Guimarães quer melhorar o rio Ave com a participação da comunidade

Num rio outrora conhecido pela poluição, o projecto Ave para Todos combina acções de investigação sobre a qualidade da água e a biodiversidade no troço que percorre o concelho e o propósito de integrar o curso de água no quotidiano das comunidades por ele banhadas.

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Considerado um dos rios mais poluídos da Europa na década de 80 face à actividade da indústria têxtil, o Ave tem sido desde então alvo de acções de limpeza. Mas o curso de água de 93,5 quilómetros, com nascente na serra da Cabreira (Vieira do Minho) e foz em Vila do Conde, não está ainda totalmente recuperado e, mais do que isso, passa despercebido às comunidades que banha, pelo menos no concelho de Guimarães, considera o presidente da Câmara. “As pessoas afastaram-se do rio e perderam afecto. A melhor maneira de o ganharem é utilizarem a água e as suas margens”, afirmou Domingos Bragança nesta terça-feira, durante a apresentação do projecto Ave para Todos, elaborado pelo Laboratório da Paisagem, instituição de que a autarquia é sócia, a par da Universidade do Minho e da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro.

O projecto, orçado em 75.000 euros, quer aproximar o Ave e as comunidades das 14 freguesias vimaranenses por ele envolvidas, mas também obter mais informação sobre o seu estado. Houve melhorias graças ao encerramento de algumas fábricas e à evolução das infra-estruturas da Vimágua, empresa intermunicipal responsável pela água e pelo saneamento, afirmou ao PÚBLICO a investigadora Carolina Rodrigues, mas o rio ainda tem focos de poluição, causados pelo fósforo utilizado na agricultura, e debate-se com espécies invasoras. “Em Ronfe, junto à fronteira com o concelho de Famalicão, as espécies nativas são os amieiros, freixos e salgueiros. Mas, ao passarmos lá, vimos poucos amieiros e salgueiros. Encontrou-se sim uma cobertura de acácias”, esclareceu a bióloga.

O Laboratório da Paisagem vai, por isso, avaliar a qualidade da água, do leito e das margens e também identificar zonas de poluição e de obstáculos, tarefas que podem dar ainda mais frutos caso as populações locais estejam “mais formadas e vigilantes”, realçou Carolina Rodrigues. Para sensibilizar os pouco mais de 45.000 cidadãos residentes nas freguesias banhadas pelo Ave, o projecto contempla a realização de acções teóricas nas 14 Juntas e em 24 escolas do 1.º Ciclo ao ensino secundário, de Novembro de 2019 até Fevereiro de 2020.

Os cidadãos, explicou a responsável pelo eixo de Educação e Sensibilização Ambiental do projecto, Susana Falcão, vão também dispor de 14 saídas para o terreno, de forma a identificarem a biodiversidade do rio e possíveis focos de poluição. Poderão, aliás, cuidar de alguns troços e transformá-los em pontos “Ave para todos”, como sinal de que o rio está “limpo e fruível”. Outra das iniciativas previstas é uma exposição com os registos fotográficos do Ave para Todos, a apresentar entre 01 de Julho e 01 de Setembro de 2020. “Queremos que a comunidade desenvolva um sentimento de pertença quanto ao rio Ave e que perceba a importância de preservar os recursos hídricos”, resumiu Susana Falcão.

Para Domingos Bragança, o projecto é uma forma de Guimarães combater as deficiências no aproveitamento dos recursos hídricos, uma das categorias com avaliação mais negativa da União Europeia aquando da candidatura a Capital Verde Europeia 2020 – o concelho foi quinto classificado numa corrida com mais 12 cidades, ganha por Lisboa.

O autarca lembrou ainda a necessidade de todos os municípios da bacia hidrográfica do Ave cuidarem do rio. “Queremos receber um rio com qualidade e dar essa mesma qualidade aos municípios a jusante. A presidente da Câmara de Vila do Conde [Elisa Ferraz] já falou várias vezes sobre o desejo de ter o rio em bom estado quando chega à foz”, disse.

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