Município não recebeu ainda pedido de licenciamento para El Corte Inglês na Boavista

A autarquia já se manifestou favorável à instalação do grupo espanhol no terreno nas antigas instalações da CP junto à rotunda. Desde o início do mês são já mais de 3500 as pessoas que pedem um jardim no local.

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Terrenos públicos estão reservados pelo El Corte Inglés desde 2000 Paulo Pimenta

A Câmara do Porto ainda não recebeu qualquer proposta de licenciamento para um grande armazém do El Corte Inglés na cidade. Nos últimos meses o grupo espanhol fez saber que mantinha todo o interesse nos terrenos que tem sob reserva, há anos, junto à rotunda da Boavista e o vereador com o pelouro das actividades económicas até chegou a afirmar que a obra poderia começar em 2020. Mas, para já, o que há é uma contestação crescente ao eventual impacto de um equipamento deste tipo, e algumas milhares de pessoas a pedirem, naquele lugar, um jardim.

Sofia Maia Silva, moradora nas imediações do terreno público que o El Corte Inglés reservou em 2000, para um investimento que vem sendo adiado, considera muito satisfatória a adesão à petição em favor de um jardim naquele local. As mais de 3500 assinaturas e os comentários em defesa desta proposta deixam o grupo informal que a tornou pública certo de que o seu gesto é válido, e o próximo passo passará por apresentar a iniciativa em reuniões da Câmara e da Assembleia Municipal do Porto. Dirigida aos presidentes dos dois órgãos existe, há pelo menos uma semana, uma outra petição, “a favor do estabelecimento do El Corte Inglés no centro da Boavista em vez da criação de MAIS UM [sic] jardim”, com seis assinaturas.

Entretanto, nesta terça-feira o Bloco de Esquerda fez saber que considera “extremamente preocupante” a “falta de transparência” sobre os contratos entre a Infra-estruturas de Portugal (IP) e o El Corte Inglés, que tem a opção de compra do terreno na Boavista, no Porto. Em comunicado, o Grupo Parlamentar do Bloco de Esquerda (BE) revela que solicitou à IP, a 29 Setembro, “a disponibilização da cópia do contrato inicialmente celebrado em 2000 entre o El Corte Inglés e a ex-Refer, e ainda dos “acordos adicionais” que o renovaram sucessivamente desde 2013 até 2021”. Contudo, “e até ao momento, ainda não se obteve qualquer resposta, nem os referidos contratos foram disponibilizados publicamente”, lamenta.

O BE critica ainda “a manifesta ausência de discussão pública sobre o projecto que se prevê para aquela zona da cidade do Porto, e sobre o qual a Câmara Municipal também se deveria pronunciar, em defesa da cidade”, lê-se no comunicado.

Para além das públicas declarações do vereador Ricardo Valente, que em Julho deu nota de estar bem informado das pretensões dos espanhóis, o que se sabe é que estes estão mesmo interessados em transformar a reserva do terreno numa aquisição efectiva e avançar com “um projecto, precedido do necessário Pedido de Informação Prévia que permita avaliar as possibilidades para aquele local”, como explicou fonte da empresa à Lusa no início do mês.

Ricardo Valente dizia, em Julho, que “é extremamente relevante o desenvolvimento de um projecto naquela zona da cidade”, acrescentando ser “fundamental que aquela área, que é uma cratera” desapareça. Mas o BE, tal como os peticionários, vê com grande preocupação a possibilidade de ali nascer uma nova unidade comercial de grande dimensão “que, numa zona já bastante sobrecarregada, irá trazer um impacto excessivo ao nível da mobilidade e da sobrecarga para as infra-estruturas”.

Na segunda-feira a Associação Campo Aberto, que subscreve a petição lançada no início do mês, defendeu que, à luz do Plano Director Municipal, o município não está obrigado a aprovar um empreendimento comercial naquela zona, se entender que outra solução seria mais benéfica para a cidade. No site desta organização ambientalista lembra-se que, cercado pelo trânsito e pelo ruído do mesmo, o jardim existente no centro da rotunda é menos utilizado do que poderia ser, pelo que faz falta, consideram, um espaço verde de qualidade naquela zona. E Sofia Silva considera que dificilmente a rotunda poderia ser alternativa à ausência de um jardim de proximidade nesta parte do Porto, ao qual os residentes possam ir sem terem de pegar num carro. Com Lusa

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