Moçambique: habitantes do Zumbo fogem para a Zâmbia depois de tiros da polícia

Corpos de líder da Renamo e do marido, assassinados a tiro, foram a enterrar este sábado no município de Tete. Tiros disparados para evitar concentração de dirigentes da Renamo leva ao pânico. Nyusi ganhou agora com 88,5% uma província que tinha perdido em 2014.

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Filipe Nyusi GRANT NEUENBURG/Reuters

A pequena vila do Zumbo, na província de Tete, noroeste de Moçambique, tem estado agitada nos últimos dias, depois do assassínio da líder da Liga Feminina da Renamo no município e do marido. Os dois estavam desaparecidos desde a véspera das eleições de terça-feira e os seus corpos foram encontrados na quinta-feira com marcas de balas. Na sexta-feira à noite, voltaram a ouvir-se disparos quando os corpos de Babula Francisco e do marido estavam a ser velados e parte da população atravessou o rio Zambeze, procurando refúgio na vizinha Zâmbia.

O PÚBLICO ouviu o relato dos acontecimentos de duas fontes diferentes, incluindo um observador eleitoral do Zumbo que pediu para não ser identificado por receio de retaliações. De acordo com este último, tudo teria acontecido de madrugada, entre a uma e as duas da manhã, já depois dos corpos da líder da Renamo e do marido terem chegado para serem velados.

“Todo o povo estava concentrado, quando os corpos chegaram. A princípio, houve muita agitação, mas já tinha tudo acalmado”, explicou o observador.

De acordo com a outra fonte, os membros da Renamo no município preparavam-se para fazer uma reunião, quando a polícia disparou tiros para o ar, de forma a evitar que a reunião se fizesse. Os tiros, aliados à história da morte de Babula Francisco e do marido, terão levado muitas pessoas a entrar em pânico e a fugir para a Zâmbia, que está logo ali, do outro lado do rio Zambeze que marca a fronteira natural entre os dois países.

O município do Zumbo é o ponto mais ocidental de Moçambique e está situado na confluência entre os rios Zambeze, que vem do ocidente, e o seu afluente Luangwa, numa zona de triple fronteira com a Zâmbia e o Zimbabwé.

Nas eleições de terça-feira, a Frelimo, o partido no poder, obteve no município das votações mais altas que registou em todo o país, com níveis de apoio semelhantes a países de partido único. O Presidente Filipe Nyusi, que se recandidata a um segundo mandato, obteve 88,5% dos votos, mesmo assim ficou aquém do resultado do partido para a Assembleia da República, onde a Frelimo conseguiu mais de 90% dos votos. Para a assembleia provincial, os números finais de apuramento dão um resultado também próximo dos 90%, mais concretamente 89,4%.

Números anormalmente altos para o partido no poder há 44 anos em Moçambique, numa província onde até estas eleições o eleitorado se dividia muito. O nível de apoio que Filipe Nyusi e a Frelimo alcançaram em termos gerais em Tete pressupõe uma mudança completa nas opções partidárias do eleitorado.

Faltando apenas uma mesa por apurar em toda a província, Nyusi ganha com 77,4% dos votos, seguido de Ossufo Momade com 20% e Daviz Simango com 2,2%. Na eleição para a Assembleia da República, a Frelimo conquistou ainda mais apoios, com 79,9%, contra 17,2% do líder da Renamo e apenas 1,8% para Simango.

É preciso não esquecer que nas eleições de 2014, Nyusi só conseguiu 46% dos votos, tendo perdido para o então líder da Renamo, Afonso Dhlakama, falecido o ano passado. Para o Parlamento nacional, os dois partidos dividiram os 22 mandatos a meio, com 11 deputados eleitos por cada uma das formações políticas.

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