeiras a terem pouco tempo para falar com os pacientes. A SARA atenua o problema ao projectar fotografias, organizar jogos (por exemplo, identificar cores no ecrã), ou tentar motivar os idosos a manterem-se activos através de exercícios simples. Terminou recentemente o primeiro projecto-piloto na Finlândia.

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“No princípio, há algum cepticismo a interagir com a robô, mas rapidamente as pessoas se adaptam e o maior problema é apenas quando a robô não fala alto o suficiente”, diz ao PÚBLICO Anabella Hermans, especialista em ciência cognitiva e responsável por melhorar a experiência do utilizador com a SARA. O “corpo” é o do robô chinês Sanbot, desenvolvido pela Qihan Technology. “Escolhemos este robô porque não é muito alto e consegue estar ao nível dos olhos dos pacientes quanto estão sentados. Além disto, tem uma aparência humanóide. Dá para perceber que quer ajudar, mas não se confunde com um ser humano”, explica Hermans. 

No futuro, os pacientes devem ser capazes de chamar a SARA quando precisam dela. Por enquanto, o sistema funciona através de uma plataforma que define o percurso do robô através de várias trajectórias pré-programadas. “Queremos que os profissionais de saúde possam enviar a SARA a pacientes específicos. Por exemplo: ‘vai ter ao quarto da senhora Johnson'”, diz Hermans.

Uma caixa para dormir melhor?

A Sleepiz é uma pequena caixa desenvolvida na Suíça. Fica na mesa-de-cabeceira para registar a qualidade de sono, medindo o batimento cardíaco e o ritmo respiratório. “A vantagem da nossa caixa é que permite que o utilizador possa parar de pensar no problema e não sinta a pressão de ter de estar sempre com um sensor agarrado ao pulso”, explica Max Sieghold, um dos fundadores, PÚBLICO.

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A equipa explica que é utilizada tecnologia inspirada no radar para interpretar os movimentos do corpo do utilizador (o ideal é que caixa esteja a cerca de um metro de distância). A informação recolhida é enviada directamente ao profissional de saúde.

“Nós queremos vender os nossos produtos a médicos e são eles que decidem a que pacientes dar a caixa. Para já, o nosso aparelho não está conectado a nenhuma aplicação do paciente para evitar que estes se preocupem desnecessariamente com resultados”, explica Sieghold. O maior objectivo da Sleepiz é ajudar médicos a diagnosticar condições como a apneia do sono, um problema em que a respiração da pessoa pára repentinamente, durante o sono, antes de recomeçar levando os doentes a acordarem exaustos.

O PÚBLICO viajou a convite do Instituto Europeu de Inovação e Tecnologia

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