Portugal continua a consumir mais água do que deve

A Associação Natureza Portugal e a World Wide Fund for Nature chamam a atenção para as crescentes “situações estruturais de escassez” de água, especialmente no sul do país. O cenário pode agravar-se.

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RUI GAUDENCIO

Portugal continua a consumir mais água do que devia, pondo em risco a adaptação às alterações climáticas, alertou nesta terça-feira a Associação Natureza Portugal (ANP), uma organização não-governamental portuguesa que trabalha em associação com a World Wide Fund for Nature (WWF). O aviso é deixado quando se comemora o Dia Nacional da Água, lançando também um relatório sobre a Vulnerabilidade de Portugal à Seca e Escassez.

No documento, a ANP/WWF frisa que os ecossistemas aquáticos saudáveis são os melhores aliados para enfrentar o aumento das temperaturas e menos chuvas, pelo que preservá-los deve ser “uma prioridade”.

A ANP/WWF chama a atenção para as crescentes “situações estruturais de escassez” de água, especialmente no sul do país, e diz que o cenário se pode agravar.

O país não pode gerir a falta de água com reacções a emergências quando há secas mas tem de se focar na redução de consumos e aumento da eficiência no uso da água, diz a ANP/WWF, salientando que “conservar e reabilitar ecossistemas aquáticos saudáveis é a primeira arma de defesa contra os impactos das alterações climáticas”.

No relatório sobre a vulnerabilidade de Portugal à seca a associação propõe que os empresários integrem a gestão da água na cadeia de valor da empresa e que diversifiquem os abastecimentos, incluindo reutilização de águas residuais.

Aos decisores políticos sugere que também diversifiquem as origens de abastecimento, fomentem a eficiência de regadios, e condicionem a atribuição de subsídios agrícolas ao bom uso da água.

E aos cidadãos que reduzam os consumos em permanência e optem por consumir produtos de reduzida pegada hídrica.

A ANP/WWF e a WWF de Espanha fazem também um comunicado conjunto no qual reforçam que os governos da Península Ibérica devem adoptar "uma gestão preventiva das secas”, em detrimento da actual "gestão reactiva baseada em medidas urgentes e isenções excepcionais”.

As duas organizações salientam a necessidade de se apoiar uma cultura de poupança e uso eficiente da água que se estenda a todos os utilizadores.

Em relação à seca, a ANP/WWF alerta que no Alentejo e Algarve já há “impactos significativos ao nível da perda de rendimentos nas colheitas de Outono/Inverno e pastagens, e dificuldade na alimentação de gado”.

Afonso do Ó, especialista da ANP em água, diz, citado também no comunicado, que “as autoridades hídricas devem deixar de financiar novos regadios em zonas de escassez, e globalmente sempre que não garantam sistemas de uso eficiente e frugal da água, bem como continuar a melhorar a monitorização da água, para permitir uma melhor prevenção dos impactos da seca com base na tomada de decisões informada.”

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