Cartas ao director

Tanta inteligência <_o3a_p>

Se não me falhou a “contabilidade”, foram oito as vezes que António Costa Silva, Professor do Instituto Superior Técnico, utilizou a palavra inteligente/inteligência, no seu artigo “Portugal e a ponta do icebergue” no PÚBLICO de 5 de Outubro, sempre adjectivando realidades bem tangíveis (capital, investimento, políticas públicas, redes energéticas, governação). E tudo isto precisamente na mesma edição em que a frase de Tolentino Mendonça “ser humano é um grande risco” é puxada ao título de um texto de António Marujo. Nunca o professor do Técnico a aplicou em contexto de humanismo, que é de onde provém toda e qualquer forma de inteligência, incluindo a “artificial” que alguns tentam desenvolver.  <_o3a_p>

É esta desumanização que há-de servir para transformar o Homem em instrumento meramente produtor de riqueza, em perseguição de um crescimento económico sem fim? Mas produtor de quê, para quê e para quem? Oxalá esta Igreja que o Papa Francisco tenta reconstruir permita que a verdadeira “inteligência” ilumine a actividade humana. Este é o meu desejo, e estou certo de que é o de muitos outros, sem precisarmos de ser crentes. Basta sentirmo-nos parte integrante da verdadeira Humanidade.  

José A. Rodrigues, Vila Nova de Gaia <_o3a_p>

S.O.S. crianças em perigo

O que estamos a assistir, cada vez mais, nos processos de promoção e protecção de menores é revoltante e angustiante porque os menores sinalizados, caso não estejam em perigo (e é a maioria), passam a estar em perigo face ao poder triturador, insensível, gélido e implacável da máquina burocrática do Estado apostado em transformar a vida das crianças e das suas famílias num verdadeiro inferno.

Hoje os processos de promoção e protecção multiplicam-se e arrastam-se indefinidamente, a esmagadora maioria dos quais sem justificação plausível. Sendo certo que a maioria das queixas, tal como acontece com a violência doméstica e à boa maneira portuguesa, resulta de questiúnculas mesquinhas e pessoais e o seu único objectivo é infernizar a vida do outro com a sua queixa. 

E depois, face ao enorme volume de trabalho em processos absolutamente injustificáveis para os quais não têm capacidade de dar resposta, as técnicas não têm obviamente tempo para fazer o devido acompanhamento dos casos de crianças verdadeiramente em perigo e que deviam ser acompanhadas com maior atenção, proximidade e assiduidade.

O mesmo se passa com a violência doméstica em que o legislador criou um tipo de crime onde cabe tudo, o que gera inevitavelmente um número de processos tão elevado que torna impossível a sua gestão e a sua investigação com a atenção e a celeridade que os casos mais graves deviam merecer. Bastava o legislador ter dois dedos de testa e seguir o senso comum de que “o bom é inimigo do óptimo” para que os casos graves de violência doméstica e das crianças em perigo pudessem ter uma resposta adequada por parte das autoridades e dos técnicos, diminuindo drasticamente as tragédias que acontecem com cada vez mais regularidade. 

Santana-Maia Leonardo, Ponte de Sor

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