Por uma alternativa ao Dia da Defesa Nacional

O desespero conduz a medidas desesperadas e assim sucedeu com o nascimento do Dia da Defesa Nacional, onde todos os jovens que atingem a maioridade são chamados e obrigados a participar numa manifestação de sedução do militarismo.

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LUSA/HUGO DELGADO

Quando descobri que existia uma alternativa ao Serviço Militar no antigo Instituto Português da Juventude, actual Instituto Português do Desporto e Juventude, chamado Serviço Cívico, não hesitei em inscrever-me por considerar que o belicismo nunca iria trazer a paz que se constrói no embate de ideias, crenças e valores, em consensos ganhos entre parceiros ou adversários que tentam trabalhar para um objectivo comum, seja trabalhar num projecto comunitário, seja colaborar em equipa num emprego ou estabelecer a paz entre duas nações.

Quando inventaram o Dia da Defesa Nacional, já após ter cumprido os meus seis meses de serviço cívico na biblioteca de uma escola pública, onde auxiliei na catalogação de livros, não pude deixar de reconhecer o esforço do Governo e do Ministério da Defesa em manter viva a tradição da guerra e da violência, do qual a história mundial e a história portuguesa estão bem carregadas.

O desespero conduz a medidas desesperadas e assim sucedeu com o nascimento do Dia da Defesa Nacional, onde todos os jovens que atingem a maioridade são chamados e obrigados a participar, independentemente do género, numa manifestação de sedução do militarismo, da guerra, das armas e do que se conquista pela imposição da nossa vontade e poder sobre outro ser humano.

Por outro lado, quando se lê sobre o antimilitarismo, a sua luta em vários países e em várias guerras, o que se testemunha é o exemplo meritório de quem decidiu ficar no seu país e lutar, sem armas e sem violência, para que a situação não ficasse pior do que estava. Os objectores de consciência, muitas vezes incompreendidos e confundidos por cobardes, por não quererem assumir o seu corpo como carne para canhão ou a sua mente e inteligência como seguidores cegos de ordens militares avulsas, foram sempre um confronto directo para os poderes instituídos.

Em todos os momentos do nosso dia, devemos construir a paz, em cada passo até, como diz o monge vietnamita Thich Nhat Hanh, que foi um companheiro convicto de Martin Luther King, Jr., ambos enormes pacifistas na luta pela paz dentro e fora dos EUA e na cessação da guerra contra o Vietname, cujo discurso continua a inspirar gerações de jovens que acreditam numa paz verdadeira e duradoura.

Desse modo, e inspirado por estes dois enormes vultos da paz mundial, surge esta petição de apoio à criação de um Dia do Serviço Cívico Nacional, como alternativa ao Dia da Defesa Nacional. Pretende-se que seja uma alternativa apoiada, organizada e financiada pelo Governo português, de forma a permitir que os jovens que assim o queiram possam optar, de forma consciente, por uma forma construtiva de ver e viver o mundo, passando o mesmo dia a ajudar e a conhecer outras realidades sociais e culturais, a apoiar um projecto ambiental, social ou humanitário, sempre não militarizado, no qual podem colaborar pontualmente ou até em continuidade após essa experiência.

O Dia do Serviço Cívico Nacional pretende ser um fruto para a nossa sociedade, onde o perfume e a felicidade da paz possam ser promovidas e alimentadas, ao contrário do Dia da Defesa Nacional.

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