Sporting rescinde todos os protocolos com Juve Leo e Directivo Ultra

Resolução é determinada “em virtude da escalada de violência que ontem culminou com tentativas de agressões físicas a dirigentes e outros adeptos do Sporting”.

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O Sporting anunciou este domingo ter rescindido todos os protocolos com duas das claques do clube: a Juventude Leonina e o Directivo Ultra. 

“Esta resolução é determinada em virtude da escalada de violência que ontem [sábado] culminou com tentativas de agressões físicas a dirigentes e outros adeptos do Sporting”, diz o clube em comunicado. Este sábado, o presidente leonino foi alvo de cânticos hostis durante o jogo de futsal com os Leões de Porto Salvo. Frederico Varandas abandonou o Pavilhão João Rocha, a casa do Sporting para esta modalidade, sob escolta policial.

O clube e a SAD informam que, “na presente data, resolveram, com efeitos imediatos, os protocolos celebrados, no passado dia 31 de Junho, com a Associação Juventude Leonina e com o Directivo Ultras XXI – Associação”.

Além dos actos deste sábado, “regista-se também o incumprimento sistemático, por aqueles Grupos Organizados de Adeptos (GOA), das diversas obrigações que para si resultam dos referidos protocolos”, do cumprimento da lei aos respeito pelos estatutos do Sporting, patente “nas multas suportadas” pela SAD e clube.

Segundo o clube e a SAD, estas duas claques têm “vindo a faltar sistematicamente no apoio devido aos atletas do Sporting CP, nomeadamente da equipa principal de futebol, razão primeira da celebração dos referidos protocolos”.

Na nota divulgada ao início da noite de domingo, o Sporting diz que procurou já “reformatar a relação que vinha sendo mantida” com os grupos organizados de adeptos. “Reformulámos os protocolos de relacionamento, reduzindo benefícios e aproximando os membros dos GOA dos direitos e obrigações que os demais sócios”, detalha.

O clube e a SAD referem que “os crimes cometidos em Alcochete, e que se traduziram no maior ataque desportivo, financeiro e humano ao Sporting Clube de Portugal, estão na memória de todos”. “Mas o que aconteceu tem de servir para que se retirem ilações e devemos, no limite, aprender com essa tragédia. Aprender implica não repetir os erros do passado e não tolerar as tentativas de repetição como o ocorrido na mais recente invasão à garagem em Alvalade. E com que intuito? Mais agressões, mais rescisões, mais perdas.”

Nas razões da denúncia dos protocolos está também o facto de estar “em dívida a segunda prestação relativa à regularização da bilhética de 2018/2019, vencida em 9 de Outubro passado”.

“O Sporting Clube de Portugal é uma instituição centenária, que sempre fez o seu trajecto no respeito do desporto e que não pode compactuar com comportamentos violentos, contrários à lei e que apenas contribuem para o afastamento dos restantes sócios e adeptos dos recintos desportivos”, refere o texto. “Esta é uma questão muito séria, não exclusiva do Sporting Clube de Portugal, e que a partir dum certo momento tem de ser tratada pelo Estado Português.”

Leia o comunicado na íntegra:

«O Sporting Clube de Portugal e a Sporting Clube de Portugal - Futebol, SAD informam que, na presente data, resolveram, com efeitos imediatos, os protocolos celebrados, no passado dia 31 de Junho, com a Associação Juventude Leonina e com o Directivo Ultras XXI - Associação.

Esta resolução é determinada em virtude da escalada de violência que ontem culminou com tentativas de agressões físicas a dirigentes e outros adeptos do Sporting Clube de Portugal.

Regista-se também o incumprimento sistemático, por aqueles Grupos Organizados de Adeptos (GOA), das diversas obrigações que para si resultam dos referidos protocolos, nomeadamente a obrigação prevista na cláusula 3.1., mediante a qual “O GOA obriga-se a que os responsáveis dos GOA, os Sócios SCP dos GOA ou simpatizantes cumpram a lei (nomeadamente a Lei n.º 39/2009 de 30 de Junho, na redacção resultante da Lei n.º 52/2013, ou outra que venha a suceder-lhe), os Estatutos do SCP e os Regulamentos, no respeito das Instalações Desportivas do SCP e das pessoas e bens e o disposto no presente protocolo”, de que são exemplo as multas suportadas pelo SCP e SCP - Futebol, SAD por comportamento dos adeptos.

Mas, mais importante ainda do que estes factos, a resolução é determinada por aqueles GOA terem vindo a faltar sistematicamente no apoio devido aos atletas do Sporting CP, nomeadamente da equipa principal de futebol, razão primeira da celebração dos referidos protocolos. Com efeito, a única razão de fundo para a celebração dos protocolos é permitir aos GOA as melhores condições para o apoio aos atletas das equipas do Sporting CP; e, faltando esse apoio, falta, naturalmente, a razão de ser da vigência do protocolo.

O SCP e a SCP - Futebol, SAD cumpriram, integralmente, os protocolos; e esperavam da Associação Juventude Leonina e do Directivo Ultras XXI - Associação igual cumprimento integral.

O Sporting Clube de Portugal é uma instituição centenária, que sempre fez o seu trajecto no respeito do Desporto e que não pode compactuar com comportamentos violentos, contrários à lei e que apenas contribuem para o afastamento dos restantes Sócios e adeptos dos recintos desportivos. O Sporting Clube de Portugal rege-se pelos seus princípios e não abdicará deles, por muito difícil que seja alterar hábitos e privilégios antigos e sem qualquer justificação dentro do Universo Sportinguista.

Procurámos, com o máximo de abertura possível e pensando exclusivamente no apoio às nossas equipas, reformatar a relação que vinha sendo mantida com os nossos GOA e reformulámos os protocolos de relacionamento, reduzindo benefícios e aproximando os membros dos GOA dos direitos e obrigações que os demais Sócios do Sporting Clube de Portugal têm.

O futuro do Sporting CP define-se inevitavelmente nas decisões que tomarmos hoje e há coisas que já não podem ser toleradas, menosprezadas e que temos de enfrentar com coragem e lucidez. Não decidir será causador dos maiores danos para o destino do Clube.

O presente do Clube é também uma consequência do seu passado. Os crimes cometidos em Alcochete e que se traduziram no maior ataque desportivo, financeiro e humano ao Sporting Clube de Portugal estão na memória de todos e a História não se apaga. Foram dezenas de milhões de euros de prejuízos, danos reputacionais inestimáveis para a imagem, nome e marca Sporting CP. Foi a página mais negra da História do Sporting Clube de Portugal com um impacto muito negativo para o bom nome do Clube, infelizmente com consequências que perduram e dificultam a relação do Clube com outros clubes, dirigentes, agentes, jogadores e treinadores. Mas o que aconteceu tem de servir para que se retirem ilações e devemos, no limite, aprender com essa tragédia. Aprender implica não repetir os erros do passado e não tolerar as tentativas de repetição como o ocorrido na mais recente invasão à garagem em Alvalade. E com que intuito? Mais agressões, mais rescisões, mais perdas.

Uma claque, seja ela qual for, tem uma função: apoiar as equipas do clube. Se é usada para outros fins, se ameaça sócios nos estádios, recintos e assembleias gerais, se usa a violência física ou verbal contra atletas, treinadores, técnicos, dirigentes e outros sócios, se essa violência é gratuita ou patrocinada, se essa violência é espontânea ou instigada, se acha que está acima dos outros sócios, se ataca e desvaloriza o clube e o seu bom nome, se causa prejuízos de milhões de euros ao clube, se faz com que o clube pague centenas de milhares de euros em multas, se é notícia pelos piores motivos, se nem sequer apoia o Sporting Clube de Portugal, se faz com que os atletas sintam que “jogamos sempre fora”, então não está a servir o Sporting Clube de Portugal, então não está a desempenhar a função para que foi criada.

Por fim, está em dívida a segunda prestação relativa à regularização da bilhética de 2018/2019, vencida em 9 de Outubro passado, facto que origina, nos termos da Lei, o vencimento automático de todas as demais prestações previstas no Anexos aos Protocolos.

Assim, decidiu o Sporting Clube de Portugal, a bem dos seus Sócios, atletas, dos seus profissionais, a bem dos superiores interesses desportivos e financeiros do Sporting Clube de Portugal, e do seu futuro, terminar, com efeitos imediatos, o protocolo existente com quem violou dolosamente e conscientemente obrigações desse mesmo protocolo, com quem violou os estatutos do Sporting Clube de Portugal, com quem violou a lei da República Portuguesa, com todas as consequências que daí advirão.

Esta é uma questão muito séria, não exclusiva do Sporting Clube de Portugal, e que a partir dum certo momento tem de ser tratada pelo Estado Português. A violência no desporto e os meios de combate à mesma não são uma questão que o Clube deva tratar sozinho. Mas esta não é também uma questão somente do Estado Português, porque a violência no desporto preocupa e muito as mais altas instâncias do Futebol Mundial, UEFA, FIFA. Em inúmeros Estados Europeus, nomeadamente em Inglaterra, houve coragem para lidar, combater e erradicar a violência dos estádios e recintos desportivos.

Esta questão é demasiado séria. Apelamos que, não obstante divergências legítimas, independentemente de críticas que sejam justas e que reconhecemos, apesar de protestos e críticas razoáveis e pertinentes da massa associativa que humildemente aceitamos, haja o maior sentido de responsabilidade. Apelamos ao mais elevado sentido de Estado para quem quer verdadeiramente o bem-estar do Sporting Clube de Portugal. Apelamos ao mais profundo e genuíno Sportinguismo de todo e cada Sócio do Sporting Clube de Portugal. Esta é uma questão estrutural para o presente e futuro do Sporting CP e não meramente conjuntural. Apelamos a todos os sócios do Sporting CP para que não se faça demagogia com este tema, para que não haja nenhum tipo de oportunismo político em torno desta questão. O Sporting Clube de Portugal não merece isso. Nenhuma divergência com qualquer Direcção ou dirigente justifica uma alta traição ao próprio Clube numa questão desta gravidade. Este é um problema que, a bem de todos, a bem do Sporting Clube de Portugal e até do Futebol Português, tem de ser resolvido.

Esta Direcção enfrentou condições muito difíceis e a nossa missão é, apesar do contexto pós-Alcochete, apesar do que fizeram de mal, de muito mal ao Sporting Clube de Portugal – a de entregar o Clube num estado melhor, bem melhor, do que aquele em que o recebemos. Essa é a nossa missão.

Dissemos e reafirmamos que nunca, mas nunca, nos faltará a coragem para protegermos e defendermos o Sporting Clube de Portugal seja do que for, seja de quem for.

E apesar das ameaças, da coacção, das injúrias, dos insultos, apesar dos riscos, apesar de tudo, consideramos que temos todos, mas todos, de enfrentar este problema que se arrasta e que se agrava a cada dia que passa, esperando uma regeneração, um novo rumo, da parte de quem quer realmente apoiar o Sporting Clube de Portugal.

Esta é uma questão em que os Sócios e adeptos do Sporting Clube de Portugal devem estar verdadeiramente unidos. É altura de dizer basta. É altura de tomar uma posição. E a única posição possível é a de defender o Sporting Clube de Portugal.

Hoje, lamentando profundamente este desfecho, escolhemos o Sporting Clube de Portugal.»

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