Psychedelic Furs. Primos distantes ainda dão alegrias

A banda inglesa passou pelo Hard Club, no Porto. Afinal, ainda estamos vivos.

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Receber os Psychedelic Furs é como rever aqueles primos distantes com quem pudemos conviver com alegria no passado, mas dos quais não guardamos nem uma relação muito forte, nem alimentamos especiais espectativas. Sim, ainda conservamos traços de intimidade de quando dançávamos juntos ao som de Love my way ou alimentávamos ensejos de pequenas revoluções com President Gas. Mas também há o embaraço do explícito em Into you like a train ou de um dia o reconhecimento ter vindo com esse nada extraordinário Pretty in pink.

Foi possível rever todos esses temas e mais alguns no concerto que os ingleses Psychedelic Furs deram na terça-feira no Hard Club, no Porto, e não se pode dizer que o encontro com os irmãos Butler tenha sido isento de alegrias.

A princípio não parecia. O arranque foi morno, a banda tensa, o público, que enchia a sala, expectante.  Sim, já tinham passado 38 anos desde que o álbum Talk Talk Talk mostrou que era possível haver um espaço onde Bryan Ferry e Johnny Rotten podiam conviver e que a new wave também seria rock’n’roll. Foram 11 anos de álbuns que não deixaram uma marca de ofuscante originalidade, mas revelaram momentos de personalidade própria e um leque bastante largo de temas com quem apetece conviver.

Entre eles estão até Dumb waiters e Mr. Jones, que abriram a actuação, e Love my way, que o filme Chama-me pelo Teu Nome ajudou a apresentar a novas gerações. Só que se seguiram três temas dos últimos álbuns da banda, quando claramente a banda já tinha entrado em plano inclinado. Foi preciso chegar a Sister Europe para que Richard Butler tirasse o casaco, o público tirasse os pés do chão e a reunião se transformasse em celebração.

Os Psychedelic Furs abriram o livro, saltitaram entre êxitos e até abriram espaço para uma nova canção, The boy that invented rock & roll, um interessante aperitivo para o regresso aos álbuns, após quase 30 anos, na Primavera de 2020.

Uma segunda metade de concerto em que o saxofonista Mars Williams foi o centro da festa, trazendo para frente uma das marcas características dos Furs, em conjunto com a voz rouca de Butler e o teclado de Amanda Kramer. É o som de um certo tempo que passou, mas mantém intensidade e a elegância altiva, metamorfoseada em alguma energia, ajuda a compor a figura.

A família de seguidores, com tantas cãs como quem estava em palco, remoçou, bateu palmas e ainda teve direito a um momento algo selvagem na única música do encore, India, o primeiro tema do primeiro álbum. Todos puderem seguir em frente, foi uma breve reunião sem grandes desilusões, apesar das rugas. Afinal, ainda estamos vivos. David Pontes