Chega de Ventura a falar pelo Benfica

André Ventura deve, de uma forma clara e inequívoca, deixar de falar pelo clube, devendo ser rechaçada toda e qualquer forma de aproveitamento da instituição cujos valores de tolerância e multiculturalismo, manifestamente, não honra.

O Sport Lisboa e Benfica é um clube fundado por defensores de ideais republicanos e progressistas. Mesmo durante o período do fascismo, o clube e a maioria das suas direcções sempre afirmaram a sua independência, tolerância, multiculturalismo e anti-racismo. Ao contrário de outros clubes, as direcções do SLB não eram decididas no seio da PIDE-DGS, o que lhe valeu – até aos anos 60 em que as suas vitórias europeias passaram a ser bandeira do regime – a forte oposição do regime de Salazar, receoso do que uma organização popular poderia gerar. Essa oposição não era apenas política mas também formal. Entre os anos 40 e 50 os três grandes constroem estádios novos e apenas o Estádio da Luz não é financiado pelo Estado e não é inaugurado numa data simbólica para o fascismo, como Alvalade ou as Antas, mas a 1 de Dezembro de 1954 – celebrando a Restauração da Independência mesmo num momento em que os regimes fascistas de Portugal e Espanha caminhavam isoladamente juntos no contexto europeu.

Da direcção do Sport Lisboa e Benfica não se espera, nem se deseja, que policie as opiniões dos seus sócios e simpatizantes mas o vínculo ao clube e à sua direcção, de que André Ventura usou e abusou para se projectar nas televisões e na política, impõe uma demarcação do Sport Lisboa e Benfica. Ventura deu os primeiros passos como comentador na BTV e sempre gostou de aparecer na fotografia colado ao Benfica. De uma sanguessuga política e mediática não será de esperar que se afaste da sua presa, por isso exige-se que cada vez mais benfiquistas se pronunciem e se afastem de Ventura e, sobretudo, que a direcção salvaguarde a instituição rechaçando o aproveitamento político que Ventura dela tem feito e tentará continuar a fazer.

“Será a primeira vez em mais de 45 anos que um partido com estas características terá eventualmente assento na Assembleia da República”, declarou André Ventura momentos antes de ter a confirmação da sua eleição. Se dúvidas houvesse, Ventura propõe-se representar os valores que o Sport Lisboa e Benfica enfrentou tantas vezes ao longo da sua mais gloriosa história. Mas não só. Ventura propõe-se dificultar a vida em Portugal dos compatriotas de Jardel ou Jonas, inventar um regime de excepção que permita agilizar a expulsão de muçulmanos como Seferovic ou Taarabt, aumentar a exclusão social de ciganos como o nosso querido e recentemente desaparecido José Antonio Reyes ou restringir o acesso a hospitais e educação de meninos do bairro como foram Calado ou Renato Sanches.

Exactamente pelo que está expresso nos seus Estatutos, o Sport Lisboa e Benfica não pode discriminar “em razão da raça, género, sexo, ascendência, língua, nacionalidade ou território de origem, condição económica e social e convicções políticas, ideológicas e religiosas”. Nessa medida, André Ventura deve, de uma forma clara e inequívoca, deixar de falar pelo clube, devendo ser rechaçada toda e qualquer forma de aproveitamento da instituição cujos valores de tolerância e multiculturalismo, manifestamente, não honra.

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