O Diabo sempre veio

A direita chamou muitas vezes o Diabo para tramar as esquerdas “geringonçadas” e afinal ele veio para tramar quem o chamou.

Afinal o Diabo veio. E tão dado a simbolismos chegou precisamente um dia depois do feriado que Passos/Portas/Cristas tinham cortado do calendário, o dia da implantação da República.

 A conclusão não é nova, mas há coisas que valem sempre – não se deve anunciar o Diabo.

Os partidos da troika foram de novo a exame no passado dia 6. Chumbaram com maior estrondo. Uma coisa era o peso e a chantagem brutal sobre os portugueses de que não havia alternativa à punição por terem vivido acima das possibilidades. Os chicotes feriam a Lusitânia e o povo baixou-se face à medonha realidade. Há quatro anos ergueram-se a custo. E, levantados, quiseram mostrar aos defensores do castigo do empobrecimento que não se esqueceram do mal que sofreram.

O problema não é Rio. É muito mais fundo. É não terem tido nada a propor a não ser casos de polícia. O seu programa verdadeiro é continuar a cortar e a empobrecer para uma minoria enriquecer à grande. E isso escondem.

O PS ganhou e cresceu bastante. É a primeira vez que o PS, após estar no governo, se reforça. Vai ter de negociar para governar. Se se quiser sentir como dono e senhor deste canto ibérico pode olhar para trás e ver o que lhe sucedeu após blocos centrais, limianos, absolutamente só com Sócrates… É tudo uma questão de aceitar constrangimentos ou querer governar à larga, como se não houvesse dia seguinte ao fim da governança. A tal estabilidade que é importante conquista-se ganhando a maioria dos corações dos portugueses não só no dia das eleições, mas todos os dias para que as palavras batam com a prática.

O CDS da candidata a primeiro-ministro quase desaparecia. Assunção Cristas foi vítima de si própria e quis fazer dos portugueses estúpidos. Ela tinha sido um dos rostos da desgraça e falava como se o mal feito por ela e o seu partido fossem de outrem. Viveu de incêndios e de Tancos. E quando engoliu o disco de reduzir impostos todos se lembravam do governo que quase todos os dias aumentava impostos. O CDS tem muito que penar para voltar a ser o que foi.

O BE mostrou que é possível fazer acordos e não sofrer o desgaste de ver o PS ganhar com acordos à esquerda. Não se reforçou, mas não perdeu deputados, mesmo nesse quadro em que o PS se reforça substancialmente. É um resultado que confirma que fazer acordos com o PS não implica perder inexoravelmente apoio eleitoral.

O PCP/CDU é vítima da sua atitude de se comportar como se fosse o único certo ao serviço de uma realidade que em boa medida inexiste na sociedade portuguesa, num mundo que a juventude não conhece e, por isso, a sua fraquíssima implantação nos jovens.

Não são explicações por parte do PCP a noticiar que para além das eleições a luta continua, pois continuará sempre com ou sem PCP. É preciso sublinhar que em certos distritos o peso eleitoral do partido é bem superior à sua força social, embora só tenha ganho em dois concelhos, Mora e Avis.

Sejamos claros – a situação não era fácil fosse para Jerónimo fosse para quem fosse secretário-geral, mas a sociedade que há para transformar é esta, com esta gente, estas televisões e estas mentes. O partido ou tem a humildade de aceitar a realidade e os grandes desafios reconhecendo nos militantes e simpatizantes a força maior para alterar o que não está bem, incluindo no plano interno, abandonando a peregrina ideia de estar sempre certo, uma espécie de superioridade política dos dirigentes que nunca erram e que os leva a olhar para os outros como uma espécie de incapazes atrofiados.

O PAN ganhou. Vamos ver o que vai trazer de novo. A ideia de que não é de direita nem de esquerda pode parecer fofinha e nova, mas é velha e déjà vu. Vamos ver como se vai desenvencilhar com o Serviço Nacional de Saúde para animais. E o resto.

A entrada do Livre abre um novo espaço de esquerda no parlamento e pode ser mais um interlocutor que se afirme na sua identidade própria mostrando as suas diferenças das outras esquerdas.

As outras direitas que tiraram votos ao CDS e ao PSD vão querer ganhar mais votos ao CDS e ao PSD. Vão obrigar o PSD a mostrar se é tão de direita quanto tem sido ou se quer ganhar espaço no centro. O CDS que se cuide. Já tem dois partidos à perna e a morder os calcanhares. E, se o PSD se recentra, para onde vai o CDS?

A direita chamou muitas vezes o Diabo para tramar as esquerdas “geringonçadas” e afinal ele veio para tramar quem o chamou.

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