Zuckerberg compara posição do Facebook à luta de Martin Luther King Jr. pela liberdade de expressão

O presidente executivo do Facebook comparou as críticas recentes à rede social com casos históricos de lutas contra a liberdade de expressão.

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Mark Zuckerberg expôs o seu ponto de vista num discurso na Universidade de Georgetown, nos EUA Reuters/Carlos Jasso
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Mark Zuckerberg defendeu publicamente a decisão do Facebook de não censurar anúncios políticos factualmente incorrectos. Num discurso, esta quinta-feira, o presidente executivo do Facebook comparou a posição da rede social face à liberdade de expressão, e sobretudo as críticas de que tem sido alvo, ao caso de Martin Luther King Jr., e nomeadamente à detenção do activista no Alabama, depois de um protesto contra o tratamento da população negra na época.

A alusão surgiu durante uma palestra na Universidade de Georgetown, em Washington, em que o presidente executivo do Facebook falou sobre a controvérsia em torno das publicações do presidente Donald Trump na rede social. Em causa estava uma publicação de Trump em que se acusava, incorrectamente, o ex-vice-presidente dos EUA Joe Biden de prometer ao governo da Ucrânia mil milhões de dólares (cerca de 910 milhões de euros) a troco de um favorecimento ao seu filho. Apesar de a informação ter sido desmentida por várias organizações de verificações de factos, como o Factcheck.org, Zuckerberg acredita que os políticos têm o direito de partilhar opiniões erradas e que a rede social está dessa forma a defender a liberdade de expressão.

“Devido à sensibilidade que há em torno dos anúncios políticos já ponderei se devíamos proibi-los”, admitiu Zuckerberg esta quinta-feira. “Só que os anúncios políticos são uma parte importante da voz de cada um – especialmente para candidatos locais, novas vozes provocadoras, e grupos de activistas que não recebem muita atenção da imprensa”. Para o criador do Facebook, impedir a rede social de mostrar anúncios políticos seria uma forma de favorecer apenas os políticos que surgem mais frequentemente nas notícias.

“O percurso para o progresso requer o confronto de ideias com que não concordamos”, defende Zuckerberg.

O paralelo entre o Facebook e a luta de Martin Luther King tem originado fortes críticas, com a filha do falecido defensor de direitos civis, Bernice King, a recordar, numa publicação do Twitter, que foi precisamente a desinformação e a propaganda difundida por políticos da época que conduziu ao assassinato do pai.

Não é a única voz crítica. “É difícil imaginar o Martin Luther King Jr. ou Frederick Douglass [um abolicionista], que Zuckerberg invocou, a apoiar a decisão do Facebook de proteger políticos que dependem de desinformação”, escreveu Vanita Gupta, presidente da Conferência de Liderança sobre Direitos Civis e Direitos Humanos, que é um grupo abrangente de grupos de interesse dos direitos civis americanos.

A senadora Elizabeth Warren, candidata presidencial democrata, também utilizou o Twitter para criticar o discurso de Zuckerberg: “Há uma coisa, Mark – Trump não está só a publicar uma mentira na sua página para os seus seguidores. O Facebook [também] está a aceitar milhões de dólares do Trump para mostrar anúncios políticos”.

Para o Facebook, porém, partilhar uma opinião errada não é o mesmo que um político partilhar uma mentira viral (por exemplo, uma hiperligação para uma notícia com informação errada) – mas mesmo nestes casos, o conteúdo não é apagado, apenas despromovido. Ou seja, recebe menos destaque no feed de notícias do Facebook.

A posição de Zuckerberg sobre a liberdade de expressão já tinha sido alvo de fortes críticas em 2018 quando o presidente executivo da rede social usou a negação do Holocausto como exemplo de liberdade de expressão. “Sou judeu, e há muitas pessoas que consideram que o Holocausto não aconteceu. Acho isso profundamente ofensivo. Mas não acredito que a nossa plataforma deva eliminar isso. Há temas em que as pessoas se enganam”, disse Zuckerberg na altura. Mais tarde, o empresário reconheceu que o exemplo não tinha sido o melhor e que não queria defender a intenção de pessoas que negam o Holocausto, mas apenas explicar que as pessoas têm o direito de ter opiniões erradas.

Relativamente à controvérsia mais recente, a equipa do Facebook lembra que todos os utilizadores podem consultar o dinheiro que os políticos gastam em anúncios e publicações patrocinadas através da Biblioteca de Anúncios do Facebook. Apertado por reguladores e legisladores, em 2018 o Facebook criou novas regras para os anúncios, obrigando as páginas a declararem quem os paga.

Durante o discurso desta quinta-feira, Mark Zuckerberg mencionou ainda os protestos políticos em Hong Kong, admitindo que as tentativas falhadas da rede social penetrar o mercado chinês foram o melhor desfecho dado posição forte da rede social relativamente à liberdade de expressão. Os tópicos abordados esta quinta-feira poderão voltar a ser tema na próxima semana durante a audiência de Zuckerberg no Congresso norte-americano para falar dos planos para a Associação Libra – o projecto do Facebook parar criar uma carteira digital de pagamentos e transferências online que tem levantado várias dúvidas junto de reguladores.

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