Pirarucu, um peixe que tem uma armadura contra piranhas

É um dos maiores peixes de água doce do mundo, podendo chegar aos três metros de comprimento, e é dono de umas escamas muito especiais.

Foto
Escamas do pirarucu fotografas depois de ter sido apanhado na ilha do Rumão no rio Solimões, um dos principais tributários do rio Amazonas Bruno Kelly/Reuters

Um dos maiores peixes de água doce do mundo – o pirarucu – encontra-se naturalmente protegido por uma armadura flexível de escamas, que o ajuda a escudar-se dos ataques ferozes das piranhas e, assim, a proliferar nas águas perigosas na bacia do Amazonas.

Uma equipa de investigadores da Universidade da Califórnia em San Diego (EUA) descreveu, na revista Matter, a estrutura única e as propriedades impressionantes da armadura dérmica do pirarucu (Arapaima gigas). Estes resultados podem ajudar a desenvolver melhores protecções corporais para os seres humanos e também ter aplicações aeroespaciais.

Foto
Pescadores apanham um pirarucu na ilha do Rumão, na reserva natural de Mamirauá, em Fonte Boa (Brasil) Bruno Kelly/Reuters

O pirarucu pode atingir três metros de comprimento e 200 quilos. Consegue sobreviver até um dia fora de água respirando ar e encontra-se em rios do Brasil, da Guiana e do Peru repletos de piranhas, que são bem conhecidas pelos seus dentes afiados como navalhas, mordidas de uma força incrível e frenesis durante as refeições.

Na corrida evolutiva sempre houve predadores que desenvolveram maneiras mais eficazes de matar – como dentes afiados –, enquanto outros animais desenvolveram maneiras de se manterem vivos, como armaduras dérmicas observadas ao longo dos tempos em peixes, dinossauros e mamíferos. As escamas do pirarucu, segundo os cientistas, têm todos os melhores atributos de “um colete à prova de bala”, mas os seus elementos encontram-se mais bem integrados numa peça sólida que combina impenetrabilidade com flexibilidade. “Materiais leves e ao mesmo tempo duros, como escamas de peixe, são um assunto sexy que os cientistas de materiais estão a explorar”, disse Wen Yang, especialista em materiais da Universidade da Califórnia que participou neste estudo apoiado pelo Gabinete de Investigação Científica da Força Aérea dos Estados Unidos.

Foto
Pescadores a apanhar um pirarucu em 2016 em Nueva Loja, no Equador Guillermo Granja/Reuters

“É verdade que a armadura natural tem semelhanças com uma armadura corporal artificial, por causa de um sistema de sobreposição semelhante das escamas. No entanto, a armadura natural deste peixe é mais dura e leve, sem impedir a flexibilidade do corpo e a locomoção”, acrescentou Wen Yang. “Lembremo-nos de que as escamas dos peixes se desenvolveram ao longo de centenas de milhares de anos. São muito avançadas.”

Os investigadores submeteram as escamas a testes em laboratório. E descobriram que têm uma camada exterior dura mineralizada para resistir à penetração, que se encontra ligada a uma camada interior dura mas flexível através de colagénio – a principal proteína estrutural da pele e de outros tecidos conjuntivos do corpo.

Foto
Pirarucus num aquário em Lausanne, Suíça Denis Balibouse/Reuters

Esta estrutura permite que as escamas se deformem quando são mordidas pelas piranhas, mas que não se rasguem, partam ou sejam perfuradas, mantendo o peixe protegido. “Pudemos ver como as fibras de colagénio se deformam sem que ocorra um falhanço catastrófico, como mecanismos em que seriam torcidas, dobradas, empurradas, esticadas ou laminadas.”

Sugerir correcção
Comentar