Protestos no Iraque já fizeram quase cem mortos

Autoridades iraquianas levantaram o recolher obrigatório, mas as mortes continuam. “É preciso parar” com a violência, apela a ONU.

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Funeral de um dos manifestantes mortos pela polícia ALAA AL-MARJANI/Reuters

Os protestos contra a corrupção, o desemprego e a falta de serviços básicos no Iraque já provocaram quase cem mortos e mais de três mil feridos, de acordo com o mais recente balanço da comissão parlamentar de direitos humanos.

Segundo informações divulgadas pela comissão de direitos humanos, citadas pela BBC, foram já detidos 540 manifestantes, dos quais cerca de 200 permanecem sob custódia.

As autoridades terão reprimido os manifestantes com balas reais e, na sequência dos protestos dos últimos dias,​ impuseram recolher obrigatório em Bagdad​, que foi suspendido este sábado.

“Cinco dias de mortos e feridos (...) É preciso parar (...) Os responsáveis pela violência devem ser responsabilizados”, escreveu a chefe da missão da ONU no Iraque, Jeanine Hennis-Plasschaert, na rede social Twitter.

Na sexta-feira, a contestação fez-se ouvir um pouco por todo o país, com as autoridades a manterem a dureza: de acordo com a Reuters, snipers da polícia dispararam contra os que participam nas manifestações desde terça-feira, contra a corrupção, o desemprego e a falta de serviços públicos básicos, como água e electricidade.

As autoridades impuseram um recolher obrigatório em todo o país, limitando ainda a utilização de Internet. A restrição à liberdade de movimento foi suspensa na capital, mantendo-se, porém, em algumas das províncias que oferecem maior resistência.

Citada pela Reuters, a televisão estatal anunciou que membros do gabinete do primeiro-ministro se reuniram com os líderes dos protestos. O primeiro-ministro, Adel Abdul Mahdi e o Presidente, Barham Salih, ouviram as reivindicações e prometeram mudanças. Para este sábado estava agendada uma reunião do parlamento iraquiano para discutir as exigências dos manifestantes, que acabou por não se realizar. 

Violência marca protestos

A violência marcou os protestos desde o primeiro dia: na terça-feira, pouco mais de um milhar de pessoas juntou-se Praça Tahrir, em Bagdad. Alguns dos participantes tentaram abrir caminho até à Zona Verde, uma área sob fortes medidas de segurança onde os edifícios governamentais e dos Estados Unidos se concentram. A polícia usou primeiro gás lacrimogéneo, mas, depois, começaram os disparos, registando-se a primeira morte. Enfurecidos, alguns dos manifestantes retribuíram na mesma moeda e recorreram às armas pessoais (comuns no país) para disparar sobre a polícia.

A polícia denunciou a existência de atiradores infiltrados na multidão, responsáveis pela morte de vários agentes. 

Na quarta-feira, segundo dia de protestos, tinham sido cinco as pessoas mortas pela polícia, enquanto outros 300 manifestantes tinham sofrido ferimentos. No terceiro dia, foram mortos três manifestantes. A forte repressão policial valeu uma repreensão pública do grande ayatollah Ali Al-Sistani, uma das maiores autoridades do islão xiita, ao primeiro-ministro iraquiano. “É de lamentar ter havido tantas mortes, feridos e destruição”, disse Al-Sistani numa carta lida por terceiros num sermão em Kerbala.

O desemprego jovem ronda os 25% no Iraque: jovens licenciados desempregados compõem a maioria dos manifestantes. A taxa de desemprego geral fica-se pelos 8%, num país em que as interrupções no fornecimento de electricidade são recorrentes e existem partes do país sem água potável.

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