Luís Montenegro recolhe apoios para avançar contra Rio

O momento de arranque da candidatura de Luís Montenegro será um jantar em Espinho, na próxima sexta-feira, com 600 pessoas. O antigo líder parlamentar já pensa nas autárquicas de 2021.

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Nuno Ferreira Santos

No day after das legislativas, várias vozes do PSD dispararam contra a leitura dos resultados feita por Rui Rio, na noite eleitoral de domingo, quando assumiu ser um “resultado positivo”. Miguel Relvas, ex-ministro e ex-secretário-geral do PSD, foi mais longe e pediu um “novo líder”.

O antigo braço direito de Passos Coelho aviva memórias e diz que “na tradição no PSD não há serviços mínimos. Houve líderes que ganharam e líderes que perderam — e os que perderam têm sabido tirar as ilações”. Ao mesmo tempo, Luís Montenegro vai recolhendo apoios. Alguns deles cruzam-se com futuras escolhas para as eleições autárquicas de 2021, apurou o PÚBLICO. No partido há já muita gente a pensar no próximo desafio eleitoral que o PSD tem pela frente e que vai obrigar os sociais-democratas a definirem, com tempo, uma estratégica para evitar novo desaire nas urnas.

“O PSD, que já foi o grande partido autárquico, não pode arriscar um mau resultado em 2021, como tendo vindo a acontecer, e quem estiver à frente do partido tem de fazer das autárquicas uma prioridade do mandato”, afirmou fonte social-democrata, garantindo que há alinhamentos que estão a ser feitos com Luís Montenegro já a pensar nas eleições locais. O momento de arranque para a candidatura do antigo líder parlamentar será um jantar na sua terra natal, Espinho, para comemorar o 10.º aniversário da conquista da câmara municipal pelo PSD. O megajantar, marcado para a próxima sexta-feira, terá 600 convidados. 

No dia a seguir às eleições, a missão de alguns dos críticos de Rio era a de contrariar a ideia, ouvida na noite eleitoral, de que esta foi uma derrota suave. Um dos mais violentos foi Bruno Vitorino, líder da distrital de Setúbal. “Senti vergonha ao ouvir o presidente do PSD a fazer um discurso de quase vitória”, disse o dirigente que é crítico assumido da actual liderança. Num distrito onde o PSD teve o pior resultado desde 1983, Bruno Vitorino não teve dúvidas em afirmar: “Temos de mudar de vida.” E desafiou Rio a ter “coragem política” de submeter a votos a sua continuidade no cargo, para que haja uma “clarificação”.

As críticas ao discurso da noite eleitoral vêm mesmo de dirigentes que foram apoiantes de Rui Rio, como é o caso de Carlos Morais, líder da distrital de Viana do Castelo e mandatário de campanha nas eleições internas. “Rio não se pode queixar, vimo-lo quase a sacudir a água do capote, como se não fosse nada com ele”, afirma ao PÚBLICO, sublinhando que o actual líder “quebrou um ciclo de vitórias do PSD desde o tempo de Ferreira Leite e teve um dos piores resultados dos últimos 36 anos”.

Outro dirigente distrital que contesta a leitura da noite eleitoral feita pelo líder do PSD é Rui Rocha, líder da distrital de Leiria. “É uma derrota contrariamente ao que o presidente do PSD diz. É claro que não é positivo”, afirma o dirigente, que se demitiu da comissão política nacional em Julho passado em ruptura com Rio. Outro líder distrital, Pedro Alves, de Viseu, apontou na mesma direcção. “Não há derrotas honrosas”, disse, lembrando que o resultado deste domingo foi “pior do que o obtido por Manuela Ferreira Leite e que Santana Lopes, que “acabaram por sair, por terem considerado” que que haviam sofrido “uma derrota”.

Para Emídio Sousa, presidente da Câmara de Santa Maria da Feira, distrito de Aveiro, o resultado “deu para respirar de alívio, mas “não deixa de ser uma derrota significativa”. No distrito, o PSD perdeu dois deputados, passando de oito para seis parlamentares.

Em Santarém, o líder da distrital, João Moura, que foi apoiante de Rui Rio, também se escusa a fazer a mesma leitura que o líder do partido: “Só não vê quem não quer. Não há derrotas morais. É mau em toda a linha.” Santarém manteve o mesmo número de deputados, mas perdeu em votos. O dirigente defende que a actual equipa nacional deve reflectir sobre a estratégia adoptada: “Não vale a pena ver fantasmas externos em todo o lado.”

Uma voz dissonante das que saíram ao ataque a Rui Rio é a de José Manuel Fernandes, que lidera a distrital de Braga, onde o PSD manteve o mesmo número de deputados. Lembrando que o PSD “teve um resultado acima das expectativas de quando começou a campanha”, o eurodeputado disse não ver “nestas eleições outro militante que pudesse ter melhores resultados” do que Rui Rio. Números que, segundo José Manuel Fernandes, são um “excelente indicador” para as eleições autárquicas, aquelas que Rio colocou como prioritárias quando foi eleito líder do partido.

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