Sporting é um lobo com diversas peles de cordeiro

Entre a indefinição táctica e a falta de “tiros certeiros” nos reforços de Verão, o Sporting não encarrila nos bons desempenhos. E Silas tem decisões para tomar.

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Silas e Varandas, no dia da apresentação do novo treinador LUSA/MIGUEL A. LOPES

Três jogos, quatro sistemas tácticos. Indefinição e desnorte, apontam os críticos; testes futuramente frutíferos, apontam os crentes. O certo é que o início da aventura de Silas no Sporting tem mostrado várias “peles” num “lobo” que, nas últimas semanas, pouco mais tem sido do que um “cordeiro”.

O jogo com o Alverca era, para o Sporting, de um risco tremendo, já que nada teria a ganhar: vencer o jogo de forma clara seria normal, vencer por pouco seria inquietante, perder seria embaraçoso. O Sporting está, agora, num momento profundamente embaraçoso. E Silas tem decisões para tomar, até a nível táctico.

Na estreia oficial, frente ao Desp. Aves, o novo técnico montou algo entre o 4x4x2 clássico e o 4x3x3, com “falsos alas”. O jogo não foi brilhante – a equipa, até pelo sistema escolhido, “afunilou” muito o jogo para a zona interior –, mas deu para o Sporting regressar a Lisboa com um triunfo por 0-1.

Frente ao LASK, Silas mudou para um sistema que lhe diz muito: os três centrais. O 3x5x2 adoptado – uma reedição do que mais gostava de utilizar no Belenenses – teve resultados desastrosos para um Sporting que, em pleno Estádio de Alvalade, foi para o intervalo a perder com uma equipa modesta. E o técnico tinha, também, perdido a aposta. Alterou o sistema para algo próximo de um 4x4x2 losango e a equipa acabou por dar a volta à partida.

Nesta quinta-feira, frente ao Alverca, houve 4x3x3. Sem Bruno Fernandes, viu-se um meio-campo com Doumbia, Eduardo e Miguel Luís, que parece ter pecado pela falta de intensidade competitiva e, sobretudo, criatividade e “perfume” para criar jogo ofensivo. E o resultado foi o que já se sabe.

Três jogos, quatro sistemas tácticos. Os treinadores gostam de dizer que o sistema é menos importante do que as dinâmicas colectivas e o modelo de jogo, mas Silas tem, agora, de provar se existe desnorte ou se as mudanças são, por outro lado, o desenvolver de um interessante lado “camaleónico” para a equipa do Sporting.

Reforços pouco influentes

A favor do técnico “leonino” há a construção de um plantel que não tem o seu “dedo”. Silas chegou com o mercado e o plantel fechados, sendo que o Sporting teve, até agora, poucos dividendos de um mercado de Verão condicionado pela falta de capacidade de comprar jogadores a título definitivo.

À cabeça, a saída de Bas Dost parece não ter sido colmatada pela chegada de um avançado. Frederico Varandas “chutou para canto”, lembrando o perfil ofensivo de Jesé e Bolasie, mas nenhum foi, durante a carreira, um goleador. E menos ainda se a análise se fixar nas últimas temporadas – entre os dois, somam apenas 12 golos nas últimas duas épocas. Sobra Vietto, cujo perfil se aproxima mais de um facilitador de jogo do que de um finalizador.

Na substituição de Raphinha, a contratação de extremos parece, até ver, ter sido um excesso, consubstanciado no entrave ao desenvolvimento de Gonzalo Plata – muito cotado internacionalmente – e dos próprios reforços: Camacho e Fernando, por motivos diferentes, pouco têm podido mostrar.

Em suma: Rosier demora a mostrar credenciais, Neto está longe do que já fez, Eduardo tem estado discreto, Camacho e Fernando pouco jogaram, Jesé não é o Jesé do Real Madrid e apenas Vietto e Bolasie já vão justificando, a espaços, a aposta “leonina”. E, a talhe de foice, há uma equipa sub-23 com dez vitórias em dez jogos.

Na “competição de Verão” entre os “grandes”, o Sporting não fica atrás do Benfica, já que os “encarnados”, com Raúl de Tomás, Vinícius, Caio e Chiquinho, pouco têm por que festejar. Até ver. Diferente é o contexto no FC Porto, cujos reforços têm assumido um papel fulcral na equipa de Sérgio Conceição. Dos sete reforços “portistas”, apenas dois ainda não justificaram plenamente a aposta: Saravia e Nakajima. Os restantes têm sido importantes, começando pelo bom pós-Casillas oferecido por Marchesín, pela solidez de Iván Marcano, pelo “novo Herrera” Matheus Uribe ou pelos atacantes Luiz Díaz e Zé Luís, ambos habituais titulares – e este último é, a par de Pizzi, o melhor marcador da I Liga.

“No comprar bem é que está o ganho” é uma premissa bem patente no momento actual do Sporting: um mau planeamento e um mau mercado estão a transformar o clube num “cemitério de treinadores”, em 2019. Silas (sucessor de Marcel Keizer e Leonel Pontes) ainda irá a tempo de o evitar, assim encontre o sistema ideal para a equipa.

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