Kosovo vai a eleições em ambiente de revolta contra corrupção e desemprego

Dois partidos da oposição disputam o primeiro lugar, ambos rejeitam concessões à Sérvia.

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Vjosa Osmani quer ser a primeira mulher a chefiar o Kosovo GEORGI LICOVSKI/EPA

Os eleitores do Kosovo vão este domingo escolher um novo Parlamento em eleições dominadas pela corrupção generalizada, o desemprego altíssimo e a má relação com a vizinha Sérvia.

As eleições foram antecipadas pela demissão do primeiro-ministro Ramush Haradinaj, em Julho, depois de ter sido convocado a responder a uma investigação sobre crimes de guerra em Haia pelo seu papel na insurreição contra as forças sérvias em 1998-99. Mas este factor terá pouco a ver com as dificuldades que Haradinaj vai encontrar nas eleições: a sua actuação no passado é vista como legítima, e os líderes militares são considerados heróis na luta contra a Sérvia. Os eleitores devem votar a pensar mais no presente.

A insatisfação pública com o governo de Haradinaj (que tem, com outros dois antigos líderes do Exército da Libertação do Kosovo que se tornaram políticos, uma coligação a três) fez com que o apoio para os partidos da oposição tivesse aumentado, com a Liga Democrática do Kosovo (LDK) e o nacionalista de esquerda Vetevendosje a disputar o primeiro lugar (o vencedor, qualquer que seja, não deve conseguir votos suficientes para governar sozinho). 

A candidata da LDK, Vjosa Osmani, quer ser a primeira mulher a ocupar a chefia deste Governo, e usou este argumento na campanha: “Em mais de 90% dos casos são os homens que estão envolvidos em corrupção. Uma mulher vê o Estado e o modo como se deve tratar dos nossos cidadãos de um modo totalmente diferente”, disse à Reuters.

Osmani, professora de Direito de 37 anos, estudou no Estados Unidos e representa uma geração de kosovares mais familiarizados com a vida no Ocidente e frustrados com o nepotismo e ineficiência dos partidos tradicionais do país dos Balcãs.

“Não pode ficar pior”

O slogan de campanha de Osmani é “Acreditem!” mas os eleitores são cépticos em relação às promessas dos políticos no país em que mais de um terço dos cidadãos não tem emprego e onde para ter um emprego bem pago exige geralmente algumas manobras.

“Para ter um emprego é preciso subornar alguém ou conhecer os responsáveis certos”, diz Lindita Azemi, 22 anos, que ganha 300 euros a fazer hambúrgueres numa loja, apesar de ser licenciada em Ciência Política e Administração Pública.

O Kosovo tem a população mais jovem da Europa, com uma média de 29 anos de idade, mas apesar do crescimento económico ser de cerca de 4% ao ano na última década, mantém-se muito pobre.

Fazendo eco do desapontamento, Ramadan Bibaj, 66 anos, disse: “Quem quer que ganhe, não vai poder ficar pior do que está.” Se tudo continuar como está, previu, “dentro de cinco anos não teremos no país nem 400 mil pessoas”.

A população do Kosovo é de 1,8 milhões. Mais de 200 mil kosovares deixaram o país e pediram asilo na União Europeia desde que Pristina declarou a sua independência em relação a Belgrado em 2008.

A declaração de independência, quase uma década depois de a NATO ter bombardeado forças sérvias do que era então uma província sérvia, foi reconhecida por mais de 100 países, mas entre os que não reconheceram estão cinco estados da União Europeia e duas potências, a Rússia e a China (além da Sérvia, que considera o Kosovo uma província na sua Constituição).

Se no Governo cessante a tensão entre Pristina e Belgrado piorou, com Haradinaj a impor uma taxa de 100% nas importações de produtos sérvios, nenhum dos potenciais vencedores tem qualquer intenção de fazer cedências territoriais à Sérvia, uma das opções para recomeçar conversações iniciadas em 2013 mas que nunca registaram progressos significativos.

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