Ordenação de homens casados na Amazónia: “Não podemos extrapolar essa possível orientação para toda a Igreja”

Manuel Barbosa, porta-voz da Conferência Episcopal Portuguesa, recusa afunilar a discussão que arranca este domingo sobre a Amazónia a um único ponto, lembrando que a ordenação de indígenas casados é uma das 147 propostas em discussão. De resto, mesmo que aprovada, esta solução não deve ser extrapolada para outras regiões, sustenta o representante dos bispos portugueses.

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Manuel Barbosa (à direita) é o porta-voz da Conferência Episcopal Portuguesa Sérgio Azenha (arquivo)

O que é que está em jogo neste sínodo?
O que está em jogo neste sínodo é o mesmo que está em qualquer assembleia sinodal, a procura de caminhos para a renovação da Igreja na sua missão evangelizadora, para que seja fiel a Jesus Cristo. É bom recordar que o sínodo é um dinamismo permanente na Igreja universal e local. Nesse processo contínuo acontecem assembleias que têm longos tempos de preparação, realização e concretização. Concretamente, esta assembleia sinodal que vai decorrer em Roma sobre a Amazónia é um sínodo da Igreja universal, tem uma dimensão global, como tem afirmado o Papa Francisco. O próprio título do documento de trabalho afirma o que está em questão: na Amazónia e a partir da Amazónia, os membros da assembleia presidida pelo Papa vão procurar encontrar novos caminhos para a Igreja e para uma ecologia integral. Por isso, não podemos isolar apenas um ponto do riquíssimo documento de trabalho. Basta um relance pelo documento para percebermos o modo muito concreto como se deve ver a realidade em atitude de autêntica escuta do clamor da terra e dos pobres a fim de se propor desafios e esperanças para a Igreja profética na Amazónia.

Que impacto poderá ter a ordenação de indígenas casados na Amazónia no resto do mundo?
É um dos pontos que está no documento como sugestão. A assembleia dirá se e como vai reflectir este tema. Mas o texto breve deve ser ligo no seu todo: é uma alínea do n. 129 do documento, que tem 147 números. Trata-se de uma sugestão no contexto dos “novos ministérios para responder de modo mais eficaz às necessidades dos povos amazónicos”. Começando por afirmar o celibato como dádiva para toda a Igreja, “pede que, para as áreas mais remotas da região, se estude a possibilidade da ordenação sacerdotal de pessoas idosas, de preferência indígenas, respeitadas e reconhecidas pela sua comunidade, mesmo que já tenham uma família constituída e estável, com a finalidade de assegurar os Sacramentos que acompanhem e sustentem a vida cristã”. Esperemos como a assembleia sinodal vai abordar também este tema importante para a vida da Igreja nas regiões mais remotas da Amazónia. Por respeito ao processo sinodal, não podemos extrapolar essa possível orientação para toda a Igreja.

Há, atentas as declarações do Papa Francisco na viagem de regresso de Moçambique, verdadeiro risco de um cisma na Igreja Católica?
O Papa Francisco foi muito claro sobre o tema e separou muito bem a atitude crítica e autocrítica que é construtiva e de amor e bem-querer à Igreja, da atitude cismática de não-amor à Igreja. Claro que há sempre esse risco de cisma, como houve ao longo da história. Todos devemos concorrer, com sentido crítico, para a unidade da Igreja na sua fidelidade a Jesus Cristo, esperando que não aconteçam novos cismas.

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