Desinformação existe, mas “não tem impacto traduzido no voto”

Investigador Gustavo Cardoso coordena o projecto de monitorização de propaganda e desinformação nas redes sociais do Media Lab ISCTE-IUL. São analisados mais de 40 grupos públicos e mais de 40 páginas nas redes sociais,que chegam a um milhão e meio de pessoas.

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Nas redes sociais, há uma espécie de campanha paralela Reuters/Kacper Pempel

A desinformação, também conhecida por “fake news”, é uma realidade nas redes sociais em Portugal, mas “não tem impacto traduzido no voto”, disse à Lusa o investigador e professor do ISCTE-IUL Gustavo Cardoso. Gustavo Cardoso coordena o projecto de monitorização de propaganda e desinformação nas redes sociais do Media Lab ISCTE-IUL. “Fizemos a monitorização para as eleições europeias”, no âmbito deste projecto, e “estamos a fazer para as legislativas”, adiantou o professor universitário.

Entre as principais conclusões das monitorizações feitas está o facto de a desinformação ser uma realidade nas redes sociais em Portugal. “Em Portugal há claramente desinformação nas redes sociais”, mas “não tem impacto traduzido no voto”, referiu o investigador do ISCTE-IUL. Ou seja, a desinformação “não tem aparentemente resultados práticos” nas eleições, prosseguiu.

Segundo Gustavo Cardoso, a desinformação “ajuda a criar narrativas” sobre um conjunto de temas, em geral. No “top 10” da desinformação, “oito são sobre corrupção e duas sobre minorias, imigração ou refugiados”, exemplificou, apontando que tal se traduz numa “singularidade portuguesa” quando comparados com os restantes países europeus. Contrariamente a outros países europeus, nem a imigração, nem o Islão são assuntos centrais nos debates políticos em Portugal.

Por sua vez, a corrupção é o tema mais em voga, impulsionados por casos mediáticos. “O caso mais parecido sobre a importância da temática corrupção é o Brasil”, onde aquela prática é associada à política, apontou.

Desinformação está presente no quotidiano

O projecto coordenado por Gustavo Cardoso analisa mais de 40 grupos públicos e mais de 40 páginas nas redes sociais, os quais têm um alcance de um universo de um milhão e meio de pessoas. “A desinformação existe, circula e está presente no quotidiano”, sublinhou o investigador.

No entanto, um dos factores que explica uma menor exposição de Portugal aos riscos de desinformação assenta no facto do público confiar muito nos media tradicionais (68%) e muito menos na informação encontrada nas redes sociais (26%). No entanto, a desinformação nas redes sociais também é criativa e muitas vezes utiliza notícias antigas ou sem data de publicação dos media, descontextualizadas, no intuito de aumentar o suporte de uma ideia e na expectativa de que as pessoas partilhem.

Gustavo Cardoso acrescenta que a desinformação no período de campanha, por exemplo, não visa pedir para não votar num determinado partido, mas antes “criar a dúvida” sobre o voto. Trata-se da “gestão da criação da dúvida”, salientou.

Por sua vez, os partidos já perceberam a importância das redes sociais nas campanhas eleitorais, na forma como “alcançar o maior número de pessoas”. Entre tentar estabelecer um tipo de relação directa com o público, a publicar “posts” da campanha ou a comunicar com humor nas redes sociais, os políticos apostam em várias abordagens para chegarem aos seus eleitores através da Internet.

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