Velho Museu dos Coches com vidros partidos, novo sem elevadores principais há mais de três meses

Directora pediu verba para substituir janelas no picadeiro em 2017. Do outro lado da rua, no edifício inaugurado em 2015, visitantes com mobilidade reduzida têm de usar elevadores de serviço.

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O novo edifício do Museu Nacional dos Coches foi inaugurado em 2015 e custou mais de 40 milhões de euros DRO DANIEL ROCHA

Início da tarde no Museu Nacional dos Coches, em Lisboa. Os turistas atravessam a praça em casais ou em grupos saídos dos autocarros estacionados na entrada virada para a Avenida de Brasília. Passam indiferentes às duas charretes prontas a dar um passeio por Belém que ali esperam clientes, aproveitando as sombras do grande edifício desenhado pelo brasileiro Paulo Mendes da Rocha e pelo português Ricardo Bak Gordon. Na bilheteira não há filas mas, lá dentro, as duas grandes naves da exposição permanente têm muita gente. Ouvem-se guias turísticos a falar alemão e francês. Acabado de entrar, um americano tenta usar, em vão, a aplicação que dá acesso a uma verdadeira visita guiada ao museu. “Nem sempre o wi-fi funciona”, explica um dos vigilantes. “De manhã estava bom.”

No piso térreo, mesmo à entrada, anuncia-se esta app junto aos dois enormes elevadores concebidos pelos arquitectos que agora estão parados. “Um está avariado desde Maio e o outro desde Junho”, informa a funcionária. Para aceder à exposição permanente no piso 1 é preciso subir as escadas que só deviam ser usadas em emergências. “É uma situação complicada, insustentável, que estamos a tentar resolver com os arquitectos”, diz ao PÚBLICO a directora do museu, Silvana Bessone, reconhecendo que “o Verão foi muito difícil” e que os operadores turísticos têm vindo a queixar-se. “A Direcção-Geral do Património Cultural [DGPC] está a acompanhar a situação e está também a resolver o problema da biblioteca, onde ainda não temos Internet, absolutamente necessária para os investigadores externos que aqui vêm trabalhar e fazer as suas pesquisas.”

Sempre que chega um visitante com mobilidade reduzida, é necessário que um segurança o reencaminhe para um elevador de serviço, onde só cabe uma cadeira de rodas de cada vez, explica Bessone. “Os operadores turísticos vêm fazer a visita [com os seus clientes] com o tempo contado. O nosso museu é muito grande e todas estas coisas atrasam. Além disso, esta solução de recurso tem outro inconveniente – põe quem vem de fora em áreas de acesso reservado, junto ao corredor das reservas, onde só deviam entrar funcionários da casa.”

O museu tem outros dois elevadores públicos com ligação ao piso zero, muito mais pequenos (com uma lotação de 13 pessoas, enquanto nos principais é de 70), junto à entrada para o auditório, mas não dão acesso directo ao primeiro andar. E mesmo assim só um deles está a funcionar – o outro também está avariado. Ambos levam ao piso 2, onde ficam os serviços administrativos e o espaço que deveria ser um restaurante (o museu foi inaugurado há quatro anos mas não foi ainda lançado o concurso para a concessão) e que hoje é usado para exposições temporárias. Quem quiser chegar à exposição permanente a partir do segundo andar terá de aí procurar outro elevador que não desce até ao piso zero, situado na zona dos passadiços que permitem a quem os percorre ver a colecção de cima, como se fosse um pássaro ou um drone. “Para quem tem dificuldade em andar, os dois elevadores ficam longe um do outro”, reconhece a directora. E esta entrada só está aberta ao público quando há exposições temporárias.

Manutenção em permanência

Aos problemas no novo edifício, que custou mais de 40 milhões de euros e tem sido alvo de controvérsia desde o seu nascimento, somam-se os do antigo picadeiro que durante cem anos acolheu esta singular colecção nacional, uma das melhores do mundo no seu género.

Os dois elevadores principais que dão acesso directo ao piso 1, o da exposição permanente
Um dos elevadores junto ao auditório
Alçado do antigo picadeiro real que dá para a Calçada da Ajuda
Há várias janelas com vidros em falta ou partidos
Fotogaleria
Os dois elevadores principais que dão acesso directo ao piso 1, o da exposição permanente

Sobe-se a Calçada da Ajuda e, logo à primeira vista, nota-se que as janelas do velho museu, ainda hoje visitável, precisam de uma intervenção. Há madeiras apodrecidas, tinta a destacar-se e vidros em falta, partidos ou remendados com fita-cola. Silvana Bessone informou a DGPC em 2017 de que era preciso proceder à substituição de vidros e de algumas janelas, trabalhos orçados em cerca de 40 mil euros, mas até agora nada foi feito. “Sabemos que os recursos para os museus são muito escassos e que em 2000 e em 2016/17 tivemos obras na cobertura, mas precisamos mesmo de tratar das janelas do picadeiro. Precisamos, aliás, de uma equipa de manutenção em permanência para trabalhar nos dois edifícios.” Pela sua dimensão e pela sua diversidade, os Coches têm características que assim o exigem, acrescenta.

As obras na cobertura puseram fim às infiltrações que deixaram “com fendas” os três painéis ovalados do tecto da galeria principal e “danificadas” algumas das pinturas sobre tela do tecto da galeria superior, todos da autoria de José Malhoa e de António da Conceição e Silva. “Também é muito importante restaurar estas pinturas”, diz Silvana Bessone, que gostaria de vir a instalar no picadeiro uma grande exposição permanente dedicada ao cavalo e à arte equestre, para a qual anda à procura de mecenas.

Com 320 mil visitantes em 2018, ano em que houve uma quebra acentuada no número de visitantes no conjunto dos 23 equipamentos da DGPC, o dos Coches continua a ser o museu mais visitado deste universo. Está, no entanto, ainda muito longe do um milhão/ano de que chegaram a falar alguns responsáveis da Cultura.

O PÚBLICO tentou ao longo de todo o dia obter reacções junto da DGPC, sem sucesso.

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