Os equívocos da nova direita

Nem o país mais liberal da Europa desejaria um programa tão liberal como este do Iniciativa Liberal!

Há três semanas e ainda em campanha eleitoral, referi aqui que um dos maiores equívocos da esquerda ao avaliar a geringonça era querer passar a ideia de que o BE ou o PCP tinham mantido a sua autonomia programática. À cabeça e para reforçar o contrário, a governação económica do Partido Socialista nestes últimos quatro anos. Curiosamente, parece que só agora é que algumas pessoas ligadas ao Bloco de Esquerda acordaram para o óbvio: a “geringonça” foi a arte do recurso de sobrevivência e de poder do PS. Só faltou acrescentar o quanto António Costa soube secar as bandeiras de ontem destes partidos.   

Mais à direita, mas longe dos extremos como se afirmam, o Iniciativa Liberal também desvaloriza esta realidade económica dos últimos quatro anos. Terminada a campanha bem conseguida e alguns cartazes criativos, é difícil que qualquer pessoa que trabalhe há anos entre o público e empresas do privado não simpatize com o ideal de um país mais liberal. Quem se vê taxado desta forma sem que com isso usufrua da maioria dos serviços públicos, melhores ou piores nos diferentes setores, não deixa de pensar num enquadramento em que se substitua um Estado maior por um outro mais pequeno e eficiente. Não fujo à regra. Como não fujo ao interesse por um sistema mais envolto na responsabilidade da liberdade individual e as consequências que disso advêm. O problema é que o programa do IL leva tudo isto ao extremo com uma agenda ultraliberal radical, que ignora o mesmo que ignoravam as alas mais radicais do PSD e CDS de ontem: a realidade do país e uma grande parte dos portugueses. Nem o país mais liberal da Europa desejaria um programa tão liberal como este! Se o mantiver assim, é difícil que o partido cresça significativamente nestes próximos quatro anos. Também os funcionários públicos (e são muitos) portugueses, tal como os pensionistas, gostariam de ganhar mais. Certamente que todos gostariam de mais investimento, melhores hospitais e melhor funcionamento dos serviços públicos!  

Ao ouvir Carlos Guimarães Pinto recentemente, qual Che Guevara liberal, cheguei a pensar que o socialismo do PS e PSD (CDS?) a que se referia e que tanto diz ter estagnado Portugal nos últimos vinte anos era o mesmo da antiga União Soviética que condenava as criancinhas à fome (ninguém o avisou que Soares meteu-o mesmo na gaveta há mais de vinte anos!). Como faz falta alguma noção histórica na maioria das suas considerações e na definição do programa deste novo partido, deixo três premissas sem as quais não deveria ser criado nenhum programa minimamente coerente em busca desse país mais liberal:

1. Em primeira instância, não somos hoje um país mais liberal e menos dependente do Estado porque outro Estado (Novo) durou pelo menos, dez anos a mais.

Enquanto na maioria dos países europeus já existia uma iniciativa privada pujante, Salazar sugou a portuguesa toda e ainda hoje se paga essa fatura. António Champalimaud foi rara exceção de alguém que fez obra empresarial apesar do Estado Novo.

2. Por mais que o país se torne outro hub de start up’s e crie uma linha mais competitiva de PME’s, dificilmente cresce na União Europeia e é mais competitivo sem empresas que representem o país no exterior e dêem trabalho a centenas ou milhares de pessoas. Praticamente nenhuma das que o são ou foram, tornaram-se assim sem uma grande alavanca do Estado. É triste, mas é a realidade.

3. Ler o ponto 2 interpretando o apoio (unânime?) dado pelos empresários portugueses ao António Costa a poucas semanas destas últimas eleições. Finalmente, não vale ignorar as privatizações dos últimos anos porque correram menos bem. É também uma parte da realidade da gestão privada em Portugal.

Compreendendo estas premissas e largando o radicalismo, o IL podia-se tornar o partido mais relevante dos três novos com assento parlamentar e certamente o mais evolutivo.

Já o Chega é outra história e nem sequer deveria ter agenda em Portugal. Num país incomparavelmente seguro, o seu líder explorará ao máximo a pouca criminalidade que existe. Com sorte, ainda dá contexto à coisa e surge uma rede de radicalismo islâmico no país.

Sem problemas maiores de imigração legal ou ilegal, aí estarão a procurar destruir o que Portugal também teve e tem de melhor que é a sua diversidade. Como referia Vargas Llosa este fim-de-semana no EL País, a paranóia contra o imigrante é racismo.

Em Portugal, sem problemas de maior com a imigração, é paranóia e racismo levados ao extremo.

        

        

     

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