O povo, a terra e o PCP

Começa a ser deveras irritante que o Partido Comunista Português seja dado como morto ao fim de cada eleição. Continua vivo para não deixar passar os fascistas que vão penetrando cada vez mais o espaço público, com vestes de liberalismo, populismo ou que lhes quisermos chamar.

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Nuno Ferreira Santos

Passados uns dias desde que se desdobraram sobre nós os resultados das eleições legislativas, é um imperativo moral que me impele a escrever uma ou outra coisa que considero necessário que paire no espaço público, sob pena de se perpetuarem mitos e mentiras que proliferam velozmente no término de que cada acto eleitoral.

Começa a ser deveras irritante que o Partido Comunista Português seja dado como morto ao fim de cada eleição, óbito declarado por outros partidos, comentadores e opositores políticos que sob a capa da independência do comentário político vão marcando passo e desferindo rudes críticas e fados àqueles que não lhes interessa que estejam vivos. Quererão fazer do PCP uma espécie de Lázaro, que tão depressa está morto como de repente volta à vida?

No entanto, na vida real não existe a tal coisa da ressurreição. Desde 1921 que o partido mais antigo do país está vivo, mas, mais do que isso, tem a força das milhares de vidas que o insuflam com a militância e está e esteve vivo quando foi preciso derrubar o fascismo e derrubou-o mesmo. Hoje, continua vivo para não deixar passar os fascistas que vão penetrando cada vez mais o espaço público, com vestes de liberalismo, populismo ou que lhes quisermos chamar.

Apesar do recuo eleitoral da CDU de que o PCP faz parte, não nos podemos esquecer que não é eleitoral a maior força deste partido, antes no seu enraizamento popular, local e autárquico. Amplos sectores da sociedade contam com PCP para a sua luta e para as suas reivindicações. É um partido com uma ligação ao povo e ao país inigualável, mesmo que tal nem sempre se traduza em bons resultados eleitorais. É que quando se vota na CDU, não estamos a votar em causas, nem em chavões de circunstância, muito menos em medidas e reivindicações avulso, mas num projecto para uma sociedade diferente, até porque tudo está ligado. Votar na CDU é votar na transformação da sociedade e romper com os antigos grilhões que nos amarram há muito, e para isso é preciso coragem.

Os trabalhadores, mesmo que muitos não tenham feito a opção eleitoral, quando sentem a sua vida a ser esmifrada pela empresa e pelo capital, quando provam o sabor da injustiça, é com o PCP que contam e esperam para ter ao seu lado nas suas justas reivindicações, é também que todos pedem explicações. Todos já ouvimos os ataques básicos que pela falta de argumentos são arremessados aos comunistas, como a questão da Coreia do Norte, Venezuela ou Cuba, e aos comunistas portugueses é exigida sempre uma tomada de posição, uma explicação, o porquê disto e não daquilo. Contudo, raramente se pergunta a um social-democrata por que razão apoia intervenções norte-americanas em países estrangeiros, como é que admiram um país que aplica a pena de morte ou um país como a Arábia Saudita, onde além da pena de morte as mulheres são um ser subalterno aos homens?

Enfim, quero com isto dizer que escusam de vociferar tanto, de declarar tantas vezes a morte do PCP, evitam o ridículo de depois nos acusarem de mandar nos sindicatos todos. Agora que falo nisto, há algo que nunca percebi na linha dos comentadores e da direita: se o PCP está para morrer, porque é que quando existe um forte movimento sindical no país, sejam greves ou manifestações, a orquestração é sempre do PC? Decidam-se, manda em tudo ou está às portas da morte?

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