Cartas ao director

Depois da “geringonça”

Numa carta publicada anteontem neste espaço, a propósito da minha última crónica, Carlos Gilbert atribui-me um “erro grave que se tem ouvido inúmeras vezes em diálogos diversos, sobretudo com pessoas da dita direita”. Ou seja: não referi explicitamente que a coligação PSD/CDS em 2015 fora inicialmente indigitada pelo então Presidente Cavaco Silva para formar Governo, enquanto força mais votada, sendo depois derrotada no Parlamento por uma moção de censura subscrita pelos partidos de esquerda. Daí o nascimento do Governo do PS – que perdera efectivamente as eleições para a dita coligação mas conseguiu depois obter maioria parlamentar com o apoio da chamada “geringonça”.

Confiando talvez demasiado na memória e boa-fé dos leitores e tratando-se de uma crónica com espaço limitado referi apenas que a coligação PSD/CDS não conseguiu formar governo, o que explica os acontecimentos seguintes, mas é por isso que Carlos Gilbert me atribui “uma patranha ouvida, como digo, vezes sem conta de que o PSD-CDS ganharam as eleições”. Ora acontece que ganharam efectivamente as eleições mas sem maioria suficiente para passarem no Parlamento.

É por causa deste enviesado desentendimento que Gilbert põe em causa, com ostensiva má-fé, a minha seriedade “em nome da verdade histórica da política nacional!”, sem avançar nenhuma outra opinião sobre a substância do que escrevi.

Vicente Jorge Silva

As insuficiências dos transportes públicos

No PÚBLICO de ontem, Luís Pereira Coutinho, do Montijo, dizia que as avarias dos transportes públicos tornam a vida dos utentes num inferno (dava o exemplo do Metro de Lisboa). Hoje temos uma coisa muito boa e outra má.

A muito boa é a baixa do custo das viagens, que alivia o orçamento familiar e potencia o uso do transporte público (o futuro não é o transporte privado, pelas consequências inexplicáveis neste curto espaço). A má (no imediato) é o aumento da procura sem aumento da oferta. Fala-se muito do grande investimento como solução, mas só produz efeitos a médio e longo prazo (em especial na ferrovia, o transporte do futuro). Mas a curto prazo há duas medidas de efeitos quase imediatos e muito superiores ao seu custo, e que permitem mais eficácia do que existe: 1 − recuperar o material circulante avariado da CP, Metros, barcos, etc.; 2 − desatar os pequenos nós que estrangulam a circulação.

Vivo também na Margem Sul e dou dois exemplos que impedem a Fertagus de dar o seu máximo: a Estação do Pinhal Novo, se não estivesse inacabada há 16 anos (por sectarismo dos autarcas de Palmela contra a Refer e o Governo de então), permitiria quase duplicar a oferta de Setúbal a Lisboa (pondo a Fertagus em complementaridade com a CP, que faz a ligação pelo barco do Barreiro); o estrangulamento da linha em Chelas, que impede o comboio de ir ao Oriente. Muitos outros nós estão esquecidos, só se falando do que é mais difícil fazer e esquecendo o mais fácil.

Manuel Henrique Figueira, Palmela

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