Legislativas: há 393 candidatos que se comprometem a tentar pôr o país a pedalar

Associação Mubi enviou questionário a todos os partidos, pedindo respostas individuais. Que mostram, no conjunto, que as forças com assento na Assembleia da República assumem a importância da mobilidade ciclável.

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Margarida Basto

Quase 400 candidatos à Assembleia da República aceitaram o repto da Mubi – Associação para a Mobilidade Urbana em Bicicleta, e responderam a um questionário para aferir o seu grau de empenhamento na mudança de paradigma de um país onde dois terços das deslocações ainda se fazem de carro. O conjunto das respostas, que a Mubi analisou individualmente e depois agregou, mostra que, entre as forças já com representação parlamentar, o comprometimento com este tema varia entre os 75% (CDS) e os 83% (BE e PAN), o que deixa o presidente desta organização, Rui Igreja, esperançado num incremento da actividade legislativa que ajude o país a pedalar mais.

Os últimos anos da actual legislatura trouxeram novidades importantes para a mobilidade ciclável, tendo uma delas, o alargamento do seguro escolar aos percursos casa-escola feitos em bicicleta, que foi aprovada pelo Governo já em Setembro, ultrapassado até este trabalho da Mubi, que numa das questões propunha que os candidatos hierarquizassem a importância dada a um conjunto de medidas nas quais se incluía esta, que era há muito defendida pelas associações do sector.

Juntamente com o questionário, os candidatos foram convidados a subscrever o compromisso “Pedalar para Todos”. Apenas cinco dos 398 respondentes não assinaram por baixo. A CDU, que centralizou as respostas ao inquérito, vinculando todos os membros das suas listas, também aceitou o repto: “Comprometo-me a apoiar a causa da mobilidade em bicicleta durante o mandato parlamentar 2019 – 2023, com o objectivo de aumentar o número de pessoas que se deslocam em bicicleta e melhorar as condições para a sua utilização, em termos de segurança, infra-estruturas, acessibilidades e conveniência”.

Rui Igreja explicou ao P3 que o questionário se baseou numa experiência recente, nas Eleições Europeias, em que a Mubi divulgou entre os candidatos portugueses um inquérito da European Ciclists’ Federation. Agora, face à inexistência de uma lista de contactos dos candidatos, as perguntas foram enviadas a 4 de Setembro às direcções dos 21 partidos que concorrem às Legislativas, pedindo-se que estes os enviassem aos membros das respectivas listas, com o objectivo de perceber a sensibilidade de cada um deles para o tema. Muitos partidos pequenos não responderam, outros empenharam-se, como o Livre, que superou, com as suas 95 respostas, quase todas as forças com presença no Parlamento, que, com o BE à frente (111 respondentes), colaboraram com esta iniciativa da associação em graus variáveis, com mais respostas à esquerda que à direita.

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“Tendo em conta que Portugal é o segundo país da União Europeia em que mais se utiliza o automóvel, com cerca de dois terços das deslocações e 89% dos passageiros-km feitos por este modo, e dos que menos utiliza os transportes públicos e a bicicleta”, a Mubi questionou os candidatos sobre qual deveria ser a ambição do país, em termos de redução de quota do transporte individual. De acordo com as respostas a esta questão, nota a associação, 89% dos candidatos consideram que a redução da quota modal do automóvel em Portugal até ao fim do mandato parlamentar (2023) deve ser de pelo menos 5%, sendo que 51% defendem que a redução até 2023 deve ser mesmo superior a 10%.

Um olhar mais minucioso permite perceber que os partidos mais ambiciosos, neste combate ao predomínio do automóvel, são a CDU (resposta centralizada), o BE o PAN e o Livre, com o CDS, o PSD e mesmo o PS a dividirem-se mais por posições mais e menos ambiciosas. O mesmo acontece numa outra questão em que se pedia a hierarquização de várias medidas, e na qual a proposta de redução a 30 km/h da velocidade máxima em zonas urbanas mereceu menos entusiasmo no centro e na direita do que à esquerda.

Este trabalho da Mubi não pode ser lido como uma sondagem, tendo em conta que a associação não teve qualquer controlo sobre a amostra. Rui Igreja explicou ao P3 que o objectivo passava, em parte, por pôr os candidatos a reflectir sobre estas questões durante os dez minutos necessários para preencher o questionário, e até admite que boa parte das quatro centenas que responderam já tinham sensibilidade prévia para o tema. E, aliás, numa pergunta pessoal, 5% dos inquiridos dizem que usam a bicicleta como meio de transporte todos os dias. Do total, 40% assumiam, contudo, que nunca punham os pés nos pedais.

O presidente da Mubi mostrou-se satisfeito com o envolvimento conseguido e diz esperar que esta legislatura se traduza numa melhoria das condições para o uso da bicicleta no dia-a-dia, opção fundamental para a diminuição da pressão automóvel no espaço urbano e para a diminuição das emissões de gases com efeito de estufa do sector dos transportes. “Há muito a fazer para aumentar as condições de segurança dos utilizadores de bicicleta, condição essencial para que mais gente faça a transição”, insiste o dirigente associativo, assinalando que 54% dos inquiridos assumiram que “usariam muito mais" a bicla se se sentissem mais seguros. Rui Igreja insiste, ainda assim que, para além do trabalho que o Parlamento e o futuro Governo possam fazer, a mudança depende, muito, das escolhas do poder local.

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