Três espécies de insectos esperam lei para serem comidos em Portugal

Uma associação quer pôr os portugueses a experimentar insectos. A Portugal Insect acredita que eles vão fazer parte da mesa nacional.

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Canapes de queijo-creme com larvas de Tenebrio, mais conhecido por bicho-da-farinha,Canapes de queijo-creme com larvas de Tenebrio, mais conhecido por bicho-da-farinha Daniel Rocha,Daniel Rocha
Canapes de queijo-creme com larvas de Tenebrio, mais conhecido por bicho-da-farinha
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Canapes de queijo-creme com larvas de Tenebrio, mais conhecido por bicho-da-farinha Daniel Rocha
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Larvas de Tenebrio, mais conhecido por bicho-da-farinha Daniel Rocha

O mundo tem pelo menos duas mil espécies de insectos comestíveis e em Portugal a indústria está a investir em três: o grilo, o gafanhoto e o tenebrio, mais conhecido como larva-da-farinha. Falta apenas que as leis na União Europeia (UE) facilitem a produção destes alimentos, em larga escala, para pessoas e animais.

Há anos que a Organização para a Alimentação e a Agricultura (FAO) defende que o consumo de insectos (entomofagia), que é já uma prática de dois mil milhões de pessoas em todo o mundo, é uma alternativa promissora à produção convencional de carne, com vantagens para a saúde e o ambiente. Nas quantidades correctas, os insectos podem ser fonte alternativa de proteína, mais sustentável do que a carne ou o peixe.

Com o Dia Mundial do Insecto Comestível marcado para quarta-feira, a Associação Portuguesa de Produtores e Transformadores de Insectos – Portugal Insect está a organizar uma conferência para sensibilizar os portugueses para o tema na Universidade Nova de Carcavelos, em Cascais. As palestras marcadas para sábado, 26 de Outubro, incluem dicas para integrar os insectos na alimentação humana (por exemplo, em ementas escolares) e informação sobre o enquadramento legal do sector. No final da conferência vai haver uma sessão de degustação com o chef Chakall: será possível provar insectos processados, em forma de bolachas, insectos inteiros e sobremesas e entradas com insectos na sua composição.

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Tsukemen de insectos (na imagem) é um prato de noodles com grilos e minhocas fritas disponível no Japão Reuters

O presidente do Portugal Insect, Rui Nunes lembra, no entanto, que a experiência se realiza a título excepcional porque ainda é proibido o comércio de insectos para alimentação. “O que está em causa é que para os insectos poderem ser consumidos tem de se apresentar dossiers de segurança alimentar. E ainda nada está aprovado”, explica. Por uma questão de segurança alimentar, a produção tem de ser controlada e em cativeiro, de forma segura. O que acontece, diz, é que, por força de um regulamento europeu (2015/2283), não é permitido esse tipo de comercialização em Portugal.

A associação portuguesa não tem dúvidas, porém, de que no futuro os insectos farão parte da alimentação em todos os países. A propósito da iniciativa marcada para o próximo sábado, Rui Nunes destacou que em Portugal já existem alguns produtores de insectos. No país já se investe em algumas espécies de grilos, na larva da farinha e mesmo em gafanhotos, para alimentação humana e animal. Mas, para já, alimentos a partir de insectos não são permitidos junto da população nem sequer podem servir para alimentar animais, excepto para aquacultura.

O presidente da associação explica que a proibição de rações com fontes proteicas a partir de animais existe desde a “doença das vacas loucas”, que afecta o gado descoberta nos anos 1980 e que será provocada por um agente infeccioso chamado prião e que supostamente é constituído apenas por proteína. Rui Nunes, fundador da empresa Entogreen, explica que na altura se proibiu que os animais fossem alimentados por outros animais, mas defende que a proibição seja levantada para os porcos e as aves. E que os insectos possam ser comercializados e consumidos pela população porque são um produto “normal” e “não é estranho nem esquisito”.

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Padeiros da Fazer a confeccionar o pão de insectos na Finlândia Reuters

Melhor para o ambiente?

José Guimarães, vice-presidente da direcção da Portugal Insect e fundador da empresa Nutrix, diz também à Lusa que a produção e consumo de insectos tem um lado muito importante em termos de “impactos ambientais”. Quer no consumo de água, na quantidade de alimentos, no espaço necessário, e na produção de gases com efeito de estufa, o uso de insectos como fonte de proteína tem um impacto “significativamente inferior” quando comparado com outras produções tradicionais.

Por tudo isto, Rui Nunes espera que no próximo ano todos os entraves sejam desbloqueados a nível europeu e uma decisão política em Portugal abra portas a um sector “em franco crescimento”, que vai ficar por conta de seis países se nada for feito.

Na Portugal Insect, a pensar numa maior aceitação do consumidor, discute-se a melhor forma de apresentar os insectos: se desfeitos numa farinha ou numa barra, se inteiros, “ao natural”.

José Guimarães está optimista. A alimentação transforma-se ao longo dos tempos. “Há 20 anos, quando o sushi surgiu, as pessoas reagiram de forma adversa. Hoje nem sequer é tema de conversa”, diz Guimarães, recordando que, nos EUA, há dois séculos, os prisioneiros eram alimentados com lagosta – e reclamavam por isso. “A nossa percepção em relação aos alimentos vai mudando.”

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