Bolsonaro não promete assinar diploma do Prémio Camões para Chico Buarque

Cerimónia de entrega está marcada para Abril do próximo ano segundo os jornais brasileiros, mas o diploma poderá chegar às mãos do compositor sem a assinatura do Presidente do Brasil.

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O Presidente brasileiro, Jair Bolsonaro, sugeriu na terça-feira que não irá assinar o diploma de entrega do Prémio Camões ao compositor e escritor Chico Buarque, cuja atribuição formal deverá ter lugar em Abril do próximo ano em Portugal segundo os jornais O Globo e Folha de São Paulo. Buarque é muito próximo do Partido dos Trabalhadores (PT) e um alvo privilegiado dos apoiantes de Bolsonaro.  "A não assinatura do Bolsonaro no diploma é para mim um segundo Prémio Camões”, reagiu Chico Buarque à notícia segundo a coluna de Ancelmo Gois no jornal O Globo.

Há muito tempo que a imprensa brasileira especulava se Bolsonaro iria subscrever a entrega de um dos mais importantes prémios literários da língua portuguesa a um autor tão distante do seu campo ideológico. Esta terça-feira, em Brasília, o Presidente foi interrogado sobre se iria assinar o diploma que consagra Chico Buarque.

“É segredo”, começou por afirmar Bolsonaro, para depois acrescentar: “Até 31 de Dezembro de 2026, eu assino.” A data aponta para o final daquele que seria o segundo mandato presidencial, caso o ex-capitão do Exército conseguisse ser reeleito em 2022. Na verdade, a decisão de Bolsonaro terá de ser tomada até Abril do próximo ano, altura em que a cerimónia se realizará em Portugal.

Não é segredo que a escolha de Chico Buarque como vencedor do Prémio Camões, atribuído em conjunto pelos governos de Portugal e do Brasil desde 1989, causou mal-estar no Governo de extrema-direita de Brasília. O galardão é atribuído por um júri composto sobretudo por académicos de vários países lusófonos, mas cabe aos governos dos dois países a sua atribuição. A fracção do prémio pecuniário de cem mil euros que cabe ao Governo brasileiro já foi entregue a Chico Buarque, pelo que a assinatura de Bolsonaro seria apenas uma acção protocolar.

Escreve a Folha de São Paulo que a ala mais moderada no Executivo tem tentado persuadir Bolsonaro a assinar o documento de entrega do prémio para não criar mais um foco de atrito internacional. Porém, o sector mais ideológico, com o qual Bolsonaro parece estar especialmente alinhado, defende que a recusa do Presidente marcaria uma posição forte tanto em relação ao activismo de Chico Buarque, como face à despesa pública com a cultura – uma área muito sensível para o “bolsonarismo”.

Não é a primeira vez que a entrega do Prémio Camões está envolvida em polémica por causa do alinhamento ideológico do Governo brasileiro. Em 2017, na cerimónia de entrega do prémio a Raduan Nassar, o escritor fez um discurso crítico do processo de impeachment de Dilma Rousseff, levando o então ministro da Cultura, Roberto Freire, a defender o Governo de Michel Temer.

Chico Buarque é conhecido, e também demonizado por parte da sociedade brasileira, pela sua proximidade em relação ao PT. Recentemente, o compositor foi visitar o ex-Presidente Lula da Silva a Curitiba, onde está preso há mais de um ano, e defendeu a sua libertação.

Através do gabinete do Ministério da Cultura, o Governo português limitou-se a garantir ao PÚBLICO que a entrega do prémio a Chico Buarque não está minimamente em causa, aguardando-se apenas o seu agendamento definitivo: “A cerimónia de entrega do Prémio Camões ao Chico Buarque realizar-se-á em Portugal, conforme ditam as regras, na data que for conveniente a quem entrega e a quem recebe o prémio.” Com Inês Nadais

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