Aos 60 anos, uma nova The Twilight Zone

A série que durou de 1959 a 1964 e em Portugal se chamou A Quinta Dimensão tem agora uma nova versão, apresentada por Jordan Peele, actor cómico transformado em realizador. Estreia-se esta terça-feira às 22h15 no Syfy, com o nome original.

O comediante
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Tracy Morgan e Kumail Nanjiani num clube de comédia no primeiro episódio de The Twilight Zone DR
,Jordan Peele
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Adam Scott em pânico a bordo de um avião no segundo episódio da série DR
,A Zona do Crepúsculo
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Jordan Peele é o narrador e produtor executivo desta nova The Twilight Zone DR

Foi a 2 de Outubro de 1959 que Rod Serling entrou pelos ecrãs norte-americanos adentro com A Quinta Dimensão. Nesse primeiro episódio, ainda sem a música assustadora e icónica que hoje associamos à série mas que só chegou na segunda temporada, o criador e narrador contava a primeira de uma série de estranhas histórias entre a ficção científica e o terror, sempre com um forte sentido de ironia. Cada episódio da série de antologia era um novo conto, usando personagens e premissas diferentes todas as semanas para explorar a ganância, o preconceito e a paranóia do ser humano, bem como os problemas sociais da época. Durou até 1964 e marcou a recta final da primeira idade de ouro da televisão norte-americana.

Pouco depois da efeméride dos 60 anos da série, chega a Portugal a sua quarta encarnação. Esta estreou-se originalmente nos Estados Unidos em Abril, no serviço de streaming CBS All Access. O arranque é feito esta terça-feira no Syfy, que vai transmitir The Twilight Zone com o nome original e não aquele sob o qual a série foi transmitida em Portugal no passado. Vão ser exibidos, a partir das 22h15, dois episódios seguidos. Vem numa altura em que a influência do original é sentida, por exemplo, em séries como Black Mirror, que explora a relação do ser humano com a tecnologia e muitos dos temas que interessavam a Serling.

Desta feita, aos comandos da narração está Jordan Peele, o actor cómico transformado em argumentista e realizador de filmes como Foge e Nós, e co-criador de séries como The Last O.G. ou Weird City, que também é uma série de antologia. Ou seja, é alguém cujo trabalho tem bastante de A Quinta Dimensão. Ao contrário do criador original, contudo, Peele, que é produtor executivo, escreve muito pouco para a série. Além dele, aos comandos estão Marco Ramirez, que escreveu para Sons of Anarchy e Demolidor e criou Os Defensores, e Simon Kinberg, que escreveu vários filmes da saga X-Men e realizou o último.

Não só homem branco

Já há 60 anos que Serling, que morreu em 1975, dez anos antes do primeiro reboot da série, tratava temas sensíveis como o racismo e o medo do outro. Aliás, a génese da série é mesmo essa. A ideia de pegar na ficção científica servia para o argumentista poder fazer paralelos com o mundo que o rodeava sem medo de as direcções das estações de televisão para as quais trabalhava cortarem os conteúdos mais políticos dos seus guiões. Não é de estranhar, portanto, que esta versão siga o mesmo espírito, com uma particular atenção para não contar só histórias centradas em homens brancos. O elenco inclui caras como Kumail Nanjiani, Tracy Morgan, Adam Scott, Sanaa Lathan, Damson Idris, Steven Yeun, Greg Kinnear, John Cho, Jacob Tremblay, Allison Tolman, DeWanda Wise, Jessica Williams, Taissa Farmiga, Ike Barinholtz, Ginnifer Goodwin, Chris O'Dowd, Amy Landecker, Zazie Beetz, Betty Gabriel ou Seth Rogen, entre muitas outras.

Desta vez, cada história dura 40 e poucos minutos, tal como acontecia na quarta temporada da série original, em vez dos 20 e poucos normais. E, ao longo dos dez capítulos, há vários piscares de olhos ao trabalho de Serling. A começar nos dois primeiros. The Comedian, que segue Kumail Nanjiani, que foi nomeado para um Emmy pela sua interpretação e faz stand-up na vida real, como um cómico que sempre que faz uma piada bem sucedida sobre alguém faz ao mesmo tempo com que essa pessoa desapareça, um mecanismo parecido com o usado em It's a Good Life, da terceira temporada original, em que um miúdo manda toda a gente que o contraria para um milharal. 

Já o segundo é um quase remake do clássico Nightmare at 20,000 Feet, da quinta época, em que William Shatner era um passageiro que via um monstro na asa de um avião e ninguém acreditava nele, levando-o a questionar-se sobre o que era ou não verdadeiro. Chama-se Nightmare at 30,000 Feet e troca o monstro por um podcast assustador e Shatner por Adam Scott, de Parks and Recreation.

Após esta leva de episódios, a série não vai ficar por aqui. Já há uma segunda temporada a caminho, encomendada menos de um mês após a primeira se estrear, ainda sem data certa. É possível que venha a exigir a nossa paciência. É que, afinal, será feita entre os vários projectos que Jordan Peele tem entre mãos, dos próprios filmes a séries como The Hunt ou Lovecraft County, passando pela produção de um remake do filme de terror de 1992 Candyman e por dar voz ao fantasma de Duke Ellington e a outras personagens na obscena série de animação de adolescentes Big Mouth.

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