O ministro que sai e o “fresquinho da costa” que fica atacam a direita

Vieira da Silva elogiou António Costa que elogiou Pedro Nuno Santos que elogiou Vieira da Silva...

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Francisco Romão Pereira

Num distrito onde é muito difícil ao PS vencer, António Costa chamou dois dos seus ministros: um que sai, Vieira da Silva; e outro que fica “felizmente fresquinho da costa para muitos e bons anos”, também conhecido por Pedro Nuno Santos, o cabeça de lista por Aveiro. E os dois, um deles com um discurso mais ideológico, trataram de sublinhar as diferenças em relação à direita, sem nunca criticarem os partidos de esquerda parceiros de coligação: BE e PCP.

Aliás, Pedro Nuno Santos, que foi secretário de Estado dos Assuntos Parlamentares, responsável pela relação com os parceiros, preferiu, desta vez, deixá-los de fora do discurso, passando os cerca de vinte minutos a marcar diferenças ideológicas face a PSD e CDS que acusou de terem uma “agenda escondida”. O cabeça de lista por Aveiro, reforçou neste seu discurso a sua visão de “comunidade” para distinguir o partido e o Governo de que fez parte de um Governo de direita. Começou por dizer que o PS tem uma “uma visão diferente de sociedade” em relação à direita. “Não quero com isto dividir o país entre os bons e maus” ou assumir “superioridade moral”, mas, reforçou, enquanto os socialistas pensam numa lógica de “comunidade”, a direita prefere o “individualismo” e “competição” e dá “centralidade ao mercado”.

Para Pedro Nuno essa lógica aplica-se aos programas eleitorais: “Quando o PSD e o CDS defendem uma redução agressiva de impostos, o que não dizem é que, para que não haja desequilíbrios nas contas públicas, têm de pôr os portugueses a pagar na saúde e na educação”. Esse é “o verdadeiro programa” dos dois partidos, que pretendem, reforçou, “reduzir impostos para amanhã terem a justificação de entregar estes sectores ao negócio dos privados”.

A ideia vinha acompanhada de um caso de um conhecido que tinha um problema auditivo e precisava de um ouvido biónico. Foi ao privado e “pediam-lhe 70 mil euros só pelo equipamento”. Mas o “Serviço Nacional de Saúde, o hospital Pediátrico de Coimbra, financiado por todos nós e mais por quem tem mais, fez a intervenção sem cobrar nada”, contou.

É este o caminho que quer: “Defendemos uma sociedade assim, em que quem tem mais contribui mais para termos uma sociedade mais forte. Os problemas de uns são também os problemas de todos”.

Não é novidade nos discursos de Pedro Nuno uma carga mais ideológica, voltou a fazê-lo e sempre como contraponto com o que defende a direita que passou “os quatro anos a dizer que não houve reformas”. “Não fizemos as reformas que a direita queria que fizéssemos” na lógica do “cada um por si”. Ou seja, a direita, disse, “não teria aumentado o salário mínimo, não teria diminuído o IRS, não teria tornado os manuais escolares gratuitos, não teria os passes mais baixos. Estas são as nossas reformas, não são as deles. São as reformas de que nos orgulhamos”, finalizou. “Confirmou-se que era possível acabar com a politica masoquista e pôr fim à politica fatalista que nos obrigava a manter baixas as nossas expectativas”.

Ao longo do discurso não se referiu ao tipo de Governo que defende, nem às ligações e diálogo que acha que devem ou não existir à esquerda. Defendeu apenas um “PS forte, porque nenhuma destas conquistas se fará sem o PS”. Para Pedro Nuno Santos, é preciso um “resultado que dê a força e legitimidade” ao PS para “travar as lutas” que faltam.

Único candidato a “primeiro-ministro da esquerda”

A síntese da mensagem da noite acabou por ser dada por Vieira da Silva que resumiu: “Só o PS tem um candidato da esquerda a primeiro-ministro. Só o PS garante um Governo de progresso”

Vieira da Silva fez diferente de Pedro Nuno Santos. Preferiu construir o discurso em torno das diferenças que separam o PS do PSD e do CDS começando pelas medidas tomadas na área sob sua área: “Pouca ou nenhuma outra dimensão é tão relevante, talvez nenhuma diferença seja tão marcante como esse quarto de milhão de emprego criados, mais do que aquilo que o PPD e o CDS prometiam”, disse o homem que decidiu abandonar a política activa e que já mereceu, nesta campanha dois elogios do primeiro-ministro. Vieira da Silva haveria de retribuir, dizendo que Costa é um “grande primeiro-ministro”.

Mas antes, os ataques à direita que diz não terem ideias nem programa: “Os partidos hoje dirigidos por Rio e Cristas não têm nada de novo a propor aos portugueses”. E lembrou as promessas e pedidos de “reforma da Segurança Social e do sistema de pensões”, perguntando pelo tão falado “corte de 600 milhões de euros” que era uma das medidas do Governo PSD/CDS. “Onde está esse corte? Esqueceram? Já não acreditam nele? Acham que já não é preciso? Se acham que não é preciso, estão a fazer o maior elogio ao Governo do PS”, disse.

Por falar em elogios, houve-os para todos os gostos, neste triângulo. Além de Costa se referir aos seus ministros, os dois acabaram por se elogiar. Pedro Nuno Santos terá sido o único a passar pelo palco sem individualizar em Mário Centeno o sucesso do Governo. Falou dos “bons ministros a fazer o seu trabalho, nas finanças, saúde e educação” e na Segurança Social, dizendo que o PS “teve a sorte” de lhe calhar “o homem que conseguiu uma obra fantástica” que foi preservar a Segurança Social.

Mas a “fórmula de sucesso deste Governo não foi fazer de forma isolada a redução do défice ou ao aumento das prestações sociais; a fórmula de sucesso foi conseguiu conciliar o rigor nas contas públicas, as contas certas e o investimento nas pessoas, nos rendimentos, nas prestações sociais”. Tarefa que só foi possível por haver um “líder com capacidade de articular, coordenar, construir este equilíbrio que é a verdadeira fórmula de sucesso desta governação. Esse líder é António Costa”, disse.

Já Costa sintetizou os elogios aos dois ministro: “É uma honra, um luxo ser primeiro-ministro de um Governo que juntou Vieira da Silva e Pedro Nuno Santos. Duas gerações diferentes, um [deles] um pouco mais novo do que eu, outro um pouquinho mais velho. Um que decidiu por fim à sua carreira politica no activo e o outro que “felizmente está aqui fresquinho da costa para muitos e bons anos ao serviço do país”.

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