“Eliminar o Kelly Slater foi muito importante para a minha carreira”

Frederico “Kikas” Morais fala de uma época em que garantiu uma vaga na estreia olímpica do surf em Tóquio e em que tem lutado pelo regresso ao Championship Tour, mas também daquele dia em 2013 em que “abateu” o melhor surfista de sempre.

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Frederico “Kikas” Morais Carlos Barroso

Este tem sido um ano intenso na vida de Frederico “Kikas” Morais. Tem sido uma época de requalificação para a “primeira divisão” do circuito mundial, mas também uma época em que já garantiu uma vaga na estreia do surf nos Jogos Olímpicos, que acontecerá já no próximo Verão, em Tóquio. Em conversa com o PÚBLICO, o surfista português de 27 anos falou das suas expectativas quanto à sua participação na etapa portuguesa do Championship Tour, do bom estado do surf português, da qualificação olímpica e daquele dia em 2013, também em Peniche, em que afastou uma lenda chamada Kelly Slater.

Que espera de mais esta participação em Peniche?
As perspectivas são boas. Adoro competir aqui em Peniche. É um sítio super-especial, temos um público super-especial. Toda a gente fala em pressão, há pressão, é só saber canaliza-la de uma forma boa porque os portugueses só nos querem ver brilhar e ter bons resultados. É isso que eu tento fazer quando compito em casa. Espero que Peniche não fuja à regra.

Mas desta vez vai ter menos pressão, porque não está a pensar em pontos…
Sim, sem dúvida. É um campeonato que não define nada na minha carreira em termos de requalificação. Claro que um bom resultado aqui seria um grande objectivo…

E a prova de que este é o seu lugar…
Claramente. Este ano já tenho um terceiro lugar, no Brasil, e fazer um grande resultado aqui em Peniche seria óptimo.

Como tem sido essa época de requalificação?
Neste momento estou em sexto. Estou dentro, mas ainda faltam dois campeonatos no Havai, ainda há muito trabalho. Está bem encaminhado, mas o foco não pode ser perdido. Espero que corra bem. Fisicamente estou muito bem, melhor do que nunca e feliz.

Já teve um quinto lugar aqui em Peniche.
Sim, cheguei aos quartos-de-final.

No seu ano de estreia em Peniche, em 2013, eliminou o Kelly Slater.
Foi um dia super-especial. Era um daqueles “heats” em que o meu treinador me dizia, ‘Se tu perderes, está toda a gente à espera que percas. Se ganhares, vais brilhar e ser uma estrela, por isso apanha as melhores ondas há uma grande probabilidade de ganhares. Ele é que tem toda a pressão. Está a disputar o título. Aproveita’. Foi o que eu fiz e deu bom resultado.

Foi o primeiro “gigante” que abateu no circuito?
No circuito, sim, porque foi a primeira vez que participei numa etapa do World Tour. Mas em outros campeonatos do circuito de qualificação, acho que já tinha surfado contra o Mick Fanning e o Bede Durbidge. Mas essa com o Kelly Slater foi muito especial, porque foi em casa e porque foi o primeiro grande boom mediático que eu tive a nível nacional e internacional. Expôs-me muito como surfista e competidor e ajudou muito a minha carreira.

Três portugueses em Peniche. Isto quer dizer o quê?
Significa que o surf em Portugal está em boas mãos. Temos bons surfistas que todos os surfistas do World Tour vão respeitar muito os portugueses que vão apanhar no “heat”, vão ter de ter cuidado, são surfistas muito perigosos. Tenho a certeza que tanto o Vasco [Ribeiro] como o Miguel [Blanco] vão dar cartas e vão brilhar. Sei bem o valor que eles têm e o valor que nós temos.

A qualificação olímpica soube bem?
Soube muito bem. Soube muito bem fazer história no surf português, fazer história para mim. Consegui meter Portugal na primeira vez que o surf está nos Jogos Olímpicos. Foi um orgulho enorme. Fui para o Japão com esse objectivo e saí com um sentimento de realização brutal.

Quando começou, passava-lhe pela cabeça ser atleta olímpico no surf?
Não, não pensava nisso. Para ser honesto, era uma realidade muito distante. Só há uns anos é que se começou a falar nisso. Quando me iniciei, isso não era uma realidade. Sempre vi Jogos Olímpicos, mas nunca pensei que tivesse hipóteses de participar. Isso acontecer é brutal, poder partilhar isso com a minha família. A mensagem que eu recebi do meu pai foi, ‘Eu tinha um sonho de estar nos Jogos Olímpicos e ele foi realizado pelo meu filho’. O meu pai era jogador de râguebi.

Que tal são as ondas no Japão?
Neste sítio onde nós fomos, em Myasaki, eram boas. Tivemos sorte, apanhámos boas ondas, os bancos de areia na praia estavam bons, e deu para aproveitar. Não é o mesmo sítio onde será o surf olímpico. O outro sitio é Chiba. Entre um e outro, acho que Myasaki é melhor, mas, lá está, não conseguimos prever o mar. Ainda falta muito, mas espero que em 2020 tenhamos óptimas ondas.

Gostava de ser o porta-estandarte?
Só de poder estar na cerimónia de abertura já estou felicíssimo. É um momento dos Jogos Olímpicos que eu vejo sempre. Só de ver ao vivo e poder estar presente com Portugal aos ombros vai ser especial.

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