Ministro do Mar: Ricardo Serrão Santos, um eurodeputado cientista

O novo nome para a pasta do Mar acumula distinções pelo seu trabalho científico na área dos oceanos e um percurso político que lhe valeu elogios dentro e fora do Parlamento Europeu.

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Ricardo Serrão Santos DR

Ricardo Serrão Santos nasceu em Portalegre, em 1954, e vive há muitos anos nos Açores, entre as ilhas de São Miguel e do Faial. Licenciado em Psicologia e Ecologia Comportamental, doutorou-se em 1992 em Biologia Ambiental e Evolutiva pela ​Faculdade de Ciências da Universidade de Liverpool, Inglaterra. Entre 2006 e 2014, foi director do Departamento de Oceanografia e Pescas da Universidade dos Açores, instituição académica em que também foi pró-reitor para os Assuntos do Mar (de 2003 a 2012). Em 2014 tornou-se eurodeputado pelo Partido Socialista e o seu trabalho ganhou a admiração dos pares e de observadores independentes. Agora, era um dos 19 especialistas de 16 países que estavam a elaborar a agenda para a Década da Ciência Oceânica para o Desenvolvimento Sustentável das Nações Unidas (2021-2030), que será apresentada em 2020 na 75.ª Assembleia Geral das Nações Unidas.

Na etapa mais recente da sua carreira, o independente Ricardo Serrão Santos chegou ao Parlamento Europeu em 2014, eleito pelo PS nos Açores, e destacou-se pelo seu trabalho nas comissões de Agricultura e Desenvolvimento Rural e das Pescas — e desempenhou o cargo de coordenador do grupo político dos Socialistas & Democratas. Foi ainda vice-presidente do Intergrupo Mares, Rios, Ilhas e Áreas Costeiras e do Intergrupo Biodiversidade, Alterações Climáticas e Desenvolvimento Sustentável.

Em cinco anos, coligiu elogios pela sua competência técnica e pelas qualidades políticas. O eurodeputado assinou mais de 20 relatórios e pareceres legislativos, o que o levou a ocupar a terceira posição, com um total de 32 pontos, num ranking produzido pela organização independente VoteWatch sobre a capacidade de influência dos legisladores portugueses no Parlamento Europeu. Serrão Santos foi ainda escolhido pelos seus colegas portugueses como o eurodeputado que causou uma impressão mais positiva durante a legislatura passada.

Ao deixar Bruxelas, admitiu sentir pena por não dar seguimento ao seu trabalho na área dos oceanos e das pescas, mas desdramatizou a situação, classificando como “transparente” o processo de escolha do candidato do PS-Açores às eleições europeias de Maio. Foi substituído pelo antigo líder parlamentar da Assembleia Regional André Bradford, que morreu poucas semanas depois de tomar posse como eurodeputado.

“Uma vida dedicada ao mar”

Ao longo da sua carreira, a vertente de cientista andou de mãos dadas com a da gestão e da política científica na área dos oceanos. Como cientista, coordenou cerca de 25 teses de doutoramento e publicou mais de 300 trabalhos científicos internacionais. Como gestor científico, fez parte de órgãos consultivos de várias instituições científicas e de política científica, como, por exemplo, o conselho científico do Instituto Oceanográfico de Paris.

Foi presidente do EurOcean (um centro europeu dedicado à informação em ciências e tecnologias do mar com sede em Lisboa) e vice-presidente do European Marine Board (um think tank europeu sobre política de investigação marinha).

Reconhecimento internacional não lhe tem faltado. Em 2007, foi considerado embaixador marítimo, distinção atribuída pelo então comissário europeu Joe Borg “pela sua vida dedicada ao mar” e “luta pela valorização sustentável dos oceanos”. É membro emérito da Academia de Marinha de Lisboa, para a qual fora eleito em 2008, e em 2009 foi eleito membro correspondente da Academia das Ciências de Lisboa. Em 2013, foi condecorado como cavaleiro da Ordem de S. Carlos pelo príncipe Alberto II do Mónaco.

Chega agora ao Ministério do Mar para substituir Ana Paula Vitorino, numa altura em que o sector vive momentos decisivos no seu desenvolvimento, entre as políticas para lidar com os efeitos das alterações climáticas, o investimento na economia do mar (enquadrado pela execução dos fundos previstos no programa Mar 2020) e o sempre difícil dossier das quotas de pesca, com particular incidência na sardinha.

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